Todos sabemos que o homem é formado de corpo
e espírito. Também estamos conscientes de que é muito difícil manter um
equilíbrio perfeito entre um e outro. É certo que o corpo dá preciosas
informações ao espírito através dos seus sentidos (vista, ouvido, tato, paladar
e olfato), mas a parte do homem que consegue conduzir os seus sentidos com
segurança é o espírito mediante a inteligência e a vontade.
Geralmente quando se fala de moda entende-se
o modo de vestir o corpo, desde as “folhas de parra” que cobriam a intimidade
de Adão e Eva, até aos inúmeros tecidos vegetais, animais ou sintéticos de cada
época ou lugar. Uma coisa é certa: a moda é uma realidade própria dos homens
porque está mais dependente do espírito que do corpo. Os animais não necessitam
de moda porque não são livres. Os seus corpos estão perfeitamente preparados
para sobreviverem no seu próprio habitat, mas terão dificuldades se o clima
mudar ou os alimentos faltarem. O homem, por si, consegue resolver esses
problemas porque é inteligente. Elemento importante da manifestação da sua
inteligência está na comunicação: gestos, sons, escrita... moda.
Chamamos moda à forma comum de vestir em cada
época e está relacionada com o modo de pensar em voga. São muitas estas modas,
quer no vestir, quer no pensar. O ideal é que cada pessoa se apresente de modo
coerente com aquilo que é, nomeadamente se é homem ou mulher. Ser homem ou
mulher não é o mesmo que ser sapateiro, astronauta, rico, ou jovem... Estes são apenas estados que variam e chegarão
ao estado de reformado. Talvez o único estado que acompanhará cada pessoa por
toda a vida é o de ser homem ou mulher. É bom que a moda acompanhe sempre essa
realidade e que respeite os sentimentos dos outros, pois ninguém gosta de ser
enganado. A mentira leva sempre à desilusão e ao sofrimento próprio ou/e
alheio.
Assim como sabemos distinguir perfeitamente
um peixe de uma ave, ou mamífero, também conseguimos identificar europeus,
asiáticos, africanos, etc. No entanto, por serem livres, as pessoas podem
viajar para zonas inóspitas. É necessário saber quem se é para se saber como
estar. Talvez um esquimó se sinta incomodado, ao viajar para os trópicos, por
ter de trocar os seus abrigos e botas de pele por calções e sandálias. O corpo
pede essa mudança por necessidade de conforto, mas o espírito necessita de mais
algum tempo para se adaptar ao novo costume, à moda local.
Este simples exemplo das viagens, em que os
sentidos podem estar em confronto com os sentimentos, leva-nos a aprofundar
neste tema da moda muda-calada. A maneira de vestir é também usada como uma
forma de comunicação, mas também pode esconder, calar ou mentir o que se é ou o
que se sente. O folclore, com as suas
músicas, cantigas e danças, roupas e ementas típicas, são uma manifestação de
identidade, uma necessidade de manter as tradições, a história, as raízes. Ao
usar o traje típico, o corpo dá a notícia de quem é essa pessoa, de onde
vem, a que grupo pertence. A roupa, ou algum pormenor, pode dar a conhecer a
profissão e o grau de responsabilidade dessa pessoa, como acontece com a bata
dos médicos com o estetoscópio pendurado ao pescoço, as capas e batinas dos
estudantes universitários, os militares com as suas patentes anunciadas nas
divisas, os sacerdotes com as suas batinas que, por vezes, escondem o uso do
cilício... Os fatos negros, masculinos ou femininos, dizem quem está de
luto. É desejável que parentes e amigos compareçam nessas ocasiões e que a sua
roupa seja apropriada, isto é, discreta, com as cores de luto usadas no seu
país [1].
Graças a retratos, fotografias e filmes,
podemos constatar como a moda muda no trajar. Este modo de vestir corresponde
ao modo de estar e de ser, mas nem sempre assim acontece. Quando a moda se
altera e as casacas passam a ser casacos, os vestidos compridos são trocados
por saias pelo joelho, as calças dos homens encurtam para calções, os sapatos
mudam para ténis... compreendemos que a moda muda porque os costumes mudaram,
mas...
Mas há algo que permanece e talvez tenha
aumentado: a mudez da moda. Será verdade que a moda está mais calada? É certo
que a diferença de classes sociais é menos notória e a moda acompanha essa
realidade. Porém, como explicar que se vendam, e sejam compradas (estão de
moda), calças rotas e coçadas por alto preço? Isso não será uma falta de
respeito por quem é necessitado? Não é inestético que pessoas de idade, já com
varizes e celulite, se vistam como jovens? E as jovens adolescentes não têm um
pai e uma mãe que lhes expliquem como se devem cobrir porque a moda fala? Coragem
pais, formadores, educadores. Ensinemos a ler e escrever moda,
sobretudo com o exemplo e a verdade.
Isabel Vasco Costa
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