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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Sexo, droga e rock and roll



O século XIX viu germinar no seu seio algumas ideologias políticas, que marcaram a modernidade e haviam de desencadear uma profunda crise cultural, aliada ao despoletar do desenvolvimento e endeusamento do progresso da ciência, prometendo um futuro mais feliz, mais digno do homem que se concebia com autonomia, eficácia e liberdade suficiente para não depender dum Ser Criador, mas considerando-se um aperfeiçoamento evolutivo da sua condição de primata especial a caminho do super-homem.

Um facto, lamentável sem dúvida, é que o século XX mergulhou inicialmente numa guerra mundial tremenda, a primeira, aquela que havia de acabar com a paz no mundo. O homem “ciente” e inconsciente da sua superioridade, olvidou a sua natureza antropológica, idolatrou-se a si mesmo e aos nacionalismos exasperados e exagerados, passando a renegar todos os valores mais elevados, fechando-se à transcendência e à fé, tornando-se num verdadeiro lobo do homem, um predador que ainda não parou de exercer o seu poder maléfico, de muitos modos e feições, por todo o mundo.

Crises várias vieram em catadupa, de valores, económica, cultural, emocional e afectiva, em consequência da radical falta de sentido do homem e de significado da história, pois na sua ânsia de querer ser deus, mergulhou num existencialismo negativista, vazio, onde a vida se torna num absurdo, numa paixão inútil, num pessimismo bloqueante com um fim derrotista, fatalista e nihilista.

Arauto dos valores e fiel seguidor da moral nietzschiana, o europeu da modernidade assumiu-se como árbitro do futuro, do destino da sua vida e da dos outros. Com uma autonomia absoluta e uma anarquia inerente, inicia o processo da subjectivização do mundo, do homem e da natureza. O importante era romper com os modelos pré estabelecidos da humanidade, nomeadamente no que toca à família, ao casamento, à maternidade, numa palavra, aquilo que gostavam de definir como “moral burguesa”.

Slogans como “É proibido proibir” e “ Sexo, droga e rock and rol”, entre tantos outros, deram o mote de partida às revoltas estudantis que começaram na Califórnia e se propagaram à Universidade da Sorbone, em Maio de 1968, estendendo-se a Berlim, cidade do México e Tóquio.

Estas bruscas manifestações e revoluções culturais trazem um misto de revolta contra a violência da guerra,”make love, not war”, mas tiveram um forte implemento de correntes ateias, racionalistas e de pendor anti-clerical, se não mesmo de feroz perseguição a toda uma tradição moral e espiritual cristã, por eles também apelidada de retrógrada.

Um cocktail cultural que se embrenhou em todos os sectores da sociedade, gerando uma modernidade ou ultra-modernidade com consequências bem marcantes na humanidade hodierna. A concepção equivocada da natureza do homem renegando a sua ascendência superior, reduzi-lo-ia a uma mera peça de engrenagem, a uma coisa que se pode usar e descartar, a uma célula da sociedade totalitária, ao insignificante e ao banal.

Sem paternidade divina e sem a sua capacidade racional, a qual Freud se encarregou de transformar em impulsos sexuais alojados no inconsciente, este primata ficou à mercê do mais forte, do que domina o poder, desprotegido e disponível para viver no permissivismo, na dependência dos caprichos hedonistas que lhe acenaram como forma de isco e que a sua mentalidade e vontade fraca, sem capacidade de critica, aceitaram como um presente envenenado, como um paliativo de fuga ao peso dum mundo cinzento e claustrofóbico, sem luz ao fundo da vida, sem nada mais a conquistar ou a almejar.

Cenário criado e montado para aparecerem em cena os ingredientes considerados necessários e imprescindíveis para suportar a vida: a droga, o amor livre, a libertinagem, os excessos, a fantasia, a alienação e a busca desenfreada de consumo.

O sistema também se encarregou de impor a sua indústria cultural servindo-se dos modernos mass media para homogeneizar as ideias e construir os “ideais” que lhes convém que a sociedade tenha, por trás de tudo isto há um capitalismo económico e tecnológico, que em conjunto se conjugam para uma nova (des)formatação do ser humano.

É interessante verificar como nuns escassos 60 anos toda a sociedade se modificou, mas também não é menos importante fazer uma incursão noutras áreas da informação e do saber, para estar atento e informado, porque nestes tempos de aparente apocalipse medram horizontes de esperança, porque o mal nunca tem a última palavra e sabemos de antemão que atrás de tempos, tempos vêm…

Maria Susana Mexia



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