O Manuel foi o primeiro jovem de S. Simão de
Litém a ser Irmão de S. João de Deus a que se iriam seguir cerca de seis
dezenas a tentar ser e 20 a perseverar como religiosos. Professou na Casa de
Saúde do Telhal, Sintra, em 16.07.1908 e fez a profissão solene em 08.12.1919,
em Madrid, recebida pelo Provincial Irmão João Jesus Adradas, aquele que
inaugurou esta Casa de Saúde em 10.08.1924. Teve
bastantes funções de direção e formação e na fundação desta Obra, venceu
dificuldades para preparar o solar da Quinta do Trapiche para a inauguração no
dia 10 de agosto de 1924 com cerca de 40 doentes. O Irmão Sinforiano Lucas
Feijão, cofundador, e outros Irmãos dos primeiros anos, são dignos de admiração
e gratidão hospitaleira pelo esforço dedicado e espírito hospitaleiro à
imitação de S. João de Deus. Felizmente, muitos vizinhos e benfeitores rodearam
os Irmãos de carinho e ajudas generosas sem fim, criando um ambiente de
acolhimento e apoio sem medida, digno de gratidão, que se prolongou até ao
presente.
O Irmão Manuel Maria Gonçalves mudou daqui, em
1928, para superior de Casa acabada de fundar, em Barcelos; e de 1931 a 1940
foi Mestre de Noviços, na Casa de Saúde do Telhal, Sintra, onde formalizou o
seu Curso de Enfermagem com exames na Escola Artur Ravara com distinção de 16
valores; e foi Conselheiro Provincial (1934-1937). Foi Mestre de Neoprofessos,
em Barcelos (1940-1943), e nesta Casa, de novo superior (1943-1946). Por breve
tempo foi Mestre de Postulantes (Telhal). Lembro-me do que me aconteceu quando, um dia,
me disse à queima-roupa: tenho impressão que o postulante (eu) se quer ir
embora. Surpreendido, respondi prontamente: não quero, não. Pensei mais tarde
se não teria dito isso para me experimentar. Na verdade, não pensava deixar a
Ordem. Logo em 1947, foi nomeado para
superior e restaurador da Ordem no Brasil, Rio de Janeiro, e a seguir, nessa
cidade, superior da Clínica de S. João de Deus e Delegado Provincial no Brasil.
Ao regressar, em 1957, ainda foi vice mestre de noviços e colaborador da revista Hospitalidade para a qual já tinha escrito numerosas crónicas sobre a Ordem no Brasil, de 1947 a 1957, e, nos anos 1962 e 1963, redigiu as suas notas históricas da fundação da Casa de Saúde S. João de Deus, Funchal, recolhidas no I volume da História da Casa (2014). Era um Irmão com grande capacidade de organização e exigente consigo mesmo e com os seus formandos a quem pedia sinceridade e autenticidade como me apercebi durante alguns meses em que foi meu Mestre. A sua ação, nos primeiros seis anos desta Casa, enfrentou dificuldades que ele, o Irmão Sinforiano Lucas Feijão cofundador e outros Irmãos venceram, rodeando-se de leigos generosos como colaboradores qualificados. Seguiu o espírito hospitaleiro legado por S. João de Deus. O Irmão Horácio Martins Monteiro, organista e Superior desta Casa durante vários anos assistiu o Irmão Manuel Maria Gonçalves na última doença e testemunhou que ele era um doente fácil de assistir, e de grande autonomia durante a doença. Que se mantinha sempre muito calmo e não incomodava ninguém. Não se queixava nunca e, enquanto pôde, era ele que se deslocava à Clínica da Casa para a injeção. Sentava-se ali e esperava em silêncio sem se impacientar, sempre com muita paz. O corpo clínico desta Casa era uma equipa muito competente; e os Irmãos que assistiam outros Irmãos tinham boa preparação. Tudo isto levou o Irmão Monteiro a dizer-me há pouco que o Pe. Aires terá testemunhado numa reunião que os Irmãos doentes eram bem assistidos lá no Telhal. Mas não é tudo. O Irmão Monteiro também testemunhou que teve a sensação que veio para o Funchal em 1992 para bem assistir e sepultar os Irmãos idosos que iam adoecendo nesta Casa centenária, cinco: Alexandre Martins (1994), Manuel M. da Cruz (1995), Manuel Pedro (1996), Albino Jorge, (2004) e Manuel Pereira (2008) dos 12 aqui falecidos durante os cem anos. Celebrar um centenário é fazer memória do bem realizado. O Irmão Manuel Maria Gonçalves, falecido em 30 de novembro de 1970, e todos os que continuaram o seu projeto hospitaleiro vão, certamente, ser lembrados na celebração de ação de graças deste Centenário.
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