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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

"Quando os meus filhos vêem a fumaça das fábricas em Roma pensam que é a fumaça das explosões de Damasco...”

Samer Afisa relata a sua fuga, junto com a família, do pesadelo da guerra na Síria e o seu pedido de asilo político na Itália


Há menos de um mês, Samer Afisa, sua mulher e os seus dois filhos deixaram para trás o pesadelo da guerra na Síria, refugiando-se em Roma, onde estão esperando a petição de asilo político para poderem reconstruir uma vida.

A família Afisa fugiu no último dia 20 de novembro e escapou de um atentado terrorista realizado em um ônibus em Damasco, onde Samer trabalhava como motorista do núncio apostólico. Com algumas dificuldades, os Afisa encontraram hospitalidade em um instituto a mais de uma hora de distância da casa onde estão hospedados temporariamente.

Presente na coletiva de imprensa de apresentação da Mensagem para a 49ª Jornada pela Paz, Samer Afisa testemunhou a ZENIT e a outros meios de comunicação: as suas palavras de perdão para quem está destruindo o seu país, onde já, a cada dia está em jogo a sobrevivência de qualquer cidadão, sem exceção.

Tendo estudado extensivamente na Itália, em sua juventude, o refugiado sírio escolheu esse país em vez da Alemanha ou da Suíça, onde talvez a acolhida aos refugiados é encorajada, também por motivos econômicos.

Afisa considera-se particularmente com sorte por ter conseguido deixar o país; é, de fato, associado aos cooperadores salesianos que, em Roma, enviaram-no para dar testemunho, sabendo que, junto com a sua família, pedirá o asilo político ou a proteção internacional.

Apresentado os documentos em Beirure (na Síria não existe mais embaixada), Samer obteve o visto: “Foi um verdadeiro milagre – disse – . Fui aconselhado a vir sozinho, mas eu respondi: ou vamos todos os quatroo ou ficamos na Síria”.

Disse aos jornalistas como na Síria, o terror não poupa nem sequer as escolas: quando o instituto dos seus filhos foi atacado por tiros de morteiros, Samer viveu horas de angústias para eles.

"Em Damasco não há mais eletricidade, a não ser uma hora por dia – continua –. Como é possível sobreviver assim? Não tem água, não tem luz, a vida está se tornando muito dura. Não se sabe como, nem porque, continuam a chegar mísseis e morteiros e as pessoas morrem assim, como se nada acontecesse...”.

Um dos muitos pesadelos para Afisa foi o de poder ser chamado ao exército sírio como reservista: “Já fui militar por muitos anos e sou contrário ao uso das armas”, comentou. Foi então que decidiu deixar definitivamente o seu país. Conhecendo o italiano, optou pela Itália e agora está ensinando a língua também à mulher e aos filhos.

"Não tenho pretendo conseguir nenhum subsídio do governo – destaca Samer -. Prefiro trabalhar duramente, para reconstruir a minha vida aqui. Me basta ter os documentos como refugiado na Itália: acredito que posso conseguir um emprego, os títulos e o conhecimento da língua já tenho...”.

Comentando a Mensagem do Papa Francisco para a 49ª Jornada pela Paz, publicado hoje, Afisa afirma: “Me impressiona particularmente o fato de que não existe paz sem justiça’ e ‘não há justiça sem perdão’. Nós, cristãos, que na Síria somos uma minoria em torno de 2% perdoamos, nunca nos levantamos em armas... Mas, que justiça pode haver para nós?”.

O perdão, para o refugiado sírio, é algo necessário para poder "esquecer momentos difíceis". Espera que os seus filhos, além de uma nova língua, tenham uma boa educação para terem uma correta “abertura de mente”.

Depois de mais de três semanas de fuga para a Itália, os pequenos Afisa ainda não conseguem dormir, porque era especialmente à noite que em Damasco ocorriam as explosões. “No outro dia eu estava em um ônibus, com eles, quando vi a fumaça de uma fábrica e pensaram em um míssil – disse Samer –. Se assustaram e eu lhes disse: ‘aqui não existem mísseis, não tenham medo’”.

Aos seus filhos, Samer ensina sempre que “um homem, branco ou negro, cristão ou muçulmano, é um homem e eu tenho que respeitá-lo. É suficiente com que seja uma pessoa bem integrada na sociedade, não me interessam as diferenças que possam existir comigo, mas só que me respeitem, como eu respeito a ele”.


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