O século XIX viu germinar no seu seio algumas ideologias
políticas, que marcaram a modernidade e haviam de desencadear uma profunda
crise cultural, aliada ao despoletar do desenvolvimento e endeusamento do progresso
da ciência, prometendo um futuro mais feliz, mais digno do homem que se
concebia com autonomia, eficácia e liberdade suficiente para não depender dum
Ser Criador, mas considerando-se um aperfeiçoamento evolutivo da sua condição
de primata especial a caminho do super-homem.
Um facto, lamentável sem dúvida, é que o século XX mergulhou
inicialmente numa guerra mundial tremenda, a primeira, aquela que havia de
acabar com a paz no mundo. O homem “ciente” e inconsciente da sua
superioridade, olvidou a sua natureza antropológica, idolatrou-se a si mesmo e
aos nacionalismos exasperados e exagerados, passando a renegar todos os valores
mais elevados, fechando-se à transcendência e à fé, tornando-se num verdadeiro
lobo do homem, um predador que ainda não parou de exercer o seu poder maléfico,
de muitos modos e feições, por todo o mundo.
Crises várias vieram em catadupa, de valores, económica,
cultural, emocional e afectiva, em consequência da radical falta de sentido do
homem e de significado da história, pois na sua ânsia de querer ser deus, mergulhou
num existencialismo negativista, vazio, onde a vida se torna num absurdo, numa
paixão inútil, num pessimismo bloqueante com um fim derrotista, fatalista e
nihilista.
Arauto dos valores e fiel seguidor da moral nietzschiana, o
europeu da modernidade assumiu-se como árbitro do futuro, do destino da sua
vida e da dos outros. Com uma autonomia absoluta e uma anarquia inerente,
inicia o processo da subjectivização do mundo, do homem e da natureza. O
importante era romper com os modelos pré estabelecidos da humanidade,
nomeadamente no que toca à família, ao casamento, à maternidade, numa palavra,
aquilo que gostavam de definir como “moral burguesa”.
Slogans como “É proibido proibir” e “ Sexo,
droga e rock and rol”, entre tantos outros, deram o mote de partida às revoltas
estudantis que começaram na Califórnia e se propagaram à Universidade da
Sorbone, em Maio de 1968, estendendo-se a Berlim, cidade do México e Tóquio.
Estas bruscas manifestações e revoluções culturais trazem um
misto de revolta contra a violência da guerra,”make love, not war”, mas tiveram
um forte implemento de correntes ateias, racionalistas e de pendor anti-clerical,
se não mesmo de feroz perseguição a toda uma tradição moral e espiritual
cristã, por eles também apelidada de retrógrada.
Um cocktail cultural que se embrenhou em todos os sectores da
sociedade, gerando uma modernidade ou ultra-modernidade com consequências bem
marcantes na humanidade hodierna. A concepção equivocada da natureza do homem
renegando a sua ascendência superior, reduzi-lo-ia a uma mera peça de
engrenagem, a uma coisa que se pode usar e descartar, a uma célula da sociedade
totalitária, ao insignificante e ao banal.
Sem paternidade divina e sem a sua capacidade racional, a
qual Freud se encarregou de transformar em impulsos sexuais alojados no
inconsciente, este primata ficou à mercê do mais forte, do que domina o poder,
desprotegido e disponível para viver no permissivismo, na dependência dos
caprichos hedonistas que lhe acenaram como forma de isco e que a sua mentalidade
e vontade fraca, sem capacidade de critica, aceitaram como um presente
envenenado, como um paliativo de fuga ao peso dum mundo cinzento e
claustrofóbico, sem luz ao fundo da vida, sem nada mais a conquistar ou a almejar.
Cenário criado e montado para aparecerem em cena os
ingredientes considerados necessários e imprescindíveis para suportar a vida: a
droga, o amor livre, a libertinagem, os excessos, a fantasia, a alienação e a
busca desenfreada de consumo.
O sistema também se encarregou de impor a sua indústria
cultural servindo-se dos modernos mass
media para homogeneizar as ideias e construir os “ideais” que lhes convém
que a sociedade tenha, por trás de tudo isto há um capitalismo económico e
tecnológico, que em conjunto se conjugam para uma nova (des)formatação do ser
humano.
É interessante verificar como nuns escassos 60 anos toda a
sociedade se modificou, mas também não é menos importante fazer uma incursão
noutras áreas da informação e do saber, para estar atento e informado, porque
nestes tempos de aparente apocalipse medram horizontes de esperança, porque o
mal nunca tem a última palavra e sabemos de antemão que atrás de tempos, tempos
vêm…
Maria Susana Mexia |
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