Um empreendimento teológico
Roma, 25 de Março de 2015 (Zenit.org) Rodolfo Papa
Quando lemos o Magistério da Igreja sobre a arte sacra,
encontramos indicações que nos orientam para a realização plena da
representação narrativa do Depósito da Fé. Em outras palavras: o que
está no centro da actividade artística é o Credo; a arte sacra é a poesia
de um fiel que canta glória a Deus, a coragem de declarar o Cristo
inteiro sem perder nenhuma verdade de fé.
Infelizmente, com a perda da unidade dos saberes e com o
rebaixamento da arte a um grau menor de conhecimento, a concepção
estética tem sido muitas vezes reduzida a emoções e lugares
pré-linguísticos ou não linguísticos, rejeitando-se as poderosas
contribuições que o cristianismo criou especialmente para ela. Uma série
de estudos, incluindo-se os de H. Belting, L. Shiner, A. Danto e
Didi-Huberman, levados às suas justas consequências, corroborariam a
conclusão de que o cristianismo inventou a arte tal como nós a
conhecemos; uma arte que, antes dele, não existia e que, num hipotético
"depois", simplesmente não existiria mais, porque a arte só teria
chegado com o cristianismo, depois dos ritos religiosos e políticos
complexos da antiguidade, e já estava madura entre os séculos XII e
XIII. A dúvida e a raiva do homem moderno e pós-moderno tem jogado
gradualmente a acção artística na escuridão do xamanismo.
Alguns estudiosos, em vez de rastrear o original, procuram o
arquétipo da arte e pensam que o encontram na arte conceitual ou na Arte
Povera, e alguns, com esta forma ligada a fenómenos gnósticos, até
tentam produzir arte para a liturgia católica, ofendendo assim o "sensus
fidei" dos fiéis, impondo algo que nada tem a ver com o cristianismo,
confundindo os meios e propósitos da arte sacra e adulterando o seu
objectivo final, que é louvar a Deus e levar o coração e a mente dos
homens a Deus.
Muitas vezes, prefere-se representar o emaranhado do processo
reflexivo de algumas pesquisas, confundindo isto com a fé como se esta
fosse a parte mais elevada do ato de pensar o profundo, quase exibido,
mostrado no esforço, como no Beaubourg de Piano & Rogers de 1977, um
edifício onde tudo está de fora, enquanto as entranhas são expostas e
nada está dentro, apenas um espaço neutro sem identidade alguma, para
assumi-la toda vez que se entra em contacto com o outro.
A arte se move, como todo o conhecer, tal como foi magistralmente
manifestado por Leonardo da Vinci, na penumbra que não é plenitude de
luz, mas que ainda nos permite ver, conhecer e afirmar; a arte sacra tem
o dever de afirmar a fé, representando completamente Jesus Cristo e a
realidade iluminada por Ele.
(25 de Março de 2015) © Innovative Media Inc.
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