Estudo da Universidade Católica
A maioria dos jovens portugueses (56%) assume-se como religiosa e quase metade (49%) afirmam-se católicos, mas apenas um terço do total diz ser praticante. Entre os “não praticantes”, 44% dos que têm entre 18 e 30 anos justificam-no pelo facto de estarem em “desacordo com algumas normas dessa prática”. Estas são conclusões do estudo “Jovens, Fé e Futuro”, que o Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP), da Universidade Católica Portuguesa, desenvolveu para a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), e que foi apresentado esta quinta-feira, 6 de julho, em Lisboa.
“A religiosidade é uma dimensão importante da vida dos jovens em Portugal” – afirma o relatório do estudo, ao qual o 7MARGENS teve acesso – e “cerca de 90% dos que se afirmam religiosos são católicos”. Estes são números “significativos”, se considerarmos “a perceção, mais ou menos generalizada, de que vivemos numa sociedade dessacralizada”, refere o documento nas suas conclusões.
“A reforçar esta constatação, um terço do total dos jovens (34%) diz-se não só religioso como praticante, orando regularmente, participando em celebrações ou estando integrado em grupos da sua comunidade religiosa”, afirma o relatório. A percentagem é bastante superior aos 18% encontrados por outro estudo recente, da Fundação Francisco Manuel dos Santos. “Mas a conjugação dos dois [números] permite-nos dizer com elevado grau de segurança que um número significativo de jovens em Portugal são católicos praticantes”, afirma o CEPCEP.
O estudo foi realizado a partir de um questionário online, disponibilizado entre abril e outubro de 2022, e contou com 2480 respostas de jovens entre os 14 e os 30 anos de idade (43% dos quais residentes no distrito de Lisboa), tendo considerado como “praticantes” (categoria que tem sido posta em causa por recentes estudos sociológicos) aqueles que “participam em serviços religiosos pelo menos uma vez por mês”.
Relativamente aos motivos apresentados pelos que declararam ter uma religião para não serem praticantes, “em geral, destaca-se a ‘falta de compromisso e empenho'” como a resposta prevalecente. “No entanto, observam-se algumas diferenças entre os dois grupos etários considerados, pois se os jovens mais novos [14-17 anos] estão alinhados com esta resposta (44%) e indicam também “falta de tempo” (33%), o principal motivo para a não-prática entre os jovens mais velhos (44%) é o ‘desacordo com algumas das normas da prática religiosa’, revelando uma reflexão mais aprofundada sobre a sua posição relativamente à dimensão espiritual da vida”. De destacar que, nesta faixa etária, há também 28% de jovens que dizem não participar nas atividades religiosas por observarem “demasiadas atitudes e comportamentos negativos noutros praticantes”.
Apenas 35% deverão participar na JMJ
Sobre a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que terá lugar em Lisboa entre os próximos dias 1 e 6 de agosto, e que constituiu uma das motivações para a realização do estudo, este concluiu que “a intenção de participação é baixa, sendo que apenas 13% declararam certeza relativamente à sua participação e 22% consideram que ‘provavelmente’ irão participar”.
Entre os jovens que se dizem religiosos, 32% responderam que não tinham conhecimento sobre o evento e o mesmo acontecia em 14% dos que se afirmam católicos. A percentagem sobe para 53% no caso dos “não católicos”.
Se tivermos em consideração apenas os jovens que se dizem católicos, 75% pretendem participar. E “é interessante que mais de metade dos não praticantes (51,17%) manifesta intenção de participar, o que é indicativo da capacidade mobilizadora de eventos desta natureza, e em particular da presença do Papa”, sublinha o relatório. No caso dos não religiosos, a esmagadora maioria (86%) não quer participar.
A prática religiosa, destaca ainda o documento, ” é acompanhada de bastante tolerância em relação a diferentes manifestações de religiosidade”, sendo que “51% dos jovens considera haver verdade em todas as religiões”. Só uma minoria (5%) afirma que só a sua religião é verdadeira, ou mais verdadeira do que as outras (12%).
Ainda assim, 18% dos jovens afirmam já ter sofrido “alguma discriminação” por causa da sua posição religiosa, maioritariamente entre amigos e na escola ou universidade .
Guerra, alterações climáticas e discriminação são as grandes preocupações
De um modo geral, os jovens “antecipam um quadro social futuro complexo e desafiante”, sendo que 80% acreditam que o avanço da ciência lhes permitirá viver mais tempo, mas 73% acham que “a vida como a conhecemos no nosso planeta se degradará por força da irreversibilidade das alterações climáticas” e 72% preveem que haverá novas pandemias.
Assim, não admira que, quando questionados sobre qual seria a sua prioridade “se pudessem mudar o futuro”, 64% tenham respondido que tratariam da sustentabilidade do planeta, seguidamente dos problemas de equidade(38%), de saúde (34%) e de educação (34%).
Mas quanto ao “grau de envolvimento dos jovens na construção do futuro”, se por um lado “a grande maioria dos jovens afirma procurar ser bondoso e agir corretamente no dia a dia (76%), bem como ser participativo em termos de cidadania (73%)”, por outro o estudo revela que “os jovens não são muito participativos em termos de ativismo (15%) ou voluntariado (26%)”.
“No agregado, os dados parecem denotar algum individualismo”, conclui o relatório. “Se cada um agir bem na sua esfera e o nosso planeta for protegido, o mundo será melhor.”
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