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quinta-feira, 25 de março de 2021

Tinha Sonhos, Vários Belos Sonhos

Acordei feliz a pensar que era o dia de aniversário do meu filho mais novo. Na impossibilidade de estarmos juntos neste dia tínhamos feito um almoço antecipado num dia de muito vento e aguaceiros. O almoço estava programado para a esplanada de um restaurante. O que faz a pandemia!!! Apesar do tempo instável, permanecemos na esplanada felizes. Hoje, dia do seu aniversário era dia de festa também para mim. Apetecia-me estar só a meditar. Queria ir à igreja dos Mártires, onde rezei e admirei toda a sua beleza e imponência. A seguir dirigi-me para a beira-rio. Estava ansiosa por rever o Rio Tejo, atravessar o Terreiro do Paço, ir até ao Cais das Colunas. Passeei ao longo da Ribeira das Naus. Que bem que me soube! Regressei ao Terreiro do Paço. Há muito tempo almejava almoçar no Restaurante Martinho da Arcada, datado de 1782, o mais antigo café de Lisboa, frequentado por Fernando Pessoa, entre outros. Será que está aberto, tem esplanada e não é dispendioso? Na verdade Deus, que é Pai, estava a mimar-me. Não só estava aberto, tinha esplanada e o prato do dia, um dos meus preferidos, bacalhau espiritual, era económico. Senti-me muito confortável na esplanada, como uma vista lindíssima para a praça e para o rio. Tinha realizado um sonho material.

De regresso, decidi ir visitar uma exposição itinerante no Oratório de S. Josemaria que se encontrava lá até ao dia 5 de maio. Já me tinham dito que era excelente, denominada: “75 Anos do Opus Dei em Portugal”. Por coincidência havia no cartaz uma frase de S. João Paulo II, que me tocou profundamente: “Lembrar com gratidão o passado, viver com paixão o presente, abrir-se com confiança ao futuro”. O destino tem destas coisas! Logo ao ver as primeiras imagens de S. Josemaria, por uns momentos visualizei o altar da Igreja de Santa Maria da Paz, existente na sede do Opus Dei em Roma, debaixo do qual se encontra sepultado o corpo deste santo. Tinha sido durante uma visita feita há muitos anos, na companhia do meu filho que era hoje o aniversariante. Senti-me grata por esta recordação. Continuei a visita. Ao ver a fotografia de D. Álvaro del Portillo, beatificado há alguns anos na cidade de Madrid, recordei a cerimónia a que assisti na Basílica de São Pedro no Vaticano, quando fora ordenado bispo. Tinha sido um dos principais apoios do fundador, o seu colaborador mais próximo. Tantas memórias: as cerimónias da beatificação em 1992 e posteriormente da canonização de S. Josemaria no dia 6 de outubro de 2002, que tiveram lugar na Praça de São Pedro em Roma, nas quais participei acompanhada pelos meus filhos.

Fiz um esforço por me centrar na exposição. Encontrava-me diante de um painel que referia uma frase de S. Josemaria: “Que doces são os corações dos meus filhos portugueses”. Fiquei com alguma curiosidade. Havia na fotografia uma terrina de estilo popular e antiga, já com alguns grampos. É uma recordação de um momento que teve lugar em Portugal, em 1972. Tinha sido comprada numa loja de velharias e antiguidades na cidade de Coimbra. Foi oferecida ao fundador da Obra, repleta de chocolates em forma de coração. Foi então que proferiu a frase acima referida. S. Josemaria gostou tanto do presente que o levou para Roma, porque lhe lembrava a misericórdia de Deus. Com alguma frequência referia-se à terrina do seguinte modo: “Vistes aquela terrina com grampos? Uma terrina de louça, aldeã, muito simpática. É uma coisa vulgar, mas encantou-me, porque se via que a tinham usado muito, tinha-se quebrado e tinham-lhe posto bastantes grampos para continuarem a usá-la. Além disso como adorno, tinham escrito: ‘Amo-te, amo-te, amo-te’. Pareceu-me que aquela terrina era eu. Fiz oração com aquela velha peça, porque também eu era assim: como a terrina de faiança, partida e com grampos. Gosto de repetir ao Senhor: “Com os meus grampos, amo-te tanto!” Podemos amar o Senhor mesmo estando partidos”.

Dei mais uns passos a percorrer a história dos 75 anos do Opus Dei em Portugal. Lembrei-me de um episódio engraçado ao ver uma fotografia de D. Alberto Cosme do Amaral. Encontrava-me de visita a Roma com os meus filhos. Resolvemos ir visitar a igreja Prelatícia de Santa Maria da Paz. Achei que o mais económico era apanhar um elétrico numa praça perto do Vaticano que nos deixava perto da Viale Buno Buozzi, onde se situa a sede do Opus Dei. Só havia um passageiro no elétrico. Quando nos aproximámos para nos sentar deparámo-nos com o Senhor Bispo de Leiria-Fátima que ficou feliz e admirado por nos ver na cidade de Roma.

Novamente, uma fotografia de São João Paulo II, introduz-nos num espaço que nos proporciona inúmeras recordações de santos que foram pessoas simples que viveram no meio de nós e de cuja companhia pudemos usufruir. Uns já são de altar, outros passaram discretamente pelo mundo fazendo o Bem. Uma vez tive oportunidade de participar em Roma num evento sobre a Família. A certa altura houve uma audiência na Sala Minerva com o então Papa João Paulo II. Tenho bem presente a sua alegria, o seu olhar doce, a sua disponibilidade e todo o seu interesse pelo congresso e pelos resultados que daí viriam, em prol do bem-estar das Famílias. Noutra altura tive oportunidade de visitar na Universidade Lateranense uma Biblioteca sobre a Família, criada por este Santo. Com emoção recordo a sua partida e o seu funeral no qual tive oportunidade de participar na companhia do meu filho mais velho. Passámos 14 horas, toda uma noite em pé, firmes, no meio de milhares de pessoas, para lhe render a última homenagem.

Sobre uma base estava exposto o livro de São Josemaria denominado “Caminho”, fruto do trabalho sacerdotal que São Josemaria tinha publicado com o título de “Consideraciones Espirituales”. Na edição seguinte, em 1930, o livro ampliado recebe já o título definitivo. Hoje em dia publicaram-se cerca de 4 500 000 exemplares em 43 idiomas. É constituído por pontos de meditação para crescer na amizade com Deus e ajudar os outros. Tem um estilo direto, de diálogo sereno. L’ Osservatore Romano comentou: “Mons. Escrivá de Balaguer escreveu mais que uma obra-prima escreveu inspirando-se diretamente no coração, e ao coração chegam diretamente um a um, os parágrafos que formam o Caminho”.

Para finalizar não posso deixar de agradecer à organização do evento os bons momentos que me proporcionaram. Obrigada pela partilha da história de fé e de entrega, trabalho e alegria desta exposição que percorre 75 anos de CAMINHO. Muitos parabéns. Concluo com o ponto 766: “ O abandono à vontade de Deus é o segredo para ser feliz na Terra. – Diz, pois: “ meus cibus est, ut faciam voluntatem ejus”- o meu alimento é fazer a Sua vontade”.

Maria Helena Paes






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