A complexa sociedade em que
vivemos vem, desde há anos, a exigir um novo perfil de educador, confrontando
os educadores atuais de duas maneiras: a primeira exige-lhes que reinventem a
escola no sentido de uma eficaz ação educativa; a segunda exige a sua
reinvenção como educadores. Isto significa que a prática docente tem de ser
continuamente repensada visando responder às constantes transformações sociais
que se repercutem na escola, suas conceções e formas de construção do saber,
uma vez que a exigência do mundo moderno tende a tornar-se em cada dia mais
forte e mais intensa.
O educador de qualquer nível de
ensino, é um ser inserido num contexto social, portador de uma dimensão pessoal
e de uma dimensão profissional devendo, por isso, assumir o seu ofício com
sentido de responsabilidade na inteireza do seu ser.
Não há dúvida de que é grande o
desafio!
Como deverá comportar-se? Deverá
fazer-se imitar em vez de fazer-se admirar?
Ser admirado e ser imitado não
são dois termos antagónicos! Antes pelo contrário, a natural admiração diante
do que é bom, convida à imitação. Isto acontece, em primeiro lugar, quando o
modelo não é frio, distante em que falta cordialidade ou humanidade no trato.
Na realidade o que se revela
oportuno é o que oferece uma imagem realmente imitável, estimulante.
A primeira condição, portanto, é
que o modelo seja cordial, humano, acessível. Em segundo lugar – com a
prudência que cada situação concreta exija –, o modelo deve mostrar, com as
próprias dificuldades, que a prática do bem, o exercício da virtude revela-se
tarefa árdua para todos, exigindo contínuos vencimentos, o que nem sempre se
consegue.
Neste sentido, ainda que os
educandos advirtam algum defeito no educador, não se revelará negativo se a
seguir vai transparecendo o esforço de retificação, procurando sempre, com
naturalidade, dar bom exemplo. Para longe do educador o modo artificioso e
postiço!... Antes pelo contrário, convém-lhe sempre uma atitude de verdade,
autenticidade, laboriosidade e espírito de sacrifício com sentido dos outros,
para ter realmente autoridade moral imprescindível para educar.
É importante reconhecer que as
pautas de conduta ética que nos regem e que propomos não se fundamentam na
nossa própria bondade, mas antes no que entendemos que é bom para todos e que a
todos se nos apresentam como uma meta nobilíssima, acessível, ainda que
difícil. Uma meta que é transitória, porque a definitiva encontrá-la-emos só em
Deus no final do nosso caminho!
A experiência tem-nos demonstrado
que resulta estimulante ver que o educador tem que se esforçar, ele próprio,
que nem sempre consegue vencer-se, mas é vencido e não desanima, que volta a
insistir e, continuamente, volta a começar. “Começar e recomeçar”, o lema que
se impõe…
Numa sociedade permissiva como
aquela em que vivemos, será possível que um adolescente se sinta livre quando
se lhe exige que se adapte a algumas regras, normas de conduta e de disciplina?
É possível, fazendo-o perceber o
sentido e a finalidade de cada uma dessas normas e dessa disciplina. Tratamos
as pessoas como seres inteligentes e livres quando lhes damos a conhecer o
porquê do ato que se lhes pede.
Uma imposição desmotivada
converte-se, normalmente em repto, num convite à rebeldia, ao espírito de
contradição!
Neste momento, não será demais
recordar que a confiança, mais do que pedi-la, há que merecê-la.
É importante também fazer
compreender que a disciplina é necessária em qualquer coletividade. E num plano
mais concreto, ajudar as crianças e os jovens a entender a finalidade das
regras a que devem sujeitar-se, de modo que nunca lhes pareçam arbitrariedade e
abuso de poder.
Nunca esqueçamos que a educação
deve administrar-se em clima de amizade, que é amor recíproco de benevolência,
que supõe respeito pela liberdade.
Mas o educando, precisamente por
sê-lo, ainda não é livre. A liberdade inaugura-se ao atingir o uso da razão.
Não é possível determinar com precisão quando acontece na criança, mas
acontece. Chega um momento em que há um uso de razão suficiente para que haja
liberdade, capacidade de atos livres: quando se começa a entender que algo é
bom e o seu contrário é mau, e que o bom deve fazer-se e o que é mau evitar-se.
Trata-se de uma liberdade incipiente, mas que basta para fazer a pessoa
responsável pelos seus actos, e que irá crescendo à medida que se vai
exercitando.
É um facto da experiência: vemos,
muitas vezes, inclusivamente em meninos muito pequenos, uma surpreendente capacidade
de atos generosos, desprendidos, não condicionados pela apetência ou a
necessidade. Crianças que a par da sua candura, da sua inocência, nos dão
lições magistrais de liberdade, de bondade e generosidade, renunciando ao seu
pelo bem de outro…
Maria Helena Marques |
Oxalá este texto seja lido e relido por muitos, pois é um verdadeiro manancial de bem ser, bem fazer e bem querer.
ResponderEliminarQue dê muitos e bons frutos...