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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Conclusões das jornadas de actualização do Clero do Sul

Conclusões das jornadas de actualização do Clero do Sul

O clero das Dioceses de Évora, Beja, Algarve e Setúbal, reunido no Hotel Júpiter, Portimão, Algarve, nas décimas Jornadas de Actualização do Clero, promovidas pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, nos dias 16 a 19 de Janeiro de 2017, subordinadas ao Tema – Levar Cristo às periferias humanas e existenciais: os novos areópagos – em ambiente de recolhimento, estudo e convívio, com a colaboração de vários especialistas, partilha as seguintes conclusões:

1. O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, defende uma Igreja em saída, com as portas abertas (nº46), uma Igreja, por vezes acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, preferível a uma Igreja enferma pelo fechamento e comodidade de se agarrar às próprias seguranças (nº 49). 

2, Na sua actuação pastoral, o Papa dá prioridade às periferias. Para ele, a realidade entende-se melhor a partir das periferias, mais do que do centro porque, no centro se está sempre mais protegido e defendido. A sua insistência na Misericórdia, os seus gestos e as viagens apostólicas que tem realizado, confirmam esta predilecção pelas periferias geográficas, humanas e existenciais.

3. Para levar Cristo às periferias é necessário integrar a mensagem cristã na nova cultura digital e passar de uma pastoral de conservação para uma pastoral sempre missionária. A era digital fez nascer uma nova cultura, um novo modo de ser e de estar. Os suportes tecnológicos vieram dar resposta e cumprir desejos sempre presentes no coração do homem: conhecer, fazer novas experiências. O mundo da net não é simplesmente virtual: é parte da realidade quotidiana da nossa vida. Não se pode contrapor, de um modo simplista, o mundo virtual e o mundo real, valorizando este último e desconsiderando o primeiro. Estes dois mundos não existem em confronto: existe, sim, o físico e o digital; e os dois são reais.

4. Na acção pastoral, não adianta diabolizar a tecnologia. Não é a mediação tecnológica que faz a realidade das experiências, ou a fisicidade que as torna autênticas, mas o que se vive com o coração a partir dessas mediações. 

5. O que está em causa é a comunicação da fé. Com a comunicação em rede o imaginário das pessoas alterou-se profundamente. Já não estamos no tempo de transmitir apenas conteúdos, de dar as respostas que se consideram importantes para as pessoas, mas de perceber as perguntas que as pessoas fazem. Há uma espiritualidade na compreensão das novas tecnologias: compreendendo as perguntas fundamentais, a Igreja pode e deve envolver-se nelas ajudando a fazer o discernimento. 

6. A Igreja não pode ignorar este mundo ou fingir que não tem nada a ver com ele. Assume cada vez mais importância a pastoral do testemunho. A natureza da net é social, de comunicação em rede, criando grupos de amigos sempre a crescer. São pessoas que partilham, que confiam nos testemunhos; partilham a vida, as suas interpretações e os seus conhecimentos. Aqui entra também a fé: na escuta, nos diálogos e na partilha dos problemas humanos.

7. No diálogo com a cultura a Igreja assume que é cultura e representa a cultura. Neste campo, considerar a Igreja como periferia é um preconceito. A ruptura que a modernidade instaurou entre a Igreja, como comunidade de fiéis, e o seu património cultural, não faz sentido. Tudo tem o seu contexto e o património é um serviço relativamente ao que recebemos dos nossos antepassados, é uma herança com memória que se reflecte no presente das pedras vivas que são as pessoas. 

8. Nas diferentes manifestações culturais a Igreja foi sempre democrática porque, nos períodos da história, permitiu às pessoas usufruir do belo e do bom: os templos e a celebração eram o espaço onde as pessoas desfrutavam das criações artísticas e a partir delas eram evangelizadas. Hoje, a Igreja deve saber preservar todo o seu património e continuar a ser criativa reconhecendo que há diferentes aspectos culturais onde ela não tem que concorrer.

9. Outras periferias existenciais e humanas às quais a Igreja não pode ficar indiferente são os refugiados que chegam à Europa. Neste ponto, o exemplo e as recomendações do Papa Francisco são para ser seguidos, sobretudo agora que vão sendo ultrapassadas várias dificuldades do princípio. Seria uma bela prenda oferecida ao Papa se, quando ele vier a Portugal, em Maio próximo, as instituições eclesiais tiverem acolhido o dobro dos refugiados que, até ao momento, foram recebidos no nosso País. 

Também no vasto campo da religiosidade popular, as nossas comunidades têm que fazer caminho, respeitando as motivações das pessoas, valorizando, corrigindo e integrando as diversas manifestações que continuam a atrair as pessoas e a celebrar momentos importantes do quotidiano.

10. Em tantas situações, novas e velhas, o importante são as pessoas, o reconhecimento e o respeito pelos que são diferentes, afirmando sempre que o centro da nossa fé é Jesus Cristo e que o testemunho é o factor fundamental, não impondo nada a ninguém, mas propondo sempre e em todas as circunstâncias. A partilha levada a efeito entre as nossas Dioceses na expressão popular do Cante Alentejano, nas iniciativas de preservação do património e de envolvimento de artistas na criação de peças religiosas, no campo da acção social e da atenção às pessoas fragilizadas, demonstra o entusiasmo e o ardor que a Igreja coloca no vasto campo da sua acção pastoral.


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