A jornalista libanesa Hala Homsi centra-se na renúncia de Bento XVI e no trabalho de Bergoglio
Roma, 02 de Março de 2015 (Zenit.org) Robert Cheaib
Dois anos se passaram após a renúncia do Papa Bento XVI e da
eleição do Papa Francisco. Dois anos cheios de novidades e de
acontecimentos inéditos. Nesta entrevista concedida a ZENIT, a
jornalista libanesa, Hala Homsi, especialista desde 1995 em matéria
religiosa para o jornal Annahar nos apresenta a sua leitura desta página
da história da Igreja Católica.
***
ZENIT: Qual é a sua leitura do acontecimento histórico da renúncia de Bento XVI há dois anos da sua ocorrência?
Hala Homsi: A renúncia do Papa Bento é um evento mais do que
histórico. O Papa tem despertado uma onda de reforma na Igreja, mais do
que qualquer discurso reformador, concretizando uma coragem sem
precedentes. Com esta renúncia, abriu uma nova prática mudando uma
tradição que diz respeito à própria posição do Papa, através de um gesto
que não acontecia há séculos.
O mínimo que podemos dizer é que sua escolha manifestou a sua
personalidade: a humildade do grande teólogo, a coragem do pensador, a
natureza do escritor prolífico, que preferiu descansar entre os seus
livros do que continuar com o ritmo cansativo para ele e para a Igreja.
Agiu seguindo os passos de um homem livre. É um papa livre.
ZENIT: Foi possível captar a motivação “benéfica” da renúncia, na sua opinião?
Hala Homsi: Talvez a renúncia foi feita por motivos de saúde. Mas o
que fez não foi uma coisa fácil. A sua renúncia testou a solidez da
Igreja, com uma situação inusitada: a da presença de dois "papas", no
Vaticano. Com a presença de saudosos que ainda desejam o pontífice que
renunciou.
Outro aspecto interessante da renúncia do Papa Bento é que, embora
tenha acontecido há mais de dois, está ainda muito longe de ser
esquecida. Tal facto motivou o seu secretário pessoal, mons. Georg
Gänswein, a esclarecer – no dia 12 de Fevereiro de 2015 – que a renúncia
de Ratzinger “aconteceu sem nenhuma pressão externa”, e isso como
resposta a rumores que diziam que o papa tinha renunciado sob pressão.
Tais suspeitas são naturalmente levantadas por má intenção, resultado do
descontentamento de alguns para com o pontificado de Francisco. Só
resta, no entanto, que a renúncia tenha sido feita por um homem forte,
não por um homem fraco.
ZENIT: O pontificado do Papa Francisco representa para alguns uma "primavera evangélica” na Igreja. Você é dessa opinião?
Hala Homsi: A força do papa Francisco está na sua capacidade de
abaixar o papado para os fiéis e aproximar a Igreja do seu povo e dos
pobres. E isso aconteceu desde o primeiro instante da sua eleição. É uma
revolução no papado. O Papa Francisco vive o que crê, mesmo que isso
requeira a quebra de protocolos e de práticas. Desde o começo isso foi
manifestado e os fiéis tocaram com a mão o trabalho do Papa, e como
encarna o Evangelho diante deles.
A força de Francisco é o seu estar perto dos pobres. É um Papa que
reconcilia a Igreja com povo e que recorda aos eclesiásticos “a Palavra”
e os leva às fontes. Por isso é o Papa que limpa o rosto da Igreja
depois dos escândalos que a mancharam.
Primavera evangélica? Para muitos é assim. E de uma perspectiva
jornalística, vejo que o Papa Francisco está injectando no corpo eclesial
um grande espírito de renovação. A pergunta que permanece é essa: o que
o deixarão fazer? Conseguirá completar a sua reforma? Sem dúvida, a sua
missão não será nada fácil.
ZENIT: O que você acha daqueles que acusam Bergoglio de ser “um comunista”?
Hala Homsi: Fofocas sem fundamento. Que dera os comunistas fossem
como o Papa Francisco! Seriam chamados de “evangélicos” (referindo-se ao
evangelho)! O facto é que o Papa tem quem o apoia e quem não o apoia.
Existem inimigos na Cúria, na Igreja e fora dela. O seu estilo
reformador não agrada a todos. As acusações que lhe dirigem, como essa
de comunista, caótico ou “destruidor da dignidade do Papado” são
tentativas dispersivas que traem um reconhecimento da batalha
reformadora que o Papa está levando adiante.
ZENIT: O Papa Francisco dedicou especial atenção ao Oriente
Médio. Lembro-me, por exemplo, da oração pela Paz na Síria, da visita na
Jordânia e Palestina (reconhecendo, de facto, o estado palestiniano), a
oração com o presidente palestino e o presidente Israelita no Vaticano.
Como você resumo a imagem que se reflecte no Oriente Médio?
Hala Homsi: O Papa Francisco tem uma grande popularidade no Oriente
Médio, especialmente no Líbano. É amado pelo povo e a sua figura é
omnipresente. Cristãmente falando, as suas homilias e as suas muitas
actividades diárias são muito seguidas, especialmente graças à cobertura
da media cristã que não demoram para levar as suas actividades e as
celebrações que preside.
De um ponto de vista muçulmano, é um líder religioso muito respeitado
por seu discurso e pelas suas posições. Se os libaneses pudessem
expressar um desejo, o seu desejo é que o Papa Francisco visite o
Líbano, como fizeram Bento e São João Paulo II. Tal visita traria um
grande fruto à nação.
ZENIT: Considerando as tragédias que o Oriente Médio está vivendo hoje, e não só, quais iniciativas desejadas pelo Santo Padre?
Hala Homsi: Há nos corações um grande temor pelo futuro, por causa da
expansão do Isis e da sua brutalidade. Os cristãos se tornaram
“projectos” de martírio prontos para a execução. Foram dispersos,
expulsos das suas casas, das suas terras. É normal que os cristãos
tenham necessidade de protecção na sua própria terra natal?
O Santo Padre tem feito grandes esforços. Ele continua a ser a voz
forte de cristãos em frente à comunidade internacional. Também é
importante que apoie os cristãos de língua árabe nas suas terras de
origem, através de projectos e iniciativas que reforçam a sua presença.
Um exemplo poderia ser a promoção dos meios de comunicação cristãos que
têm um grande papel na difusão da palavra, na consolidação dos cristãos e
no seu crescimento. É, sem dúvida, a hora de trabalhar, e o trabalho é
muito.
(02 de Março de 2015) © Innovative Media Inc.
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