o peixe vermelho
do meu tanque
rigorosamente oriental
sonhei com ele duas a três vezes
como se um só acenar de atenção —
do seu ventre nascer vinham
a nadar silenciosos
outros muitos peixes
em medidas também grandes
a cor deveras cor do escarlate
pelas águas esverdeadas mornas
debaixo da árvore ondulante.
pudera estar sentado na leitura estival
e se assim seria a felicidade a divagar
na âncora do naufrágio poético.
mas onde estava eu?
agora passeio pelo caminho tantas vezes percorrido
e lembro-me dos peixes navegadores misteriosos
ao deparar com as pombas
batem asas sem avançar no espaço
prometo aos que me seguem mudos e em expectativa
não mais pensar em mim diante do fazer
e a sofrer e a morrer
disposto a entregar as mãos.
começo a ouvir os cânticos ao longe
enquanto visto a túnica dos sacrificados
hão-de aproximar-se muito mais eu deles
nestas alturas do profundo sem querer saber nada
daquelas coisas que me fizeram parar antes do aviso —
transformado num sopro simples e simples simples
em tempo tão completo o contrário não se sustenta.
Mário Cabral
Professor, filósofo, escritor, poeta e pintor
Falecido em 10 de Agosto de 2017
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