MENSAGEM DA PÁSCOA
Diocese de Beja, 2021
Deixemos de viver para nós mesmos!
Queridos irmãos e amigos:
Também
neste ano, a pandemia quase nos impede de celebrarmos as Solenidades Pascais. Mas
vamos celebrá-las, pois, sem elas, não conseguimos viver bem. Sem elas, não podemos
ver bem o chão que pisamos. Nelas resplandece a luz nova que dissipa as trevas
do mundo. Nelas, mortos para o pecado, ressuscitamos com Cristo para a Vida
nova do Espírito. Nelas, pela renovação das promessas do Batismo, é a nossa condição
de filhos de Deus e herdeiros da Vida Eterna que se renova. Elas são a Fonte da
Salvação da qual nos aproximamos para beber a água da Vida. E assim, com os
condicionamentos deste tempo de pandemia, vamos celebrar a Páscoa, a festa das
festas!
Desde os
tempos mais remotos, tem sido celebrada na primeira lua cheia depois do
equinócio da primavera, marcando assim o começo do novo ano. A imolação ritual
de um cordeiro e os pães ázimos, sem fermento, que são comidos pelos israelitas
durante a semana pascal, remontam a esses tempos longínquos. Para o povo de
Israel, a Páscoa ganhou um sentido político, pois nela Deus passou no Egito
para o libertar da escravidão e fez com ele uma aliança de amor, pela qual lhe
assegurou a entrada e a posse da Terra que prometera a Abraão, a Isaac e a
Jacob. Mas porque celebramos a Páscoa, nós que não somos judeus e vivemos no
século XXI?
Deus criou-nos
para sermos felizes. E somo-lo amando e sendo amados. Mas amar, mais do que
cultivar e exprimir sentimentos de afeto, é morrermos para nós próprios, é
darmos a vida por aqueles que amamos. Se somos escravos do medo de morrer, não
podemos dar a nossa vida a ninguém: fechamo-nos em nós mesmos e tornamo-nos egoístas,
ou seja, vivemos para nós próprios. E os nossos relacionamentos errados com os
outros fazem das nossas vidas um inferno do qual não conseguimos libertar-nos,
ainda que muito o desejemos, porque estamos escravos do medo de morrer. Dessa
escravidão surgem as mentiras, os roubos, os adultérios, as guerras e todos os
pecados que reduzem o mundo a um mar de sofrimentos, sobretudo para os mais
fracos e pobres. E quem, e como, poderia modificar este estado de coisas?
A nossa
Páscoa é Cristo. Morrendo, Ele destruiu a nossa morte, livrou-nos do medo de
morrer e, ressuscitando, abriu para nós as portas da Vida Eterna. Em Jesus
Nosso Senhor, a Páscoa adquiriu a sua dimensão plena, pois é universal a
escravidão do medo de morrer. Se te reconheces pecador e indigno, caro irmão,
vem celebrar a Páscoa connosco! Para ti, assim como és, assim como estás, o
Senhor Jesus Cristo passa nestas celebrações para te ressuscitar e dar a vida.
Quando, no dia da Ressurreição, apareceu vivo no meio dos seus discípulos,
Jesus não os censurou por terem fugido e O terem negado. Saudou-os com estas
palavras: a paz esteja convosco! Soprou
sobre eles e disse-lhes: recebei o
Espírito Santo! Os pecados ficarão perdoados àqueles a quem os perdoardes, e
ficarão retidos àqueles a quem os retiverdes (Jo 20,22-23). Este remédio do
perdão dos pecados, fruto da Páscoa de Jesus, é a semente que, germinando, tem
ajudado a transformar o mundo.
A missão da
Igreja consiste precisamente nisto: em anunciar o perdão dos pecados, dar o
Espírito Santo e reconciliar as pessoas com Deus e com o próximo. A fé cristã,
pela qual nos tornamos filhos adotivos de Deus é a base desta vida nova que se
desenvolve na esperança e tem como fruto a comunhão fraterna. Querido irmão que
lês esta mensagem, não fiques fechado com os teus problemas! Aproxima-te do
médico, mostra-lhe as tuas feridas. Vem confessar os teus pecados. Na Igreja
está ao teu alcance deixares a escravidão do pecado e viveres a vida nova de
filho de Deus.
Vem celebrar a Páscoa connosco! Não é a mesma
coisa estar sentado à mesa com os irmãos, ou vê-los no computador ou na
televisão. O teu corpo que há-de morrer e ressuscitar precisa de ser alimentado
com o corpo do Senhor, com o pão vivo descido do Céu. Vem participar nas
celebrações de Quinta-feira e de Sexta-feira Santa, e, sobretudo, na Vigília
Pascal e na missa do Domingo de Páscoa. Vem ver-te ao espelho contemplando
Cristo crucificado por teu amor, e terás amor para dar. Vem receber a Vida de
Cristo ressuscitado e poderás dar a tua vida e deixares de viver para ti! Cristo Jesus morreu e ressuscitou para que
nós, os vivos, deixemos de viver para nós mesmos e vivamos para Ele que por nós
morreu e ressuscitou (2Cor 5,15)!
Convido-vos
a todos vós, batizados, a festejar a Páscoa nas paróquias e nas famílias.
Desejo-vos a alegria de quem, ressuscitado com Cristo, deixou de viver para si
mesmo. Nós sabemos que passamos da morte
para a Vida porque amamos os irmãos (1Jo 3,14).
Para vós todos,
irmãos e amigos, as minhas saudações cordiais e os meus ardentes votos de uma
santa Páscoa. Rezai por mim.