Pela Quaresma, ouvimos sempre o relato da Paixão de Cristo onde se recorda o seu encontro com Pilatos. Nesse momento Jesus diz-lhe: “O meu reino não é deste mundo.” João (18; 24). Acontece que todos os homens vivem “neste mundo”, mas estão destinados a viver noutro reino, no reino de Deus. Então, deve existir uma moeda que possa corresponder aos objetivos das pessoas que, vivendo neste mundo, desejam chegar ao reino de Deus, ao Céu. Essa moeda é a oração e, tal como o euro, pode ser usada além fronteiras. Na verdade, não só tem valor em todo o mundo como é a única moeda aceite no reino de Cristo, no Céu. Assim como há notas e moedas, a oração pode ser corporal ou espiritual. Geralmente “compra-se” com notas e moedas. As dores corporais são a oração do corpo se o espírito as acompanha com as virtudes da paciência (aceitação) e da humildade.
Nesse reino, a nota de maior valor é única. Foi a paixão e morte na Cruz do Rei que se ofereceu para salvar o seu povo, os cristãos. Havia mais duas cruzes no Calvário com os seus condenados, dois ladrões. O mau ladrão desafiou Jesus a salvar-se e a salvá-los; o outro, Dimas, repreendeu-o, lembrando-o de que mereciam tal suplício, mas Jesus não, pois nunca fizera mal a ninguém. Logo Jesus lhe garantiu: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Ambos sofriam o mesmo suplício, mas um salvou-se e o outro condenou-se. Ambas as notas eram de enorme valor, mas uma delas era falsa. Uma foi suficiente para “comprar” a santidade de Dimas. Como podemos distinguir a falsa da verdadeira? Pela humildade de Dimas e a exigência (“salva-te e salva-nos”), e a soberba do mau ladrão.
É
pela falta de humildade que se conhecem as moedas e notas falsas. A Virgem
Maria, que se reconheceu como “escrava do Senhor”, usou também uma nota única,
de valor inferior à do seu Filho, mas de tão alto valor que continua a saldar
as dívidas de quem lhe pede ajuda em nome de seu Filho. S. José possui a
terceira nota de muito valor.
Na
realidade, cada pessoa que nasce vem com uma grande fortuna: a capacidade de
poder ser santa. Basta-lhe ter nascido para ter possibilidade de ficar rica. Receberá a “fortuna” ao ser batizada. Claro
que corre o risco de gastar mal o “dinheiro”, desperdiçando os seus sofrimentos
(que são oração) como o mau ladrão, mas pode recuperá-lo confiando na
misericórdia divina, como Dimas, com uma confissão contrita.
Neste
Reino, até as moedas pequenas valem muito. O sorriso, a compreensão, uma
jaculatória, a boa vontade, a visita a um doente... Santa Teresa de Lisieux
nada fez de especial, mas as suas “coisas pequenas”, feitas por amor,
levaram-na aos altares.
A oração é fácil e acessível. Um senhor dizia a um familiar que sofria: “Não devo dizer isto porque sou ateu, mas se pudesse, rezava por ti.” Já estava a rezar. O trabalho, o cuidado da família, o tempo de desporto, de descanso, de convívio com amigos... tudo pode ser aproveitado para fazer oração. Basta que se “fale” com Deus (oração) ao longo do dia: “Jesus, é por teu amor”, “Jesus, vês? Estás aí?”, “Jesus, ouves? Preciso mesmo de arranjar emprego”... “Jesus, faça-se a Tua vontade”.
[1] Trata-se da barca “Viajante”
(1850-1917), o primeiro navio português a atravessar o Canal do Suez.
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