Chegou o tempo de férias. Torna-se necessário dar mais atenção à família e aos amigos: um tempo de qualidade, sem pressas, de modo a podermos usufruir plenamente desta oportunidade. O trabalho agora pode esperar, pelo menos para a maior parte dos portugueses, que consegue ter alguns dias de férias.
Os incêndios que deflagraram e ainda deflagram pelo país, enchem-nos de compaixão por esta ocorrência tão grave, de algum modo inusitada. Que a dor e a perda que as famílias vivenciam, possam de algum modo, servir de mote para melhorar estes serviços, acreditando assim, que a morte dos seus entes queridos não tenha sido em vão. A nível nacional e mesmo internacional aguarda-se, dando tempo ao tempo, que se divulguem os resultados das investigações e que se tomem medidas preventivas, para que um acontecimento desta natureza, não possa voltar a ensombrar o futuro da nação e dos seus habitantes.
Mas a vida continua… Há uns dias atrás encontrava-me em amena conversa com uma sobrinha a propósito do aniversário do seu filho mais novo, que teve lugar no passado fim-de-semana. Estava convidada para passar esse fim-de-semana em sua casa, na companhia da minha neta, da mesma idade do meu sobrinho. Foi mesmo uma grande festa. Todos se encontravam disponíveis para participar no aniversário, contribuindo com a sua ajuda, ou em alternativa, com um doce ou salgado da sua especialidade. O ambiente era descontraído, já de férias. Houve almoço de família, lanche na piscina para as crianças e à noite um jantar com amigos e família. Durante todo o dia questionava como seria possível albergar tantos convidados, servir tantas refeições. Queria muito aprender como esta nova geração conseguia levar em frente um acontecimento destes.
Recordei que também o tinha feito há muitos anos atrás para os meus filhos na quinta. Mas eram outros tempos. Havia pessoal de apoio, família, amigos e umas cozinheiras fantásticas. Também as amigas levavam um doce da sua especialidade. À noite cantava-se o fado. Lembro-me das crianças a correr por todo o lado: havia muita alegria e amizade. Os pais, os caseiros, ajudavam a tomar conta das crianças, que circulavam livremente observando os animais, as árvores de fruto, a natureza... Havia um grande respeito pelos mais velhos, acatando os seus conselhos. Lembro-me que um dos meus filhos, o aniversariante, ter referido que não se esquecia da imagem de um tio-avô, a chegar à quinta, de chapéu e de o saudar e de lhe entregar uma nota com um valor elevado. Meu Deus, infelizmente, a maior parte dos participantes destes eventos já não se encontra entre nós. É a vida a passar… Por isso mesmo, estes momentos são muito bons, as memórias ficam.
Voltemos ao aniversário do meu sobrinho. Quando na véspera cheguei ao final da tarde, questionei a minha sobrinha sobre se precisava de ajuda. Mostrou-me uma lista enorme de coisas para organizar. Fiquei algo preocupada, sem contudo, o demonstrar. Como seria possível, sem apoio, preparar tudo. Muito descontraída referiu: “Tudo se faz. Todos ajudam. Só é família e amigos, logo, se algo correr menos bem, todos apoiam”. Fiquei a tomar conta das crianças enquanto a sobrinha foi às compras e fazer as respetivas encomendas de bolos e salgados. O jantar desse dia também seria encomendado. Mas o tempo passou e as crianças pediram o jantar. Fui ao frigorífico. Havia mini-pizzas com que todos se deliciam. O melhor mesmo era improvisar um jantar mais leve. Mas, o forno avariou. Saltou o botão. Fiquei ainda mais preocupada. Bacalhau com natas, bolos, carne assada, tudo pratos de forno. Resolvi avisar a minha sobrinha que veio de imediato desdramatizando. O marido resolveria o problema quando chegasse. Já tinha acontecido anteriormente. Entretanto saiu e foi buscar hamburgers e nugguets a um estabelecimento de fast-food situado perto. Para as crianças constituiu uma alegria enorme. Colocámos a mesa entretanto. E foi uma verdadeira festa. Enquanto saboreava um hamburger de frango, esquecendo a dieta e pensando: “para grandes males, grandes remédios, temos de nos adequar ao tempo que nos foi dado viver. Quero reinventar-me a mim própria, adequar-me às novas realidades, se possível, junto de pessoas positivas”.
No dia seguinte encontrei-me a fazer gelatina de morango, colocá-la em copos de plástico pequenos, já com uma colher, para facilitar às crianças na piscina. Não sei quantos “fogos” teremos apagado durante este dia, as inúmeras vezes que coloquei a mesa, mas, na realidade, tudo correu pelo melhor, parecendo acontecer um verdadeiro milagre. E houve muitos banhos, muita brincadeira, muitas conversas, muita alegria, muita amizade. Todos ajudavam. Pareciam convidados e, em simultâneo, os organizadores. Surpreendida ouvi alguém comentar: “É uma heroína!”. Interiormente, pensei: “Não, sou só uma avó, tia-avó, tia e amiga, que pretende ajudar, e que também investe em si própria e na família”. Este, era o momento, de dar tempo ao tempo, para que as recordações e as vivências possam continuar a existir, adequadas às novas realidades. Termino recordando que a Virgem nos ensina a ser a causa da alegria e da paz (Causa nostrae laetitiae, Regina pacis) com os outros, no seio da família, no trabalho, na relação com as pessoas com quem convivemos.
Aproveitemos, pois, o tempo mais descontraído de férias para nos reaproximarmos da família e dos amigos.
Maria Helena Paes |
Sem comentários:
Enviar um comentário