Todavia
uma boa parte do mundo continua na escuridão, perdida nas trevas, sem paz, sem
felicidade, recusando a salvação.
“Durante
séculos, muitos homens separaram a sua vida (trabalho, estudo, negócios,
pesquisas, lazer) da fé. E, como consequência dessa separação, as realidades
temporais ficaram desvirtuadas, e muitos chegaram a considerar o mundo como um
fim em si mesmo, sem nenhuma referência a Deus, acabando por tergiversar as
próprias verdades mais fundamentais e básicas. De modo especial, é preciso corrigir essa separação nos países
ocidentais, “porque, nestes anos, muitas gerações se estão perdendo para Cristo
e para a Igreja, e porque, infelizmente, desses lugares se envia ao mundo
inteiro o joio de um novo paganismo”.
“Este
paganismo contemporâneo caracteriza-se pela busca do bem-estar material a
qualquer preço, e pelo correspondente esquecimento – seria melhor dizer medo,
autêntico pavor – de tudo o que possa causar sofrimento. Dentro desta
perspectiva, palavras como Deus, pecado, cruz, mortificação, vida eterna...
tornam-se incompreensíveis para uma grande parte das pessoas, que desconhecem o
seu significado e o seu conteúdo. Essa espantosa realidade está à vista de
todos: muitos começaram talvez por pôr Deus entre parêntesis em algum aspecto
da sua vida pessoal, familiar, profissional; mas, como Deus exige, ama, pede,
acabam por expulsá-lo – como um intruso – das leis civis e da vida dos povos. Com uma soberba ridícula e presunçosa,
querem colocar no seu lugar a pobre criatura, sem dignidade sobrenatural e
humana, e reduzida – não é um exagero: está à vista de todos – ao ventre, ao
sexo, ao dinheiro”.
O
mundo continuará nas trevas se os cristãos, por falta de unidade de
vida, não iluminarem e derem sentido às realidades concretas da vida.
Sabemos que a atitude que se exige dos verdadeiros discípulos de Cristo, e de
modo específico dos leigos, não é a de se isolarem, mas a de estarem
mergulhados nas entranhas do mundo, como o fermento dentro da massa, para
transformá-lo. O cristão coerente com a sua fé é sal que dá
sabor e preserva da corrupção. E para isso deve contar sobretudo com o seu
testemunho no meio das tarefas habituais, realizadas exemplarmente. “Se nós, os
cristãos, vivêssemos verdadeiramente de acordo com a nossa fé, produzir-se-ia a
maior revolução de todos os tempos... A eficácia da corredenção depende também
de cada um de nós! “
A
desordem introduzida pelo pecado foi além do homem, afetando a própria
natureza. O mundo é bom, pois foi feito por Deus de modo a contribuir para que
o homem alcançasse o seu fim último. Mas, depois do pecado original, as coisas
materiais, o talento, a técnica, as leis..., podem ser desviadas da sua reta
ordem e converter-se em males para o homem, obscurecendo o seu fim último e
separando-o de Deus, ao invés de aproximá-lo. Nascem assim muitos
desequilíbrios, injustiças, opressões, que têm a sua origem no pecado. “O
pecado do homem, isto é, a sua ruptura com Deus, é a causa radical das
tragédias que marcam a história da liberdade”.
Deus,
na sua misericórdia infinita, compadeceu-se deste estado em que a criatura
havia caído e redimiu-nos em Jesus Cristo: devolveu-nos a sua amizade e, mais
ainda, reconciliou-nos com Ele até ao extremo de podermos chamar-nos
filhos de Deus, destinados à vida eterna, com Ele para sempre no Céu.
A MISSÃO QUE O SENHOR nos confiou é a de infundir sentido cristão na
sociedade, porque só então as estruturas, as instituições, as leis, o descanso,
terão um espírito cristão e estarão verdadeiramente a serviço do homem. “Os
discípulos de Jesus Cristo têm que ser semeadores de fraternidade em todos os
momentos e em todas as circunstâncias da vida. Quando um homem ou uma mulher
vivem intensamente o espírito cristão, todas as suas atividades e relações
refletem e comunicam a caridade de Deus e os bens do Reino. É preciso que os cristãos saibam pôr nas
suas relações quotidianas de família, amizade, vizinhança, trabalho e lazer, a
marca do amor cristão, que é simplicidade, veracidade, fidelidade, mansidão,
generosidade, solidariedade e alegria.
Procuremos
viver com Cristo e em Cristo, todos e cada um dos instantes da nossa existência
- unidade de vida. Então a
piedade pessoal passará a orientar-se para a ação, e dar-lhe-á impulso e
conteúdo até convertê-la num contínuo ato de amor a Deus. E, por sua vez, as
ocupações de cada dia passarão a facilitar o trato com Deus e serão o campo em
que se exercitam todas as virtudes. Se procurarmos trabalhar bem e introduzir
nas nossas tarefas a dimensão transcendente que resulta do amor a Deus, essas
tarefas servirão para a salvação dos homens e tornaremos o mundo mais humano,
pois não é possível respeitar o homem – e muito menos amá-lo – se se nega ou se
combate a Deus, uma vez que o homem só é
homem quando é verdadeiramente imagem de Deus. Pelo contrário, “a presença
de Satanás na história da humanidade aumenta na proporção em que o homem e a
sociedade se afastam de Deus”.
Nesta
tarefa de santificar as realidades terrenas, os cristãos não estão sozinhos.
Restabelecer a ordem querida por Deus e conduzir o mundo à sua plenitude é
principalmente fruto da acção do Espírito Santo, verdadeiro Senhor da história.
Deus não é hoje menos poderoso do que em outras épocas, nem é menos verdadeiro
o seu amor pelos homens. A nossa fé
ensina que a criação inteira, o movimento da terra e dos astros, as ações retas
das criaturas e tudo quanto há de positivo no curso da história, tudo, numa palavra,
veio de Deus e para Deus se ordena”.
Nota: texto inspirado em “Falar com Deus”, de Francisco F. Carvajal
Quaresma
de 2024
Sem comentários:
Enviar um comentário