Quantas vezes andamos à volta de
um assunto que não se resolve, que parece, em simultâneo, entrecruzar-se com
outros. Encontra-se pendente no nosso inconsciente. Não que não o saibamos, mas
unicamente faltam-nos os mecanismos e uma vontade firme para o resolver e
ultrapassar. E assim vai-se adiando, até que um dia temos forçosamente de o
enfrentar sob pena de continuar a impedir-nos de prosseguir o nosso caminho
rumo a um futuro que todos almejamos que nos traga paz e felicidade. Ou seja,
como uma amiga alguma vez referiu, temos de ser reforçados, quando por qualquer
motivo, que nos é alheio, não possuímos, conforme gostaríamos o dom da
fortaleza para esse caso específico. A dificuldade, muitas vezes, está em
sermos capazes de dar esse passo em frente, ou seja, de pedirmos essa ajuda ou
aconselhamento de que carecemos de momento, que sentimos que nos impede de
encontrar a almejada paz.
Recentemente, tive a oportunidade
de assistir a uma conferência sobre a vida de um Santo ministrada por um
historiador. Como foi extremamente gratificante assistir ao seu percurso, ou
seja, ao seu processo de crescimento espiritual, às suas dúvidas, ao
desenvolvimento de uma instituição da Igreja Católica, cuja missão consiste em
difundir a mensagem de que o trabalho e as circunstâncias habituais podem ser
ocasião para um encontro com Deus, para o serviço aos outros e para melhorar a
sociedade. A sua persistência e vontade inabalável, constituem um exemplo, de
quem acredita que está a fazer a vontade de Deus, comparando-se a um pobre
passarinho de voo curto. Uma águia arrebatou-o; e entre as suas garras poderosas, o passarinho sobe, sobe muito alto, por cima das montanhas da terra e dos
picos de neve, por cima das nuvens
brancas, azuis e rosas, mais acima ainda, até olhar de frente ao sol… E então
a águia soltando o passarinho, diz-lhe:
“Anda, voa”! (Andrés Vázquez de
Prada, O Fundador do Opus Dei). Em
poucas palavras foi descrita a vida de um grande santo (S. Josemaria) cujo itinerário de crescimento interior é por um lado
fonte de amor e via crucis de
sofrimento, para uma progressiva identificação com Cristo. A sua santidade é
patente e ergue-se, de modo impressionante, à nossa vista. Como refere o
versículo dos Gálatas 2,20 “assim, já não sou eu que vivo mas é Cristo que vive
em mim”.
E os milagres acontecem… De
repente, quando menos esperamos, faz-se um clique e por qualquer razão, tudo se
torna mais claro. Como foi possível não termos visto antes o que Deus tinha
reservado para nós, desde a plenitude dos tempos. Quantas vezes, teremos
pronunciado a frase “Ut videam”, (Senhor,
que veja), ou seja, o que Deus quer para mim? Que me faça compreender, qual o meu
caminho na vida. Sempre com a esperança de perceber que o que nos inquietava não
era então por nós entendido. Quando percebemos a mensagem, somos invadidos por
uma alegria enorme. Como estava tudo tão claro agora. Chegou o momento, de rirmo-nos
de nós próprios, da nossa infantilidade. Disse Santa Teresa Benedita da Cruz: “Quanto
mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o nosso coração à luz
que vem do alto”.
A par da fé, somos agora possuidores de uma
esperança e de um otimismo sobrenatural, para colocar todos os meios
necessários ao nosso alcance no sentido de fazer com que se cumpra a vontade de
Deus. Contamos com a oração de inúmeras pessoas que nos ajudam, ou seja, a
Comunhão dos Santos. Como uma amiga costuma referir: “O passado está no
passado, pisado”! Eu acrescentaria: “Nesta estrada longa e sinuosa, coberta de
flores, de pedras e de agraços, caminhando sempre sobre o tapete da incerteza, há
uma porta bem estreita, por onde se torna difícil passar. O melhor é estarmos
preparados com os sacramentos que Deus colocou à nossa disposição como canais
da graça do mesmo Deus.
Acontece ainda que possuímos uma
grande intercessora no Céu, a Virgem Maria, qual candeia de azeite reluzente
que ilumina e guia os seus filhos, durante este nosso peregrinar na terra. Como
gostaria, minha mãe do Céu, de ser mais um botão de rosa perfumado, depositado
a teus pés, louvando-te, querendo seguir o teu exemplo, que refere: ”Maria, guardava
tudo no seu coração”. Gostava ainda de ser como uma vela que arde, que se
desgasta no serviço aos outros. Como se fosse uma “burrinha” que carrega os
fardos, os sacrifícios, os desgostos, os muitos pesos da vida, com alegria,
ligeireza, bom humor, em prol do bem-estar dos nossos irmãos, sempre com os
olhos colocados na eternidade.
E há muitos e bons exemplos por
esse mundo fora de pessoas que se entregam completamente a fazer o bem. Tenho
por madrinha do Sacramento do Crisma, uma Irmã Franciscana, a quem muito devo.
Graças aos seus ensinamentos, à sua doçura, à sua amizade, de alguém cuja vida foi
totalmente consagrada a Deus, aprendi a ter uma enorme admiração, por quem se
decide abraçar a fé, dedicando-se aos outros através de inúmeras obras sociais de
bem-fazer, bem como dedicadas à oração. Que olhar tão transparente, tão
afetuoso, vendo unicamente o bem no próximo. Sentia mesmo que gostava que a
fosse visitar, dizendo carinhosamente quando me via: “Quando se gosta de
alguém, gosta-se mesmo”! Nunca me senti tão bem-vinda e acolhida!
Este episódio trouxe ao
pensamento uma outra situação vivenciada em que me encontrava em risco de
perder a vida, há muitos anos atrás. Precisava com urgência de várias
transfusões de sangue. Só que o meu tipo de sangue é raro, o que dificultava a
situação. Mas apareceu um doador, que com grande altruísmo, me facultou o
sangue necessário. Nunca vi a pessoa em questão, nem sei quem é. Soube unicamente
mais tarde que o doador tinha sido um sacerdote franciscano. E mais não soube até
aos dias de hoje. Mas fica aqui expresso o meu agradecimento. Há tantos modos
de ajudar alguém sem pedir nada em troca!
Concluo com uma bonita frase de Santa
Madre Teresa de Calcutá: “Não devemos permitir que alguém saia da nossa
presença sem se sentir melhor e mais feliz”.
Maria Helena Paes |
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