Expoente carmelita. Grande asceta, místico e poeta, insigne
doutor da Igreja. Admirado por crentes e não crentes. João Paulo II o
escolheu para sua tese de doutorado e o declarou patrono dos poetas
A admirável existência de Juan de Yepes -este
excepcional carmelita, aclamado em todo o mundo, considerado "o maior
poetas de língua castelhana" - é um heróico gesto do amor de Deus desde o
início até o fim. Um dos brilhantes exemplos de entrega genuína. Uma
das figuras mais representativas da mística que já passou por esta seção
de ZENIT. Ele acreditou cegamente que qualquer pessoa que oferece a
vida por Cristo se salva, e não foi intimidado por seu admirável
compêndio de renúncias e sacrifícios, além do pelo desprezo de alguns
dos seus. Deus sempre o iluminou, em particular, no cume das trevas.
Seus pais, Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez, tecelões de
profissão, vivendo em Fontiveros, Ávila, Espanha, receberam com alegria a
este segundo de três filhos, quando ele nasceu em 1542. Seu pai e irmão
morreram em decorrência da fome. Um grande e trágica escola para o
santo. A viúva, Catalina, vivia uma situação financeira muito precária e
para tentar minimiza-la, primeiro se estabeleceu com seus filhos em
Arevalo, Ávila, em seguida, em Medina del Campo, Valladolid. Graças à
caridade dos outros, João formou-se no Colégio ‘Niños de la Doctrina’,
em troca de ajudar nas missas, nos enterros, e pedir ajuda. Em 1551 a
generosidade de outras pessoas permitiu que ele estudasse na escola dos
jesuítas. Trabalhou no hospital de Bubas, onde atendia pessoas afetadas
por doenças sexualmente transmissíveis, até que decidiu se tornar um
carmelita. Como jesuíta provavelmente teria mais vantagens tanto para
ele como para seus familiares, mas escolheu outro caminho, que já estava
destinado a ele.
Aos 21 anos, como aluno exemplar e com uma boa base, ele ingressou na
Universidade de Salamanca. Professou quando começou a estudar em 1564.
Lá, contou com professores exemplares como Francisco de Vitoria, frei
Luis de León e Melchor Cano, entre outros, e três anos mais tarde
concluiu o bacharelado em Artes. O ano de 1564 foi significativo em sua
vida. Além de ser um aluno prefeito, ele foi ordenado sacerdote e
conheceu Santa Teresa de Ávila. Há anos ele praticava graves
mortificações corporais, iniciadas quando aluno dos jesuítas, e ao
ingressar no Carmelo, pediu permissão para continuar executando-as.
Homem de intensa oração, amava tanto a solidão que, em um determinado
momento, não descartou a vida monástica. Levava gravado em seu espírito a
convicção que nos deixou: "No ocaso da vida serás examinado no amor;
aprende a amar a Deus como Deus quer ser amado e deixa a tua própria
condição”.
Santa Teresa, que tinha ouvido falar de suas virtudes, o chamou para
ajudá-la na reforma carmelita que pretendia realizar. Ele, que tomou o
nome de João Matias e, depois, João da Cruz. Teresa não teve dúvidas de
que estava diante de um santo. Eles foram companheiros na heróica
entrega e no ardor apostólico. João deixou o rastro de seu amor por Deus
em Castilla e Andaluzia, bem como um fruto esplêndido em Salamanca, que
acolheu calorosamente a sua sabedoria. Estava na fundação em
Valladolid, Duruelo, Mancera e Pastrana, como vice prior e mestre de
noviços. Foi reitor em Alcala de Henares, vigário e confessor das
carmelitas do mosteiro da Encarnação, a pedido de Santa Teresa, entre
outras missões.
Seus próprios irmãos se levantaram contra o zelo apostólico do santo,
resistindo à reforma, que pretendia apenas conquistar uma maior
fidelidade ao carisma. Em uma rede de ambições e ressentimentos
secretos, foi detido em um pequeno lugar inóspito por nove meses,
mantido em condições indescritíveis. Ele sofreu fisicamente e
espiritualmente. A solidão e a escuridão espiritual, combatida com
grande confiança na Providência divina, foram a semente do incomparável
Cântico Espiritual. Envolvido pelo amor divino tentava resumir em sua
prodigiosa linguagem a paixão que o consumia: “Onde é que te escondeste,
Amado, e me deixaste com gemido? Como o cervo fugiste, Havendo‑me
ferido; Saí, por ti clamando, e eras já ido”. Na expectativa de uma
morte iminente, recebeu o consolo do céu e, com ele, a liberdade, que
obteve escapando durante a noite, escondido de seus guardiões: seus
irmãos.
Reforçando sua experiência mística e sua determinação para dar a
conhecer ao único Deus de Amor, mudou-se para Beas de Segura, Jaén, onde
continuou a ajudar os carmelitas. Ali, empreendeu uma fraterna amizade
com a religiosa Ana de Jesus. Em seguida, fundou uma escola em Baeza, e
continuou seu incansável percurso de Granada e Córdoba, onde estabeleceu
outro convento em 1586. Tudo parecia pouco para dar a Cristo. A sede de
sofrimento para assemelhar-se a Ele, ardia em seu interior: "Senhor,
quero padecer e ser desprezado por amor de Vós". Anseio que foi
realizado.
Após um novo capítulo tumultuado em sua Ordem, enquanto estava em
Segovia, foi afastado de suas missões e depois destinado ao exílio no
México. Ele não foi; viajou para La Peñuela. Ficou doente e foi
transferido para Ubeda, onde foi tratado friamente por seu superior,
sendo mal atendido do ponto de vista médico. De modo que, este grande
místico, grande poeta de Deus, veio a falecer aos 49 anos, em 14 de
dezembro 1591. Clemente X o beatificou em 25 de janeiro de 1675. Bento
XIII o canonizou em 27 de dezembro 1726. Pio XI o declarou Doutor da
Igreja em 1926, e João Paulo II o declarou patrono dos poetas em 1993.
Ainda hoje continua reverberando o eco do seu amor, junto ao Cântico
Espiritual e suas obras: Noite escura da alma, Chama viva de Amor,
Subida do Monte Carmelo, entre outras.
in
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