Dados
recentemente divulgados dão uma ideia mais nítida da dimensão dos abusos
sexuais praticados por sacerdotes em vários países ao longo das últimas
décadas. São números impressionantes e tenho dificuldade em encontrar uma
explicação razoável para este fenómeno.
Convém
sublinhar que este fenómeno não se verifica do mesmo modo noutros países, que
não se verifica entre os sacerdotes mais do que noutras profissões (embora
destas se fale menos) e que as medidas preventivas entretanto tomadas pela
Igrejas de vários países (e que poderão servir de modelo para outros âmbitos
onde medidas como essas não têm sido adotadas) vêm surtindo efeito (a ponto de
serem hoje raras os casos denunciados). As situações mais frequentes não são de
abusos sexuais de crianças (pedofilia),
mas antes de atos homossexuais com adolescentes (efebofilia). São sempre reveladoras de abuso do poder clerical e de
completo menosprezo dos princípios da ética sexual cristã.
Diante
deste fenómeno, alguém verá abalada a sua fé na Igreja. Um dos motivos que é
apontado como razão da quebra acentuada da prática católica na Irlanda nos
últimos anos será, precisamente, o destes escândalos.
Outros,
porém, recordarão outras épocas da história, em que os escândalos de membros da
Igreja que traíram a mensagem de Jesus não eram menores. Nessas épocas, Deus
não abandonou a sua Igreja, não deixou de a presentear com grandes santos (São
Francisco e São Domingos na Idade Média, Santa Teresa de Ávila e Santo Inácio
de Loiola, no Renascimento), que lhe deram novo vigor. Por isso, a Igreja
resistiu a todos os escândalos e todas as crises, como não resistiria qualquer
instituição humana. Até há quem sublinhe, a propósito, que esses escândalos
serviram a muitos para reforçar a sua fé na Igreja, para descobrir como a força
e a vitalidade desta não reside nas qualidades humanas dos seus membros, mas na
assistência divina.
O
escândalo dos abusos sexuais praticados por sacerdotes também deve servir para
assim raciocinar. Não há que minimizar a gravidade do fenómeno, dizendo que os
abusos sexuais de crianças se verificam mais em outros âmbitos sociais (onde
também têm sido ocultados). É que eles, pura e simplesmente, não deveriam
existir, pois representam a perversão completa da missão do sacerdote. Mas não
podemos esquecer que também hoje Deus presenteia a sua Igreja com santos
sacerdotes. Alguns deles dão a sua vida nos lugares mais pobres e esquecidos, lá
onde não chega o trabalho (também meritório) de funcionários bem pagos de
organizações internacionais. Recordou-o um sacerdote de Angola numa carta
publicada mo New York Times e que
circulou na internet.
Disse
que não consigo encontrar explicação para este fenómeno dos abusos sexuais
praticados por sacerdotes. Há certamente que procurar razões psicológicas ou
sociológicas que possam ajudar a compreendê-lo. Mas talvez a explicação resida
numa intervenção demoníaca que a mentalidade contemporânea tem dificuldade em
reconhecer. O Papa emérito, Bento XVI, disse, quando veio a Portugal, que os
ataques à Igreja muitas vezes não vêem dos seus inimigos exteriores, mas do seu
interior. Disse Jesus, a respeito da sua Igreja, que as forças do Mal não
prevalecerão sobre ela (Mt 16, 18) –
o que quer dizer que essas forças a hão de atacar. É à luz desta promessa de
que essas forças não prevalecerão, que os maiores escândalos não poderão nunca abalar
a nossa fé na Igreja e não poderão fazer-nos perder a esperança de que esta
(também com o contributo de cada um de nós) se há de purificar e regenerar
sempre.
Pedro
Vaz Patto
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