1. As Santas Casas da Misericórdia
Juntamo-nos aqui, nesta linda igreja de S. Paulo, para celebrar o mistério central da nossa fé, a Eucaristia, e com ela agradecer a Deus os 510 anos da fundação da Irmandade desta Santa Casa da Misericórdia de Serpa, poucos anos depois da fundação da primeira em Lisboa no ano de 1498, a 15 de agosto. Inspirados por frei Miguel de Contreiras, frade trinitário, confessor da rainha D. Leonor, e com o apoio desta, os primeiros irmãos fizeram o seu compromisso de cumprirem todas as obras de misericórdia, assim espirituais como corporais, quanto possível fosse, para socorrer as tribulações e misérias que padecem os irmãos em Cristo.
Juntamo-nos aqui, nesta linda igreja de S. Paulo, para celebrar o mistério central da nossa fé, a Eucaristia, e com ela agradecer a Deus os 510 anos da fundação da Irmandade desta Santa Casa da Misericórdia de Serpa, poucos anos depois da fundação da primeira em Lisboa no ano de 1498, a 15 de agosto. Inspirados por frei Miguel de Contreiras, frade trinitário, confessor da rainha D. Leonor, e com o apoio desta, os primeiros irmãos fizeram o seu compromisso de cumprirem todas as obras de misericórdia, assim espirituais como corporais, quanto possível fosse, para socorrer as tribulações e misérias que padecem os irmãos em Cristo.
Assim nasceu a irmandade promotora da Santa Casa da Misericórdia, que, ao longo dos anos, se tem dedicado à protecção dos mais desfavorecidos da sociedade, pondo em prática aquilo que o Evangelho e a Igreja denominam de obras de misericórdia.
Com o patrocínio da Igreja, da rainha D. Leonor e do rei D. Manuel, rapidamente se espalharam por todas as cidades e vilas do reino, de aquém e além mar, dando origem a um humanismo cristão, que levou “os ricos a nelas empregarem o sobejo da fazenda, e o sobejo do tempo os ociosos, redundando tudo nas mais piedosas e acertadas obras que em favor do próximo se podem fazer”, como escreve frei Luís de Sousa na Crónica de S. Domingos.
Este humanismo cristão inspirou-se no Evangelho e em Maria, a Senhora da Misericórdia e da Piedade, aquela que acolheu Jesus, o Salvador, no seu seio, no momento da Incarnação e também nos seus braços depois de descido da cruz. Ela deu-nos o Senhor da misericórdia, manifestação do amor misericordioso de Deus para connosco, criaturas feridas pelo pecado. Contemplando-A e contemplando o corpo inânime d’Aquele que Ela suporta nos seus braços, os cristãos são impelidos a assumir os mesmos sentimentos de misericórdia e de compaixão para com os seus semelhantes, recordados das palavras evangélicas: “sede misericordiosos como Deus é misericordioso (Lc 6, 36) e aquilo que fizerdes a um dos mais pequeninos a Mim o fazeis”(Mt 25, 40).
No prólogo do 1º compromisso da irmandade estão exaradas as seguintes palavras: “o Pai das Misericórdias quis repartir com os pecadores parte da sua Misericórdia. E em estes derradeiros dias inspirou nos corações de alguns bons e fiéis cristãos e lhes deu coração, siso, forças e caridade para ordenarem uma Irmandade e Confraria, sob o título e nome e invocação de Nossa Senhora, a Madre de Deus, Virgem Maria da Misericórdia”.
2. A misericórdia, o Advento e o Ano Santo
O aniversário que ora celebramos e agradecemos com o mistério mais sagrado da nossa fé cristã, a Eucaristia, leva-nos a perguntar pelo nosso grau de fidelidade a tão nobres ideais e pelas motivações profundas que nutrimos quando nos comprometemos a trabalhar nestas instituições. Leva-nos sobretudo a perguntar como aqueles que iam ter com João Batista, o precursor de Jesus: Que devemos fazer?(Lc 3, 10ss)
Neste início do Ano do Jubileu extraordinário da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco para celebrar o cinquentenário do encerramento do Concílio Vaticano II, no dia 8 de Dezembro de 1965, queremos reanimar o nosso compromisso. Mais que nunca queremos afinar os nossos sentimentos e procedimentos com o coração misericordioso de Jesus, tomando como estímulo da nossa reflexão e ação a parábola do bom samaritano e o ensinamento sobre as obras de misericórdia, corporais e espirituais (Mt 25). Quem é o meu próximo, hoje? Quem são os mais desfavorecidos atualmente? Como usamos os meios e os bens que nos são confiados? Será que temos atitudes de amor misericordioso, gratuito ou tudo é calculado e pago? Temos um espírito solidário, de desprendimento em relação aos bens materiais, pondo o bem
comum e a dignidade da pessoa humana acima de tudo?
Estas perguntas faço-as a mim mesmo e a todos os cristãos, pois a Igreja e os seus ministros devem servir e não servir-se, servir sobretudo os pobres, os carenciados de reconhecimento da sua dignidade de filhos de Deus e de irmãos nossos, os descartáveis da sociedade, os doentes, os idosos.
Tomemos Maria como exemplo da nossa ação. Ela, ouvindo a saudação e o elogio de Isabel, a quem vai visitar e ajudar, louva e agradece a Deus, a fonte de todo o bem. É Ele que, também através da nossa ação, enche de bens os famintos, exalta os humildes, socorre os aflitos, manifesta a sua misericórdia através de gerações.
Estamos todos necessitados desta purificação interior, que brota da fé e do amor, para que o nosso agir não nos ponha a nós no centro das atenções e humilhe quem sofre, mas tenha este no centro, pois é com ele que Cristo se identifica! O ano jubilar da Misericórdia ajudar-nos-á nesta peregrinação da vida cristã.
A ação social deve empenhar-nos a todos, com espírito solidário. Nós cristãos queremos fazê-lo, não apenas por filantropia, mas porque a isso nos impele a nossa fé, que considera o necessitado não somente o nosso semelhante, mas também o nosso irmão e Senhor Jesus Cristo, que nos disse: “sempre que ajudastes um dos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes”.(Mt 25, 40)
† António Vitalino, bispo de Beja
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