Caríssimos diocesanos, a paz do Senhor esteja convosco!
1 - Neste
ano dedicado a São José, o Santo Padre Francisco convida-nos a repensar e a
cultivar a vida das nossas famílias, à luz da Sagrada Família de Nazaré. Para
isso proclamou um Ano da Família. Com esta carta que vos dirijo, irmãos e
irmãs, quero ajudar-vos nessa reflexão.
A Sagrada
Família de Nazaré, primeira família do Novo Testamento, família de servos na
qual o Filho de Deus, Jesus Cristo, foi acolhido e viveu é, de facto, uma
realidade humana e divina. Ali, onde Cristo se formou e cresceu, Deus foi
adorado, amado e obedecido. E as famílias cristãs que a têm por modelo são,
como ela, expressões da igreja doméstica onde Deus, pelo Seu Espírito, vive, reina
e governa como seu Senhor.
Onde estão
e como vivem, nesta diocese, essas famílias centradas no amor de Deus, abertas
ao dom da vida e cultivando, entre os seus membros, o amor fraterno? Como poderão
ser formadas? Como poderemos acompanhá-las? Como poderão subsistir neste mundo materialista
tão avesso às realidades espirituais?
Como é sabido, a vida das famílias de hoje, na sua grande maioria, não está muito moldada pela fé, pela esperança e pela caridade, por estas três virtudes teologais que dão forma à vida de cada cristão. E as difíceis condições para a sua subsistência levam cada pessoa, muitas vezes, a não suportar a fidelidade, atitude fundamental para a estabilidade da vida familiar. Os divórcios têm aumentado muito no nosso país. E os casais têm poucos filhos ou nenhum, para poderem viver a sua vida tranquilamente, como dizem, mas cavam assim o fosso da solidão da sua velhice. Quem quer ganhar a sua vida perde-a, diz o Senhor no Evangelho.
2 - O problema básico da nossa sociedade é o afastamento de Deus. Deus não tem lugar na vida das pessoas. E assim, cada pessoa humana facilmente se coloca a si mesma no lugar de Deus, reclama os seus direitos e exige ser amada e adorada pelos outros. Este posicionamento leva cada um a exigir ao próximo, tudo aquilo que julga necessário para ser feliz. E, em última análise, quando não corresponde, é visto como incómodo a evitar, ou como inimigo de que é preciso livrar-se. Sem Deus a viver em nossos corações, sem Deus no meio de nós, sem nos reconhecermos amados por Ele e sem procurarmos amá-l’O, não podemos amar-nos, verdadeiramente, uns aos outros. Sem Deus, fonte da vida, no seu meio, o amor do casal facilmente se resume ao encaixe momentâneo de duas necessidades. Por isso o primeiro mandamento não consiste em amar o teu marido, a tua esposa, ou os teus filhos. Amar o próximo é o segundo mandamento. O primeiro mandamento da Lei de Deus é este: escuta Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Este é o mandamento primordial que nos permite cumprir todos os outros, e sem o qual nenhum dos outros pode ser cumprido. Mas quem pode cumpri-lo, contando apenas com as suas forças?
3 – É pelo
anúncio do Evangelho que suscita a fé, que Deus começa a entrar e a viver em
nós. Anunciar o Evangelho é muito mais que ensinar a doutrina do Catecismo. É
comunicar o Espírito Santo que nos leva a seguir o Senhor Jesus Cristo, a viver
a Sua vida, a imitar as suas ações, a fazer as obras que Ele faz. A fé em Nosso
Senhor Jesus Cristo Ressuscitado de entre os mortos liberta-nos da escravidão
que é vivermos para nós mesmos semeando situações de inferno por toda a parte,
e leva-nos a viver em comunidade, em igreja, praticando o amor fraterno, como
Ele nos amou. Assim, nós os cristãos estamos no mundo, mas não somos deste
mundo. A nossa pátria é o Céu, é Deus, é o Amor. Para nós, cristãos, o Amor é
algo mais que sentimentos. Nisto consiste o amor: Jesus deu a Sua vida por
nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos (1Jo 3,16). Mas quem pode
amar assim? Quem poderá morrer pelo outro? Dar a sua vida pelos outros?
Nos Sacramentos da Iniciação Cristã, Batismo, Confirmação e Eucaristia, recebemos a Vida. Nos Sacramentos da Maturidade, na Eucaristia, na Ordem e no Matrimónio damos a vida, amamos, e somos fecundos. A nossa identidade cristã e a capacidade de amarmos e vivermos como filhos de Deus recebemo-la na Iniciação Cristã. Mas é nos Sacramentos da Maturidade, concretamente no Matrimónio e na Ordem, que nos tornamos fecundos amando, dando a vida. Quem não vive mergulhado no amor do Senhor Jesus Cristo, quem não celebra a Eucaristia e não se oferece ao Pai por Cristo, com Cristo e em Cristo, abraçando a sua Cruz em cada dia, não pode amar ninguém verdadeiramente porque é escravo do medo de morrer. As famílias são o principal meio de luta contra a morte. Mas é preciso que os seus membros tenham sido batizados com Cristo na morte e com Ele ressuscitados, para se poderem amar e dar as suas vidas. Como afirma São João, nós sabemos que passamos da morte para a Vida porque amamos os irmãos (1 Jo 3,14).
4 – Família, torna-te aquilo que és! Lembro-me
destas palavras com que o Papa São João Paulo II, na sua encíclica Familiaris
Consortio, incentivava as famílias a regressarem ao desígnio divino para o qual
foram criadas: serem comunidades de vida e de amor, guardar, revelar e
comunicar o amor, qual reflexo vivo e participação real do amor de Deus pela
humanidade e do amor de Cristo pela Igreja, Sua esposa.
Hoje, caros irmãos e irmãs que estais casados, podeis testemunhar que a
vossa pertença à Igreja e a participação regular na liturgia dominical vos têm mantido
na fidelidade e ajudado a ver no outro, o rosto de Cristo. A pertença a uma
comunidade concreta tem-vos ajudado a aceitar os filhos, a educá-los na fé, e a
conservar convosco, em vossas casas, os avós idosos. Hoje, como sempre,
caríssimos irmãos e irmãs, não é possível vivermos a vida cristã solitariamente.
Ninguém pode ser cristão sozinho!
A evangelização permanente das famílias faz-se também na comunidade.
Como é belo sermos igreja doméstica! Como é lindo vermos no pai de família o
sacerdote da casa, que preside à oração e dá catequese aos filhos!
Sabemos que uma paróquia sem casais e sem jovens é uma paróquia envelhecida. Mas também sabemos que uma família, sem a paróquia, muito dificilmente se pode considerar família cristã. Hoje em dia, com o carro, é fácil procurar uma missa mais ao nosso gosto e irmos variando, domingo após domingo, assistindo aqui ou além. Mas para haver Igreja, para nos reconhecermos e caminharmos como irmãos, é necessário sermos fiéis e frequentarmos e celebrarmos juntos a mesma Eucaristia. É muito diferente, para melhor, participarmos como celebrantes, em vez de estarmos assistindo apenas à missa dominical. E, já agora, não é a mesma coisa assistires à missa pela televisão, ou estares presente nela, como celebrante. Ou é igual, para ti, sentares-te à mesa de um banquete para conviver e comer, ou assistires a esse banquete sentado diante de um écran?
5 – Como vamos viver este ano dedicado a S. José e à família?
É
evidente a necessidade de uma evangelização básica que torne visível e atuante
no mundo, a novidade do Evangelho. A Igreja tem essa missão indeclinável,
sempre e em toda a parte, e em todas as circunstâncias, nas mais favoráveis e
também nas mais adversas. Com a pandemia a condicionar tudo, essa evangelização
não se afigura nada fácil neste momento. Mas o confinamento e a obrigação de
estarmos em casa pode ser uma ajuda para cultivarmos a oração individual e
comunitariamente, tendo o silencioso São José por nosso modelo. São José não
teve a missão de anunciar o Evangelho, mas cumpriu bem a Sua missão de protetor
de Maria e de Jesus, missão para a qual Deus o escolheu.
Concretamente, caros irmãos e irmãs, os vossos párocos têm para vender
o livrinho São José, padroeiro da diocese de Beja que mandámos imprimir.
Nele encontrareis elementos catequéticos, litúrgicos e devocionais que vos
poderão ajudar a conhecer melhor, a amar e a venerar este grande Santo,
padroeiro da Igreja Católica e patrono principal da nossa diocese. Há também
estampas de uma imagem pintada de São José, do tamanho de um postal ilustrado,
que podeis colocar nos vossos oratórios.
Deixemo-nos guiar por São José, nosso padroeiro. Ele escutou o
Evangelho que Deus lhe fez chegar por meio de um anjo, recebeu como esposa a
Virgem Maria, grávida por obra do Espírito Santo, e não se desfez desse menino
que não era gerado por ele, não quis que Maria abortasse, mas dedicou-se, com
verdadeiro amor de pai, a fazê-l’O crescer. A obediência de São José, a sua oração
e o trabalho que realizou, foram meios que o levaram a ser este admirável
colaborador de Deus no mistério da Encarnação do Seu Verbo. Imitemos São José,
caros irmãos, na vida das nossas famílias. Aproveitai este ano para vos
escutardes uns aos outros e cultivardes a comunhão entre vós.
Essa imagem de São José que pintei para a Diocese de Beja irá por toda a diocese neste ano que o Santo Padre lhe dedicou: assim, em Março estará em Beja; nos meses de abril e maio no arciprestado de Cuba; em junho e julho no arciprestado de Moura; em agosto e setembro no arciprestado de Almodôvar; em dezembro e janeiro no arciprestado de Santiago do Cacém e, finalmente, em fevereiro e março do próximo ano, no arciprestado de Beja.
6 - Estamos na Quaresma. Aproximam-se as Solenidades Pascais. Com o fim
do confinamento é possível celebrarmos a Eucaristia com as portas abertas das
igrejas. Queridos irmãos e irmãs: convido-vos, com insistência, a que venhais
celebrar connosco a Eucaristia dominical e a preparar-vos, pelo Sacramento da
Reconciliação, para celebrarmos a Páscoa proveitosamente.
Lembro-vos a situação difícil da maioria das paróquias no que se refere
a dinheiros. Sede generosos nas vossas ofertas, e não vos esqueçais da Renúncia
Quaresmal este ano orientada para ajuda dos pobres da nossa Diocese. Deve ser
entregue no Domingo de Ramos.
Vinde renovar as promessas do vosso Batismo e convidai os vossos
familiares, amigos e vizinhos, para virem receber e alimentar-se da vitória de
Jesus Cristo sobre a morte, sobre a nossa morte. Estai atentos às indicações
dos vossos párocos. Eles não se pouparão a trabalhos para vos ajudarem a viver
a Páscoa deste ano.
Rezo por vós.
Rezai por mim.
Uma saudação muito amiga para cada um de vós,
com a bênção do Senhor,
do
+ João Marcos, bispo de Beja
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