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segunda-feira, 4 de março de 2024

Divisas

Antigamente, cada país tinha a sua moeda e valores cambiais, divisas. Agora, são várias as nações que, pertencendo à União Europeia, partilham a “moeda única”, o euro. Confia-se no dinheiro, querendo ser-se rico, mas o dinheiro desvaloriza-se. Sirva-nos este exemplo. O preço do navio[1] era de 8 500 000. Em euros, parece um preço razoável. Porém, o livro de registos da “Casa António Pedro da Costa”, é de finais do séc. XIX. Tratava-se de oito milhões e quinhentos mil reis, ou seja, oito mil e quinhentos escudos, ou oito contos e meio, ou cerca de 42 euros. Além de se desvalorizarem, as moedas de cada país (libras, dólares, francos, yenes...) variam de valor segundo o câmbio, sobretudo em tempo de guerra. O uso do euro representa uma tentativa de simplificar as trocas comerciais e uniformidade dos preços dentro da União Europeia. Com sucesso? Haverá algum país, república, reino, lugar onde a moeda seja sempre a mesma e tenha sempre o mesmo valor? Sim, mas não neste mundo!

Pela Quaresma, ouvimos sempre o relato da Paixão de Cristo onde se recorda o seu encontro com Pilatos. Nesse momento Jesus diz-lhe: “O meu reino não é deste mundo.” João (18; 24). Acontece que todos os homens vivem “neste mundo”, mas estão destinados a viver noutro reino, no reino de Deus. Então, deve existir uma moeda que possa corresponder aos objetivos das pessoas que, vivendo neste mundo, desejam chegar ao reino de Deus, ao Céu. Essa moeda é a oração e, tal como o euro, pode ser usada além fronteiras. Na verdade, não só tem valor em todo o mundo como é a única moeda aceite no reino de Cristo, no Céu. Assim como há notas e moedas, a oração pode ser corporal ou espiritual. Geralmente “compra-se” com notas e moedas. As dores corporais são a oração do corpo se o espírito as acompanha com as virtudes da paciência (aceitação) e da humildade.

Nesse reino, a nota de maior valor é única. Foi a paixão e morte na Cruz do Rei que se ofereceu para salvar o seu povo, os cristãos. Havia mais duas cruzes no Calvário com os seus condenados, dois ladrões. O mau ladrão desafiou Jesus a salvar-se e a salvá-los; o outro, Dimas, repreendeu-o, lembrando-o de que mereciam tal suplício, mas Jesus não, pois nunca fizera mal a ninguém. Logo Jesus lhe garantiu: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Ambos sofriam o mesmo suplício, mas um salvou-se e o outro condenou-se. Ambas as notas eram de enorme valor, mas uma delas era falsa. Uma foi suficiente para “comprar” a santidade de Dimas. Como podemos distinguir a falsa da verdadeira? Pela humildade de Dimas e a exigência (“salva-te e salva-nos”), e a soberba do mau ladrão.

É pela falta de humildade que se conhecem as moedas e notas falsas. A Virgem Maria, que se reconheceu como “escrava do Senhor”, usou também uma nota única, de valor inferior à do seu Filho, mas de tão alto valor que continua a saldar as dívidas de quem lhe pede ajuda em nome de seu Filho. S. José possui a terceira nota de muito valor.

Na realidade, cada pessoa que nasce vem com uma grande fortuna: a capacidade de poder ser santa. Basta-lhe ter nascido para ter possibilidade de ficar rica.  Receberá a “fortuna” ao ser batizada. Claro que corre o risco de gastar mal o “dinheiro”, desperdiçando os seus sofrimentos (que são oração) como o mau ladrão, mas pode recuperá-lo confiando na misericórdia divina, como Dimas, com uma confissão contrita.

Neste Reino, até as moedas pequenas valem muito. O sorriso, a compreensão, uma jaculatória, a boa vontade, a visita a um doente... Santa Teresa de Lisieux nada fez de especial, mas as suas “coisas pequenas”, feitas por amor, levaram-na aos altares.

A oração é fácil e acessível. Um senhor dizia a um familiar que sofria: “Não devo dizer isto porque sou ateu, mas se pudesse, rezava por ti.” Já estava a rezar. O trabalho, o cuidado da família, o tempo de desporto, de descanso, de convívio com amigos... tudo pode ser aproveitado para fazer oração. Basta que se “fale” com Deus (oração) ao longo do dia: “Jesus, é por teu amor”, “Jesus, vês? Estás aí?”, “Jesus, ouves? Preciso mesmo de arranjar emprego”... “Jesus, faça-se a Tua vontade”.

Isabel Vasco Costa


[1] Trata-se da barca “Viajante” (1850-1917), o primeiro navio português a atravessar o Canal do Suez.


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