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segunda-feira, 22 de março de 2021

Maternidade não é romance, é vida real

Quando a moda da comiseração de algumas mulheres se baseia pelo que acham que estão a perder, sentem-se umas desgraçadas por serem mães, é preciso focar no mais importante e ajudar a recentrar a beleza escondida nas coisas pequenas da maternidade.

Não, ser mãe não é um fardo, não é uma canseira, um extra que a vida nos impôs, ou melhor é isso e muito mais. So What? É a maravilha de sermos confrontadas com o mistério da vida humana a cada momento que passa na vida dos nossos filhos e na nossa. Sou uma mulher muito mais completa e feliz desde que fui mãe pela primeira vez, bem sei que explicar isto a amigas, não é evidente, tendo eu tantos filhos, mas a vida muda-nos as prioridades: não compro tantas coisas, invisto mais na educação, livros, actividades desportivas, em vez de comprar playstations que seria o grito de loucura para outros miúdos, muitos sem companhia familiar e sem imaginação para brincar. Aliás defendo que tecnologia é o menos possível, não há nada como o convívio familiar, uma boa história à mesa e muitos jogos para nos divertirmos. Pequenas coisas fazem-nos mais felizes como brincar em casa, dar um passeio, ir ver o mar. No entanto, não são bens materiais, antes experiências que ficam na memória deles e nas nossas de família.

Sou mãe de cinco filhos, trigémeos rapazes, mais um rapaz e rapariga, dos 5 aos 9 anos. Trabalho não me falta, seja com o dia-a-dia dos filhos, seja com a conciliação da vida familiar e trabalho profissional.

Desde a gravidez que não tenho noites tranquilas, como muitos pais e mães sabem, filhos criados trabalhos dobrados. Nos primeiros anos com os trigémeos foram noites trocadas, a casa do avesso, roupa para arrumar sem fim, nem me quero lembrar, mas passou tudo tão rápido. A vida é muito dinâmica e o desafio agora é ensiná-los a estarem motivados para a escola, aprenderem a estudar, dar-lhes um sentido no meio de tanta confusão do COVID-19.

Na pandemia o que me deu mais alento foi a imensa responsabilidade de ter de pensar o futuro dos meus filhos, dar-lhes expectativas de vida, ter por que lutar, porque muita gente ficou sem trabalho, sem horizontes para viver. E isso é muito educativo, aprenderem enquanto são pequenos que a vida não é fácil, é importante saberem enfrentar problemas agora, mais tarde vai dar-lhes um grande input quando forem mais crescidos, e surgirem os problemas na adolescência e na vida adulta, o treino de agora não é em vão.

A maternidade veio dar sentido à minha vida, projectou-me para um futuro que não sei qual é, mas que seguramente será muito importante para a vida dos meus filhos. Essa imensa responsabilidade dá-me ânimo para me levantar todos os dias e pensar: e agora como vai ser o nosso dia?

Depois de os miúdos estarem na escola, é tempo de rever as prioridades do meu dia, como organizar o trabalho, falar com as amigas e onde vou pôr a ginástica?! Os dias não são todos iguais, por isso, é preciso ir gerindo dia-a-dia com a vida dos filhos. Porque de repente tudo muda, com o desconfinamento e volta a confinar.

Quando as jovens mães me falam dos medos de ter mais um filho, falo sempre de que a família é sempre mais feliz com um novo bebé, aquilo que parecia um drama, torna-se na maior alegria da casa. E sejamos sérios precisamos de famílias com filhos, sob pena de um acréscimo demasiado acelerado da baixa natalidade para a renovação das próximas gerações.

Com o inverno demográfico a aumentar todos os anos em Portugal, em 2020 nasceram menos 1.887 bebés do que no mesmo período do ano passado. Verificamos uma queda superior a 30%, o que aponta a pandemia como o principal motivo, a perda de rendimentos, o confinamento e o teletrabalho.

Mas se a preocupação das famílias está na questão do trabalho há sempre a possibilidade de mudar de vida, há autarquias que promovem a vida das famílias, especialmente no interior, e posso assegurar-vos que há muito mais qualidade de vida no campo do que nas grandes cidades: comunidades mais pequenas que se interajudam, os miúdos podem ir a pé da escola para casa, com mais segurança e mais tempo para a família. O teletrabalho foi a grande mais-valia da pandemia, a inclusão na lei do trabalho, permitiu, uma grande mudança de vida: uma melhor conciliação da vida familiar e trabalho.

Vale a pena rever as prioridades e explorar ao máximo as novas potencialidades do novo normal, para investir numa vida com filhos e num projeto familiar sustentável, que seja acima de tudo feliz!


Marta Roque
Investigadora em temas da Sociedade
Mãe de 5 filhos


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