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quarta-feira, 13 de março de 2024

11 anos com o Papa Francisco

Bom dia!

Há 11 anos, estava na Praça de São Pedro quando o Papa Francisco se abeirou da varanda central da Basílica Vaticana e, antes de abençoar os que esperavam para conhecer o novo Pontífice, a cidade de Roma e todo o mundo, pediu para ser abençoado, pediu para que todos rezassemos pelo novo Papa. Um gesto que inaugurou um pontificado, repleto não só de gestos, mas sobretudo de factos, de modos de pertença e de governo da Igreja Católica inaugurados pelo cardeal que chegava da Argentina. Um percurso e um perfil que hoje evocamos na Agência Ecclesia e que partilho desde já nesta mensagem matinal. O texto é do vaticanista da Agência ECCLESIA, Octávio Carmo, publicado no portal de notícias desde as primeiras horas do dia e pode também ser visto em vídeo.

Votos de uma ótima jornada!

Paulo Rocha

De Lampedusa ao Sínodo:
11 momentos que definiram percurso do Papa

O Papa celebra hoje o 11.º aniversário da sua eleição, num percurso marcado pela preocupação com a renovação da Igreja e a atenção às crises sociais e humanas nos vários continentes.

Desde a sua primeira viagem, à ilha italiana de Lampedusa, a 6 de julho de 2013, Francisco alertou para a “globalização da indiferença”, seguindo-se várias críticas contra o “dogma” neoliberal – denunciando uma economia que “mata” -, pedindo maior atenção às “periferias” geográficas e existenciais.

Entre 2014 e 2015, a Igreja Católica viveu um processo sinodal dedicado à família, que chamou a atenção da opinião pública pela atenção dedicada aos casais em segunda união e à defesa da misericórdia como critério pastoral.

“As situações de miséria e de conflitos são para Deus ocasiões de misericórdia. Hoje é tempo de misericórdia”, disse Francisco, no final da assembleia geral ordinária de 2015.

Ainda em 2015, o Papa lançou a primeira encíclica dedicada ao tema da ecologia, ‘Laudato si’, na qual defende a valorização do ser humano, da natureza, da fé e da cultura para superar a atual crise ambiental.

Francisco pede “um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade” que consigam resistir ao “avanço do paradigma tecnocrático”.

O tema da misericórdia esteve no centro do Jubileu extraordinário que se encerrou em 2016, durante o qual, simbolicamente, o Papa canonizou Madre Teresa de Calcutá.

“Comprometeu-se na defesa da vida, proclamando incessantemente que quem ainda não nasceu é o mais fraco, o menor, o mais miserável. Inclinou-se sobre as pessoas indefesas, deixadas a morrer à beira da estrada, reconhecendo a dignidade que Deus lhes dera; fez ouvir a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem a sua culpa diante dos crimes – diante dos crimes! – da pobreza criada por eles mesmos”, referiu.

A 12 e 13 de maio de 2017, o Papa cumpriu a sua primeira visita a Portugal, assinalando o centenário das Aparições de Fátima, num programa de celebrações que inclui a canonização dos dois pastorinhos mais jovens, Francisco e Jacinta Marto.

A 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi, Francisco assinou a declaração sobre a Fraternidade Humana, com o grande-imã de Al-Azhar, a mais importante instituição do Islão sunita.

“Hoje também nós, em nome de Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma única família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a arca de fraternidade. O ponto de partida é reconhecer que Deus está na origem da única família humana”, declarou, perante representantes de várias religiões, na primeira visita de um pontífice à Península Arábica.

De 21 a 24 de fevereiro de 2019, Francisco fez história ao convocar para o Vaticano presidentes de conferências episcopais, religiosos, vítimas, responsáveis da Cúria Romana e jornalistas para debater a crise provocada pelos casos de abusos sexuais e as políticas a implementar para a proteção de menores.

A 27 de março de 2020, numa Praça de São Pedro deserta, por causa da pandemia de Covid-19, e debaixo de chuva intensa, o Papa presidiu a uma celebração com bênção especial ‘urbi et orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo] –, falando de uma humanidade em que todos estavam “no mesmo barco”.

Para esta oração, foram levados até ao Vaticano o ícone de Maria ‘Salus populi Romani’, que se venera na Basílica de Santa Maria Maior, local onde o Papa costuma rezar antes e depois de cada viagem internacional, para pedir a intercessão da Virgem Maria; e a cruz venerada na igreja de São Marcelo al Corso, um crucifixo considerado milagroso que, segundo a tradição popular, pôs fim à peste de 1522.

A primeira viagem internacional depois da pandemia teve como destino o Iraque, em março de 2021, com uma passagem pela cidade de Mossul, ainda a recuperar da destruição do autoproclamado Estado Islâmico.

“Se Deus é o Deus da vida – e assim é –, não nos é lícito matar os irmãos no seu nome. Se Deus é o Deus da paz – e assim é –, não nos é lícito fazer a guerra no seu nome. Se Deus é o Deus do amor – e assim é –, não nos é lícito odiar os irmãos”, disse Francisco, no ‘Hosh al-Bieaa’ (praça das igrejas), diante de locais de culto danificados ou destruídos pelo Daesh, entre 2014 e 2017.

A segunda viagem do Papa a Portugal decorreu de 2 a 6 de agosto, para presidir à Jornada Mundial da Juventude 2023, em Lisboa, e visitar o Santuário de Fátima, reforçando intervenções em favor de uma Igreja mais aberta.

“Jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos”, disse, no primeiro encontro com peregrinos, que decorreu no Parque Eduardo VII.

Mais de 1,5 milhões de pessoas viriam a participar nas celebrações conclusivas, acolhidas pelo renovado Parque Tejo.

O Papa, que reformou a Cúria Romana e as instituições financeiras do Vaticano, tem vindo a enfrentar problemas de saúde, com limitações de mobilidade, e enfrenta tensões internas, visíveis nas recentes polémicas relativas à declaração sobre bênçãos a casais em situação irregular.

O processo sinodal 2021-2024, dedicado ao tema da sinodalidade, tem mobilizado milhares de comunidades católicas e aponta a um novo modo de ser Igreja, marcado pela escuta e a responsabilização de todos.

“Uma Igreja de jugo suave, que não impõe pesos e, a todos, repete: Vinde, cansados e oprimidos; vinde, vós que vos extraviastes ou sentis distantes; vinde, vós que fechastes as portas à esperança: a Igreja está aqui para vós! A Igreja das portas abertas para todos, todos, todos”, disse Francisco, na Missa de abertura da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, em outubro de 2023.

Do ponto de vista global, a atenção tem estado centrada no conflito na Ucrânia, após a invasão russa de 24 de fevereiro de 2022, e na guerra que rebentou na Terra Santa, em outubro de 2023.

Aos 87 anos de idade, completados no último dia 17 de dezembro, Francisco é o terceiro pontífice mais velho a governar a Igreja, nos últimos 700 anos.

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; filho de emigrantes italianos, trabalhou como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia e teologia.

Ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979).

João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano, assumindo a liderança da diocese a 28 de fevereiro de 1998, após a morte do cardeal Antonio Quarracino.

O primaz da Argentina seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos.

Tem como lema ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “Olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.

O cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do agora Papa emérito, assumindo o inédito nome de Francisco; é também o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja.

Desde 2013, fez 44 viagens internacionais, nas quais visitou 61 países, incluindo Portugal (2017 e 2023), Brasil, Jordânia, Israel, Palestina, Coreia do Sul, Turquia, Sri Lanka, Filipinas, Equador, Bolívia, Paraguai, Cuba, Estados Unidos da América, Quénia, Uganda, República Centro-Africana, México, Arménia, Polónia, Geórgia, Azerbaijão, Suécia, Egito, Colômbia, Mianmar, Bangladesh, Chile, Perú, Bélgica, Irlanda, Lituânia, Estónia, Letónia, Panamá, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bulgária, Macedónia do Norte, Roménia, Moçambique, Madagáscar, Maurícia, Tailândia, Japão, Iraque, Eslováquia, Chipre, Grécia (após ter estado anteriormente em Lesbos), Malta, Canadá, Cazaquistão, Barém, RD Congo, Sudão do Sul, Hungria (após uma primeira passagem por Budapeste) e Mongólia; Estrasburgo e Marselha (França), Tirana (Albânia), Sarajevo (Bósnia-Herzegovina) e Genebra (Suíça).

Dentro da Itália, o Papa visitou mais de 50 localidades, incluindo a ilha de Lampedusa e a cidade de Assis.

Entre os principais documentos do atual pontificado estão as encíclicas ‘Fratelli Tutti’ (2020), sobre a fraternidade humana e a amizade social; ‘Laudato si’ (2015), dedicada a questões ecológicas; a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé, 2013), que recolhe reflexões de Bento XVI; as exortações apostólicas ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho); ‘Amoris Laetitia’ (A alegria do amor), após as duas assembleias sinodais sobre a família, de 2014 e 2015; “Gaudate et Exsultate”, sobre o chamamento à santidade no mundo atual; “Christus Vivit”, dedicado aos jovens, após o Sínodo de 2018; e “Querida Amazónia”, na sequência do Sínodo especial dedicado a esta região, em 2019.

A 4 de outubro foi publicada a exortação ‘Laudate Deum’, que deu continuidade à reflexão sobre ecologia integral lançada em 2015, alertando para um “ponto de rutura” na crise ambiental.

O texto visava preparar a COP28, no Dubai, onde se fez anunciar a presença de Francisco, cancelada por motivos de saúde – sendo o seu discurso lido pelo secretário de Estado do Vaticano.

No atual pontificado foram proclamados mais de 900 santos e santas – incluindo um grupo de 805 cristãos que morreram em Otranto (Itália), às mãos dos otomanos muçulmanos em agosto de 1480 – e mais de 1440 novos beatos.

O elenco inclui  incluindo várias figuras ligadas a Portugal: Francisco e Jacinta Marto, pastorinhos de Fátima, canonizados a 13 de maio de 2017 na Cova da Iria; D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1590), arcebispo de Braga, por canonização equipolente (dispensando o milagre requerido após a beatificação); o sacerdote português Ambrósio Francisco Ferro, morto no Brasil a 3 de outubro de 1645 durante perseguições anticatólicas, por tropas holandesas; o padre José Vaz, nascido em Goa, então território português, a 21 de abril de 1651, que foi declarado santo no Sri Lanka; e José de Anchieta (1534-1597), religioso espanhol que passou por Portugal e se empenhou na evangelização do Brasil.

Francisco convocou ainda nove Consistórios, nos quais criou 142 cardeais, entre eles D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal; D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima; e D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação.

O atual Papa criou, entre outros, o Dia Mundial dos Pobres, o Domingo da Palavra de Deus e o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.

Octávio Carmo

 


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