Caso haja uma acção militar no Oriente Médio que sejam dos países muçulmanos sob a ONU. 'Que não seja visto como uma guerra de religião'.
Roma, 19 de Março de 2015 (Zenit.org) Sergio Mora
Caso haja uma acção militar no Oriente Médio que sejam dos países muçulmanos sob a ONU.
Entrevista ao Observador do Vaticano na ONU. Mons. Tomasi: ‘Que não
seja visto como uma guerra de religião’. A força militar ‘in extrema
ratio’ para defender. Mas sem o diálogo não é suficiente.
No Oriente Médio há uma variedade de problemas que se entrelaçam e
que não encontrarão solução enquanto não se juntarem em uma mesa aqueles
que tem interesses militares e políticos nesta parte do mundo. Assim
falou o observador da Santa Sé nas Nações Unidas em Genebra, Mons.
Silvano Tomasi nesta entrevista concedida à Zenit. E especifica que se a
comunidade internacional deve recorrer ao uso da força, que seja em
‘extrema ratio’.
O observador do Vaticano acrescenta: "Para evitar que uma possível
intervenção militar possa ser vista como uma intromissão do Ocidente nos
assuntos do Oriente Médio, ou como uma guerra de religiões, os países
muçulmanos devem estar directamente envolvidos. Naturalmente, a acção deve
ocorrer sob a égide das Nações Unidas. Não esquecendo que mesmo 'a
máquina da ONU sendo lenta, ainda assim é uma garantia'. Também adverte:
"Nós gostaríamos de encontrar-nos em alguns anos para escutar os
processos subsequentes em que a comunidade internacional se pergunta a
razão da ausência de uma intervenção’. Acompanha a entrevista a seguir:
ZENIT: Milhares de cristãos e minorias são deslocados e
massacrados na Síria, Iraque e outros países, por militantes do Califado
Islâmico. O diálogo com eles não funciona, e em parte com outros
governos. Como proceder?
- Mons Tomasi: Estamos diante de uma situação fluida, onde há uma
variedade de problemas que provocam respostas irracionais. Enquanto não
se conseguir criar o diálogo entre aqueles que representam os interesses
políticos e militares desta parte do mundo, todas as tentativas serão
inúteis. Se não formos capazes de estabelecer um diálogo, não podemos
imaginar que se chegue ao final de tanta violência e das perseguições.
Nossa actividade multilateral e a declaração conjunta do 13 de Março
passado é um exemplo. Estamos procurando uma convergência de interesses
políticos e militares nesta parte do mundo e estamos incentivando todos
os representantes políticos do complexo quadro do oriente médio para
actuarem.
Um diálogo directo é difícil: falta um interlocutor com referência.
Existem várias forças que tentam interagir politicamente, culturalmente e
a nível religioso. Mas, sem uma coordenação clara e eficaz.
ZENIT: Com as decapitações colectivas e todas estas
brutalidades, o califado islâmico não está querendo provocar uma reacção
do Ocidente para, assim, poder liderar os muçulmanos indecisos a
enfrentar uma ‘cruzada ocidental’? Como intervir sem que seja
considerada uma reacção ocidental?
- Mons. Tomasi: Para evitar uma leitura simplista que poderia
enquadrar esta situação com uma guerra religiosa é necessário considerar
as palavras cheias de sabedoria do Santo Padre Francisco, durante sua
visita à Turquia, em Novembro do ano passado, quando lembrou que "uma
importante contribuição pode vir do diálogo inter-religioso e
intercultural, para expulsar qualquer forma de fundamentalismo e de
terrorismo, que humilha seriamente a unidade de todos os homens e
instrumentaliza a religião".
ZENIT: A Santa Sé sempre busca a paz através do diálogo, não é verdade?
- Mons. Tomasi: Uma intervenção militar internacional para defender a
minoria ameaçada é uma doutrina que tem sido desenvolvida, quer pelo
direito internacional, quer nos ensinamentos da doutrina da Igreja
Católica. Para evitar que uma possível intervenção militar possa ser
vista como uma ingerência ocidental nos assuntos do Oriente Médio, ou
como uma guerra de religião entre os países muçulmanos do Oriente Médio.
Os países muçulmanos devem estar directamente envolvidos. Naturalmente, a
acção deveria ser realizada sob a égide das Nações Unidas. Proceder de
outra forma abriria o caminho para problemas maiores. Certamente a
máquina da ONU é lenta e muitas vezes parece não dar resposta em tempos
úteis. Mas é uma garantia de imparcialidade e da busca pelo bem comum.
ZENIT: Até que ponto é permitido usar a força?
- Mons. Tomasi: O ideal é nunca ter que usar a força. Na verdade
pode-se pensar em situações de emergência, quando é preciso salvar vidas
inocentes. O papa João Paulo II, na mensagem para o Dia Mundial da Paz
do ano 2000 indicou algumas linhas que também são válidas para a
situação actual: "Obviamente, quando os civis estão em risco de sucumbir
sob os golpes de um injusto agressor, e quando não serviu para nada os
reforços da política e os instrumentos de defesa não violentos, é
legítimo e até mesmo um dever comprometer-se com iniciativas concretas
para desarmar o agressor. Estas, porém, devem ser circunscritas no tempo
e determinadas em seus objectivos, conduzidas no pleno respeito do
Direito internacional, garantida por uma autoridade reconhecida a nível
supranacional e nunca abandonada à mera lógica das armas”.
O direito de se defender, ou seja, o uso da força por parte da
comunidade internacional em defesa daqueles que não conseguem exercitar
os seus direitos fundamentais, é uma doutrina consolidada nas Nações
Unidas e na Doutrina Social da Igreja.
De fato, a comunidade internacional tem a obrigação de responder e deter, principalmente, qualquer tipo de genocídio.
‘Não gostaríamos de ver em alguns anos os conhecidos processos
posteriores, onde a comunidade internacional se pergunta o motivo da
ausência de uma intervenção’.
ZENIT: Quais características deveria ter uma intervenção da comunidade internacional?
- Mons. Tomasi: A comunidade internacional depois das atrocidades da
Segunda Guerra Mundial criou regras e instrumentos para lidar com
situações de emergência humanitária. Em particular, responsabilidade do
Conselho de Segurança determinar as modalidades e os tempos de uma
eventual intervenção. A posição da Santa Sé sempre foi a de facilitar o
diálogo a favor de uma solução pacífica da crise e incentivar a
comunidade internacional para que actue unida, especialmente para deter
esta espécie de genocídio que estão sofrendo os cristãos e outras
comunidades no Oriente Médio. Naturalmente, o caminho do diálogo é
difícil com um grupo que não tem nenhum tipo de respeito pelo direito
internacional e nenhum desejo de diálogo.
(19 de Março de 2015) © Innovative Media Inc.
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