No contexto de desumanização e de violência generalizada em que vivemos, o objetivo de toda a educação, sobretudo de uma educação integral, não pode ser outro que o de recuperar a dignidade das pessoas e de ensinar a viver humanamente.
Educação para despertar as pessoas e ajudá-las a olhar e ver, para tirar-lhes as vendas dos olhos, para produzir compaixão e misericórdia. Educação que recupere a aventura apaixonante de chegar a ser pessoa, de voltar a pôr na moda o ser humano… Como em 1999 afirmava Fernando Savater: “ A principal tarefa da humanidade é produzir mais humanidade. O mais importante não é produzir mais riqueza ou desenvolvimento tecnológico… mas antes saber que o fundamental da humanidade é produzir uma humanidade mais consciente dos requisitos do ser humano”.
É esta a tarefa essencial da educação, uma educação que desperte o ser humano que todos levamos dentro, nos ajude a construir a personalidade e a integrar a nossa vocação no mundo. Trata-se de desenvolver a semente de si mesmo, de promover não já o conformismo e a submissão, mas sim o dar asas à liberdade. Isto é, trata-se de aprender a viver como seres humanos, de aprender a amar e a ser livres, de despertar uma nova consciência.
Viver é fazer-se, construir-se, inventar-se, desenvolver os talentos e possibilidades, chegar a ser autenticamente livre. Deram-nos a vida, mas não no-la deram feita. Nas nossas mãos está a possibilidade de gastá-la na banalidade e na mediocridade, ou enche-la de plenitude e de sentido.
Podemos aumentar a violência ou ser construtores de paz; viver negando e destruindo a vida ou viver defendendo a vida, dando vida.
Reconhecemos que atualmente são poucos os que se atrevem a apresentar-se com seriedade e radicalidade a fazer o caminho da sua vida e a percorre-lo com honestidade e responsabilidade. Pensam que viver é seguir rotineiramente os caminhos apontados pelas modas, as propagandas, o mercado, os costumes…
Mas a educação verdadeira e humanizadora que tantos necessitamos, deve ensinar a viver, a defender a vida, a assumi-la como tarefa, como projeto. Educar, é ensinar a criança, o jovem e cada aluno a conhecer-se, valorizar-se e a empreender com honestidade o caminho da própria realização. O único conhecimento realmente importante é o conhecimento de si mesmo: “conhece-te, quer – te, sê tu mesmo; atreve-te a viver, a amar e a ser livre”, que se deve converter no objetivo essencial de todo o autêntico educador….
É inegável que num mundo habitado por humanos, tudo o que se faça com o homem é feito, concomitantemente, com a sociedade. O mundo é o que é o homem, e o homem é o que é o mundo; muitas vezes de modo lamentável.
Se falamos em humanizar o homem, falamos concretamente do momento em que a educação consegue este desenvolvimento pleno do seu pensamento e da sua liberdade, isto é, quando a educação contribui para o crescimento do propriamente humano, as capacidades percetuais: intelecto e vontade.
Um homem que tenha desenvolvido este seu aspeto prioritário, será o cidadão que mais tarde produzirá cultura, transformará a sociedade e construirá a história.
A sociedade edifica-se com base em homens bem formados, conhecedores da sua dignidade, sabedores de que o que façam hoje, será o legado que receberão as gerações vindouras.
O resultado de tal atitude é a criação de cultura que em sentido geral significa tudo aquilo com que o homem afina e desenvolve as suas múltiplas qualidades de alma e corpo, submetendo o criado mas procurando, em cada momento, torná-lo mais humano. O resultado não será imediato, mas despontará o dia em que este comece a vislumbrar-se, até que o sol de uma completa renovação brilhe radiante sobre uma sociedade nova, habitada por homens novos…
A propósito, ressaltava o Arcebispo de Valência, Cardeal Agustin Garcia – Gasco, na sua habitual carta semanal: “humanizar a sociedade é urgente. Da escola básica até à universidade é imprescindível encarregar o serviço formativo de transmitir a mensagem cristã, de promover o encontro entre o Evangelho e os distintos saberes para uma melhor promoção da dignidade da pessoa humana”.
Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário
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