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terça-feira, 30 de agosto de 2016

Agostinho, um jovem rebelde que foi Santo


Nascido no ano 354, em Tagaste, no norte de África, colonizada por Roma e filho de pai pagão, o jovem Agostinho deixou-se influenciar profundamente pelos costumes desordenados da época. O seu temperamento ardente e rebelde conduziram-no a uma vida de paixões, das quais, mais tarde, há-de vir a acusar-se nas suas “Confissões”. Contudo, não dispensou o estudo dos clássicos, a obra de Cícero levou-o à investigação filosófica e a influência de sua mãe, católica de fé profunda, ajudaram-no a reflectir sobre o poder e a maravilha do Deus criador e transcendente.

Foi professor de retórica em Cartago, Roma e Milão, onde buscou novos ambientes e mais sucesso. Sofrendo com a morte da mãe, abandonou o ensino e tomando contacto com os ensinamentos de S. Paulo converteu-se. Aos 33 anos é baptizado por Ambrósio, Bispo que pela palavra e exemplo o persuadiu da verdade do cristianismo, descobrindo o esplendor e a alegria desta religião. Regressou à sua terra natal onde foi ordenado sacerdote, sendo quatro anos mais tarde, Bispo de Hipona, hoje Annaba, na Argélia.

Doutor da Igreja, ele é fruto das lágrimas e orações de Mónica, a sua santa mãe, que muito rezou confiando que Deus ouviria as preces pelo seu amado filho.
Em pleno flagelo da invasão dos Vândalos que se abateu sobre a África romana, Agostinho ainda escreveu a sua obra-prima “ A Cidade de Deus “, mas em 28 de Agosto de 430, parte para o Céu, a sua cidade eterna.

A Filosofia de Santo Agostinho é o resultado da dispersão da sua inquietude, da sua crise e também da sua redenção, ela é o somatório da luta e conquista de si próprio, do seu destino e do verdadeiro significado da sua vida interior.

O entusiasmo religioso e o ímpeto místico para a verdade, não agem como forças contraditórias, mas fortalecem-se e dão-lhe calor vital.

As “Confissões” são o magnificat duma alma arrependida face ao deslumbramento da conversão e à misericórdia divina. São também o exemplo de como os Santos podem ser homens normais, por vezes pecadores, mas que não desistem de lutar e desesperadamente procurar rectificar a sua conduta de vida.

Só os grandes convertidos como Santo Agostinho, que sentiram o desabar da falsa verdade das teorias em que se tinham enredado, têm a coragem de caminhar em busca da fé. Apaixonado pela vida e pela Filosofia, só nas Escrituras ele vem a encontrar o sentido da coerência entre a alma e Deus.

Quem ama o omnipotente anseia que todos os outros homens o amem também, pelo que na sua vida passou a transbordar um sentimento de apostolado, sem o qual já não podia viver.
Procurou a verdade, encontrou-a onde menos esperava e a sua alma não descansava enquanto não a revelasse, num espírito puramente filosófico de ajudar a conduzir todos aqueles que também a procuravam.

A fome de Beleza e de Amor que o perseguiam desde a adolescência encontrou abundância na natureza divina, essa fonte de visão poética do mundo e de todos os seres. Cheio de arrependimento clama: “Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!”

A vida de Santo Agostinho foi uma nostalgia de Deus que se transformou numa angústia de coração, impelindo-o à busca do Todo a que pertencia e no qual a inquietude do seu ser encontrou o repouso ansiado.

Ele viveu apaixonadamente o mundo que habitou, sabendo que o passado não morre, mas se transforma num eterno presente no qual se realiza e materializa todo o tempo, essa realidade oculta donde emergirá o fluir celestial.

A procura e a conquista de si próprio, a passagem ao transcendente sem o qual a verdade do eu interior não pode existir, o conhecimento da alma e de Deus, bem como toda a problemática afectiva que o envolveu, são o cerne da sua obra, cuja influência se mantém, ainda hoje, no pensamento contemporâneo.

Maria Susana Mexia








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