Está a chegar o frio, ouvimos dizer em tantas vozes que connosco se cruzam na rua. O frio do Inverno, querem dizer. Esse frio que nos traz o cheiro das castanhas assadas, o cheiro do fumo das lareiras acesas na aldeia (ou na cidade, para quem tem esse pequeno privilégio), a vontade de nos juntarmos em família à volta da mesa, a partilhar uma agradável refeição, que se prolonga para além do comer.
Contudo, o frio faz-se sentir, em muitos dos que nos rodeiam, por fora e por dentro. E se por fora é, em princípio, fácil de resolver (com uns bons agasalhos), por dentro pode ser mais difícil. Estamos a viver tempos conturbados, marcados pela incerteza, pela desconfiança, pela dor, pela solidão, pela violência gratuita que não procura razões (por não tem em si mesma qualquer razão de ser).
Mas não estamos sós. Cada um de nós é um ser único, sim, mas parte de um todo que faz todo o sentido no Amor de um Deus que chega até nós. Aniquilou-Se até ao extremo. Fez-se menino, criança, para que nos fosse mais fácil acolhê-Lo, abraçá-Lo, amá-Lo pela conversão de coração que nos implora com o Seu olhar amabilíssimo. Está prestes a nascer. Que faremos nós? Deixá-Lo-emos mais uma vez sem abrigo? Mas se veio para nós, para mim, para curar as nossas feridas e aliviar as nossas dores...
Não há outra arma possível para abafar a violência senão o perdão, o amor. Temos tido vários exemplos maravilhosos de seres que perderam quem amavam e ainda assim não se deixam vencer pelo ódio (como é o caso do jovem Antoine Leiris que perdeu a sua esposa, mãe do seu filho de 17 meses nos recentes atentados de Paris-vale a pena ler a carta aberta que escreveu aos terroristas). Vale a pena viver de Misericórdia. Na proclamação do já próximo Jubileu extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco diz-nos que “o mistério da Misericórdia é fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. É o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”.
Vamos tornar este Natal um Natal diferente, acolhendo-nos de uma maneira especial ao Amor de Deus-Menino para, então, envoltos na Misericórdia de Deus, podermos manifestá-la em gestos concretos de misericórdia, de perdão e acolhimento, para com aqueles que estão ao nosso lado, no mais próximo dos próximos.
Cristina Berrucho Figueiredo,
professora
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