Num vídeo, contava-se um episódio familiar. Manuel costumava ir passar as férias da Páscoa com os avós. Com dez anos, insistiu muito com os pais para que o deixassem ir sozinho, pois já era crescido. Contrariados, os pais levaram-no à estação ferroviária e acompanharam-no ao seu lugar. Pouco antes de sair, o pai meteu-lhe um papel no bolso do casaco e recomendou-lhe que o lesse caso se sentisse mal. A viagem começou bem, mas as pessoas levantavam-se, entravam e saíam do compartimento, estranhavam que uma criança viajasse sem companhia... Manuel começou a inquietar-se e a sentir um certo medo. Lembrando-se do último gesto do pai, leu o papel que ele lhe deixara: “Se não te sentires bem, eu estou na última carruagem”.
Esta história pode servir-nos como exemplo de autoridade sem autoritarismo e para pensarmos sobre esta qualidade humana.
De onde nos vem a autoridade? A palavra autoridade não está bem vista nos nossos tempos, mas é algo próprio dos homens; todas as pessoas podem e devem exercer autoridade em certos momentos e circunstâncias da sua vida.
A propósito do sacerdócio ministerial, o Papa Bento XVI[1] escreve “...a missão do sacerdote (é) de governar, de guiar, com a autoridade de Cristo, não com a própria, a porção do Povo que Deus lhe confiou”. Inspiremo-nos na pessoa de S. José para tentar compreender e exercer a autoridade que corresponde a cada um de nós.
2)A porção do povo que Deus lhe confiou. Nesta catequese, Bento XVI dirigia-se aos sacerdotes, mas os leigos podem ser chamados a exercer o chamado “sacerdócio comum dos leigos” à porção do povo de Deus que são os seus filhos. Para outros serão também os seus alunos, doentes, empregados...
O pai desta nossa história não se zangou nem se impôs ao filho, mas fez o que achava que devia fazer. Estava lá, no mesmo comboio. Não lhe deixou o telemóvel com um vídeo de conselhos. A sua presença não foi de amor virtual, foi de amor real. Quem pode esquecer a autoridade de um pai que, parecendo deixar-lhe apenas um pedaço de papel, lhe dá a sua presença incondicional, como Deus faz connosco? Parece que nos abandonou, mas está perto. Basta ir até à última carruagem enquanto está no comboio. Sem “ler o papel”, não teria tido conhecimento da presença do pai no comboio. Não teria sentido o conforto, a segurança do seu amor.
A autoridade deve ser exercida como um serviço. A conhecida frase: “Não te digo. Se eu te dissesse, ficavas a saber tanto como eu.” manifesta o oposto do que deve ser a autoridade. O professor ganhou autoridade ao aprender para ensinar. Se não ensina, deixa de ser professor; perdeu autoridade. O diploma do médico reconhece-lhe autoridade para exercer a medicina como um serviço. O patrão ganha autoridade se paga o salário justo, se dá condições de trabalho apropriadas, se respeita o horário dos empregados, se leva em conta as situações familiares e de saúde de cada um, etc.
É fácil reconhecer autoridade a quem é competente na sua profissão, a quem busca a sabedoria humana com sentido de serviço, a quem se empenha em cumprir com as suas obrigações de liderança (procurando conhecer a verdade dos acontecimentos e agindo em conformidade com a justiça e o bem comum). A autoridade faz parte da vocação de cada um e, por isso, é bom prestar atenção ao que Deus pede a cada um. A S. José, deu-lhe autoridade para ser o pai adoptivo de Deus! E que bem soube ele usar a sua autoridade.
[1] Bento XVI, “Oração e Santidade”, Catequeses ao Povo de Deus III, pg. 356
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