No próximo dia 29
teremos a votação da lei da eutanásia. A propósito, recordei um livro -“O
Homem em busca de um sentido”- escrito 1945 por um médico conceituado-Viktor
Frankl- sobrevivente de 4 campos de extermínio nazi. É um fortíssimo tratado
sobre o sentido da vida. Com a autoridade que a experiência confere, o
Dr. Frankl leva-nos à raiz do sofrimento, da morte e da vida. Para quem hoje se
questiona sobre a eutanásia, o alerta deixado neste livro é devastador. “Se um
paciente não fosse claramente mais do que uma máquina que não pode ser
reparada, a eutanásia seria justificada”. E continua “um doente incurável pode
perder a utilidade mas retém, ainda assim, a dignidade de um ser humano. Se uma
pessoa não for sabedora desta diferença e mantiver que o valor de um indivíduo
resulta somente da sua atual utilidade, então, podem acreditar, apenas a
incongruência pessoal a levará a não defender um regime de eutanásia semelhante
ao de Hitler, ou seja, um programa de mortes «piedosas» de todos quantos
perderam a utilidade social, seja por causa da idade avançada, de doenças
incuráveis, de deterioração mental, ou de qualquer outra incapacidade.”
Passaram
sete décadas, encontramo-nos em circunstâncias diferentes, e “um programa de
mortes «piedosas»” está em vias de se tornar lei. E que semelhanças! “Havia um
padrão de comportamento [dos prisioneiros] ao qual se referiam como
«desistite». O sentido da vida tinha-se desvanecido. Uma regra estrita do campo
proibia quaisquer esforços para salvar um homem que tentasse o suicídio”. Hoje,
a lei em votação ainda não proíbe o esforço para ajudar a viver, mas, na
prática, dificulta-o já que a força da lei aplaude a “ajuda a morrer”, mostra
que é aceitável matar, ou mais docemente, eutanasiar um paciente incurável já
que não é “claramente mais do que uma máquina que não pode ser reparada”.
Para o Dr. Frankl,
“sofrer sem necessidade é masoquista. Se o sofrimento for evitável, é
necessário remover a sua causa, seja ela psicológica, biológica ou política.
Mas, o sentido da vida é possível até mesmo a despeito do sofrimento”. Hoje,
ninguém ignora a eficácia dos cuidados paliativos. A opção pela eutanásia
justifica-se? não! mas escasseiam as “pessoas decentes” capazes de
encarar o ser humano “não como alguém em busca do bem-estar, mas antes à
procura de uma razão para ficar feliz.” e que estejam dispostas a lutar por
valores, e cuidar cada um.
Ler “O Homem em busca de um sentido” devolve-nos a
esperança: “existem pessoas decentes. É certo que estas
constituem uma minoria. E, contudo, encaro esse facto como um desafio a
engrossar a minoria. Pois o mundo está em muito mau estado, mas tudo se tornará
ainda pior se cada um de nós não der o seu melhor. Por isso, estejamos atentos
- e atentos num duplo sentido: desde Auschwitz sabemos do que o Homem é capaz.
E desde Hiroshima sabemos o que está em jogo.”
Já lhe chamaram uma
“verdadeira onda de morte”. Uma sociedade que perde a noção do valor do ser
humano será inevitavelmente guiada pelos únicos valores de ideologias meramente
materialistas – chamem-se elas de esquerda ou direita - e “tudo se tornará
ainda pior se cada um de nós não der o seu melhor”.
Rosa Ventura |
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