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domingo, 13 de agosto de 2017

A Primeira grande Guerra, a guerra que acabou com a paz no mundo

Guerra, um concentrado do mal, um símbolo real da mundialização da sua monstruosidade, do horror e terror a nível planetário.

O recurso à mentira sistemática para “fabricar uma verdade” e (re) escrever a história; a aniquilação e a morte do ser humano, o desprezo total pela dignidade da pessoa, com um crescente fenómeno colectivo de ódio e de violência que se apoderou de todos os povos, tornaram-se uma constante.

«A Grande Guerra e a beligerância forçada e impopular que a marcou continuam hoje envoltas em nevoeiro. Passaram cem anos, mas por vezes parece que foi um tempo que passou sem anos, tais são as semelhanças com o passado.

Porque existe este nevoeiro, esta censura negra que tudo tolda, este medo de olhar para o passado com os olhos da lógica? O nevoeiro só existe porque muitos o querem manter. (…)

A Grã-Bretanha tudo fez para evitar a participação portuguesa, pelo simples motivo que nada de útil lhe poderia trazer.

Londres várias vezes disse a Lisboa, de forma muito clara, que não queria a beligerância nacional, que se Portugal entrasse na guerra o faria por sua conta e risco. Depois da decisão consumada, Londres acrescentou mais: não queria tropas portuguesas em França ou em qualquer outro teatro europeu; Portugal devia limitar-se a defender o seu território, nada mais lhe sendo exigido. Para os guerristas não era suficiente. Pensavam que só a participação na luta em França lhes permitiria obter os trunfos políticos que desejavam». 

E partiram para a guerra…

«Toda a preparação do envio do CEP (Corpo Expedicionário Português) decorre com um moral péssimo e uma desorganização tremenda, que Norton de Matos procura contrariar com extrema centralização. (…)

Acresce a isto que os militares britânicos em França ficaram aterrorizados com a chegada dessa força que sabiam não ser um Exército, mas sim uma `multidão indisciplinada´, minada de clubes políticos, com divisões e clivagens a todos os níveis, sem empenhamento e sem qualquer entusiasmo por aquela beligerância, tal como acontecia com o conjunto do povo português. (…) 

Os britânicos não tardaram a confirmar os dotes de Gomes da Costa como líder militar, o único general do CEP que tem alguma estima e prestígio entre os soldados. (…)

David Magno era igualmente um destes `líderes militares´ naturais, muito cedo identificado pelos britânicos enquanto tal. Era um dos oficiais que mantinha um prestígio natural junto dos seus homens, que se preocupava com eles, que procurava aprender com os britânicos, que lutava para que a sua unidade tivesse as melhores condições, que liderava da frente e pelo exemplo, sem se preocupar com as intrigas e os comentários provocados por esta atitude anormal. (…)

É difícil explicar o que aconteceu a David Magno. (…) Quando a `má política‘ está no comando das operações, quando o clima vigente é marcado pela confusão, desmoralização, divisão…tudo pode acontecer. Até pode acontecer que um dos heróis do 9 de Abril, acabe por ser um dos poucos oficialmente acusado de …cobardia». (1)

100 Anos depois de LA LYS, a reposição da Verdade 

Uma longa odisseia começou então e manteve-se por décadas. As páginas da História foram escritas ao sabor dos interesses, um tanto vergonhoso para a dignidade do homem e para a honra militar. O mito e a invenção sobrepuseram-se à realidade, num rasgo de má-fé, para intencionalmente corromper o bom nome e as meritórias acções. Sinais dos tempos porém, se aos militares a ordem é de obedecer e aos políticos o dever é de não errar, aos historiadores impõe-se a nobre missão de buscar e repor a Verdade, essa que a realidade nem sempre desvenda porque sobre ela paira o manto pesado da difamação, que é camuflada pela ausência de bons princípios, com estratégias eticamente pouco recomendáveis, senão, mesmo condenáveis. 

A esta epopeia se lançou Miguel Nunes Ramalho que com tenacidade, empenho, singeleza e mestria conduziu a bom porto aquelas páginas da História que tanto tinham ensombrado a boa reputação dos que foram alvo da mentira e da calúnia. 

LA LYS 1917-1918 – CAPITÃES BENTO ROMA E DAVID MAGNO – MITO E REALIDADE, um excelente livro recentemente editado pela FRONTEIRA DO CAOS EDITORES.

Maria Susana Mexia



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