Frei Patricio, OCD, superior carmelita no Egipto, explica que "espiritualidade familiar não é ideia, é vida"
Cairo, 30 de Março de 2015 (Zenit.org) Frei Patrício Sciadini
Quase todos os dias ouvimos falar que a família está em
crise, perdeu o seu rumo, e que os pais hoje em dia não sabem educar,
que os jovens não querem mais ficar em casa e preferem viver longe
dos pais e, dizem os psicólogos e a mesma Igreja, que os jovens, vendo
as brigas super violentas dos pais, preferem nem se casar. Se diz ainda
que o número dos divórcios aumenta cada vez mais e que o matrimonio não
é estável, mas passageiro. O que importa é a convivência e a
felicidade pessoal e momentânea... E ainda há quem diga com fundamento
que a causa do número dos jovens que pegam o caminho da droga e não
raramente o caminho do suicídio seja a desestabilização da família,
como primeiro centro educacional sério e evangelizador. E a ladainha
pode continuar e dizer por ex. que os jovens preferem “as diversões
sexuais e afectivas”, mas sem uma ligação consagrada nem de Deus e nem
da lei. E se por acaso, por descuido, aparecer uma gravidez, não há
problema, o aborto é solução. Por aí vai.
Que a Igreja esteja preocupada com esta situação é comprovado pelo
sínodo da família que se pensava que uma simples sessão fosse
necessária e o Papa Francisco e os participantes se viram obrigados a
prolongá-lo com uma outra sessão e pode ser que nem baste... Há sobre a
mesa problemas grandes e graves que vão da homossexualidade às
segundas núpcias, ao matrimónio de fato ou matrimónio “aparente, de
fachada”. Pais e mães não são mais tão importantes, se pode comprar um
pai e mãe de aluguer e tudo está resolvido. Poderíamos continuar no
que se diz até escrever um livro, mas a que serve fazer análises se não
se encontra a solução e o meio certo?
A Igreja nos oferece uma solução e um remédio eficaz através da
canonização dos pais de Santa Teresinha, Zélia Guerin e Luis Martin.
Um matrimónio que ao longo da vida conjugal viveu situações difíceis,
mas que à luz da fé soube enfrentá-las corajosamente. Há mulheres
santas e há maridos ateus, como casos na história da santidade, como
por exemplo o pai de santo Agostinho, que se chamava Patrício, era ateu
e Monica, a santa que com sua oração conseguiu converter um pouco o
marido, mas totalmente o filho Agostinho, que tinha um péssimo
caminho. Há casos de marido santo e mulher não santa. Aqui temos um caso especial, os pais, quer dizer marido e mulher,
que serão declarados pela Igreja santos. Não uma santidade “honoris
causa.” Mas sim uma santidade concreta, real. É interessante o livro “A
história de uma família”, que conta a vida da família Martin, provada
pelas mortes de recém nascidos, pela doença de Zélia, pela pobreza,
vendo um pouco os negócios irem à falência, pelos desentendimentos com
os parentes... E os dois, unidos na fé, na esperança e no amor. Dois
caracteres totalmente diferentes e entre eles uma certa diferença de
idade.
Os dois vinham de uma desilusão de vida religiosa. Sabemos que Luis
Martin, homem reflexivo e um pouco solitário, quem sabe também um pouco
depressivo, queria ser monge, mas não sabendo latim, foi enviado de
volta para casa. O seu mesmo trabalho de relojoeiro o levava a passar
tempo sozinho. Zélia, uma jovem boa, empreendedora, mas que sentia no
seu coração o desejo da vida religiosa e sem saber o porque foi
recusada. Os dois não sabiam que rumo tomar. A mãe de Luis Martin,
preocupada pela idade do filho, que beirava os 37 anos, arrumou o
encontro entre os dois, noivado rápido, nem três meses, e ei-los casados
à meia noite do 13 de Julho de 1858.
Um Luis Martin que não quer filhos e quer viver a castidade, e uma
Zélia que não quer filhos, mas o confessor santo que diz “matrimónio é
feito para ter filhos”, e vão ter nove. Uma bela história de
oração, de sacrifício, unidos na oração, no fazer o bem, preocupados
com a educação das filhas.
Hoje é necessário “recriar” famílias que saibam colocar ao centro da
vida Deus e os filhos, e não o dinheiro e nem a promoção social, nem o
bem estar económico. O amor não é feito de jóias e nem de viagens, é
feito de dom de si mesmo que gera a vida. Escrevi um livro sobre os pais
de santa Teresinha com a editora Canção Nova, onde dizia que os pais de
Santa Teresinha são pais normais, feitos de alegria e de tristeza e
são imitáveis para as famílias normais. Nada de excepcional a não ser o
amor vivido respeitando o caminho dos filhos. A História de uma Alma,
autobiografia de Santa Teresinha, é o melhor testemunho do processo de
canonização dos pais desta Santa. Espiritualidade familiar não é ideia, é
vida. Todos os problemas da família têm uma única solução: crer no
amor. Posso estar errado, mas isto é o que vejo na família de Jesus e de
Zélia e Luis Martin.
(30 de Março de 2015) © Innovative Media Inc.
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