Páginas

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

João da Cruz - 14 de dezembro

Expoente carmelita. Grande asceta, místico e poeta, insigne doutor da Igreja. Admirado por crentes e não crentes. João Paulo II o escolheu para sua tese de doutorado e o declarou patrono dos poetas

A admirável existência de Juan de Yepes -este excepcional carmelita, aclamado em todo o mundo, considerado "o maior poetas de língua castelhana" - é um heróico gesto do amor de Deus desde o início até o fim. Um dos brilhantes exemplos de entrega genuína. Uma das figuras mais representativas da mística que já passou por esta seção de ZENIT. Ele acreditou cegamente que qualquer pessoa que oferece a vida por Cristo se salva, e não foi intimidado por seu admirável compêndio de renúncias e sacrifícios, além do pelo desprezo de alguns dos seus. Deus sempre o iluminou, em particular, no cume das trevas.

Seus pais, Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez, tecelões de profissão, vivendo em Fontiveros, Ávila, Espanha, receberam com alegria a este segundo de três filhos, quando ele nasceu em 1542. Seu pai e irmão morreram em decorrência da fome. Um grande e trágica escola para o santo. A viúva, Catalina, vivia uma situação financeira muito precária e para tentar minimiza-la, primeiro se estabeleceu com seus filhos em Arevalo, Ávila, em seguida, em Medina del Campo, Valladolid. Graças à caridade dos outros, João formou-se no Colégio ‘Niños de la Doctrina’, em troca de ajudar nas missas, nos enterros, e pedir ajuda. Em 1551 a generosidade de outras pessoas permitiu que ele estudasse na escola dos jesuítas. Trabalhou no hospital de Bubas, onde atendia pessoas afetadas por doenças sexualmente transmissíveis, até que decidiu se tornar um carmelita. Como jesuíta provavelmente teria mais vantagens tanto para ele como para seus familiares, mas escolheu outro caminho, que já estava destinado a ele.

Aos 21 anos, como aluno exemplar e com uma boa base, ele ingressou na Universidade de Salamanca. Professou quando começou a estudar em 1564. Lá, contou com professores exemplares como Francisco de Vitoria, frei Luis de León e Melchor Cano, entre outros, e três anos mais tarde concluiu o bacharelado em Artes. O ano de 1564 foi significativo em sua vida. Além de ser um aluno prefeito, ele foi ordenado sacerdote e conheceu Santa Teresa de Ávila. Há anos ele praticava graves mortificações corporais, iniciadas quando aluno dos jesuítas, e ao ingressar no Carmelo, pediu permissão para continuar executando-as. Homem de intensa oração, amava tanto a solidão que, em um determinado momento, não descartou a vida monástica. Levava gravado em seu espírito a convicção que nos deixou: "No ocaso da vida serás examinado no amor; aprende a amar a Deus como Deus quer ser amado e deixa a tua própria condição”.

Santa Teresa, que tinha ouvido falar de suas virtudes, o chamou para ajudá-la na reforma carmelita que pretendia realizar. Ele, que tomou o nome de João Matias e, depois, João da Cruz. Teresa não teve dúvidas de que estava diante de um santo. Eles foram companheiros na heróica entrega e no ardor apostólico. João deixou o rastro de seu amor por Deus em Castilla e Andaluzia, bem como um fruto esplêndido em Salamanca, que acolheu calorosamente a sua sabedoria. Estava na fundação em Valladolid, Duruelo, Mancera e Pastrana, como vice prior e mestre de noviços. Foi reitor em Alcala de Henares, vigário e confessor das carmelitas do mosteiro da Encarnação, a pedido de Santa Teresa, entre outras missões.

Seus próprios irmãos se levantaram contra o zelo apostólico do santo, resistindo à reforma, que pretendia apenas conquistar uma maior fidelidade ao carisma. Em uma rede de ambições e ressentimentos secretos, foi detido em um pequeno lugar inóspito por nove meses, mantido em condições indescritíveis. Ele sofreu fisicamente e espiritualmente. A solidão e a escuridão espiritual, combatida com grande confiança na Providência divina, foram a semente do incomparável Cântico Espiritual. Envolvido pelo amor divino tentava resumir em sua prodigiosa linguagem a paixão que o consumia: “Onde é que te escondeste, Amado, e me deixaste com gemido? Como o cervo fugiste, Havendo‑me ferido; Saí, por ti clamando, e eras já ido”. Na expectativa de uma morte iminente, recebeu o consolo do céu e, com ele, a liberdade, que obteve escapando durante a noite, escondido de seus guardiões: seus irmãos.

Reforçando sua experiência mística e sua determinação para dar a conhecer ao único Deus de Amor, mudou-se para Beas de Segura, Jaén, onde continuou a ajudar os carmelitas. Ali, empreendeu uma fraterna amizade com a religiosa Ana de Jesus. Em seguida, fundou uma escola em Baeza, e continuou seu incansável percurso de Granada e Córdoba, onde estabeleceu outro convento em 1586. Tudo parecia pouco para dar a Cristo. A sede de sofrimento para assemelhar-se a Ele, ardia em seu interior: "Senhor, quero padecer e ser desprezado por amor de Vós". Anseio que foi realizado.

Após um novo capítulo tumultuado em sua Ordem, enquanto estava em Segovia, foi afastado de suas missões e depois destinado ao exílio no México. Ele não foi; viajou para La Peñuela. Ficou doente e foi transferido para Ubeda, onde foi tratado friamente por seu superior, sendo mal atendido do ponto de vista médico. De modo que, este grande místico, grande poeta de Deus, veio a falecer aos 49 anos, em 14 de dezembro 1591. Clemente X o beatificou em 25 de janeiro de 1675. Bento XIII o canonizou em 27 de dezembro 1726. Pio XI o declarou Doutor da Igreja em 1926, e João Paulo II o declarou patrono dos poetas em 1993. Ainda hoje continua reverberando o eco do seu amor, junto ao Cântico Espiritual e suas obras: Noite escura da alma, Chama viva de Amor, Subida do Monte Carmelo, entre outras.


in


Sem comentários:

Enviar um comentário