O mistério da deseducação
Li, claramente lido, há uns dias num jornal, que a educação é sempre uma laranja muito amarga e nestes tempos de fim de ano lectivo surge a mesma e triste constatação: insucesso escolar e pouco sucesso educativo, quando não, mesmo ausência dele.
Com a maioria dos professores em estado de um ataque de nervos, gastos, desencantados e impotentes para conseguirem contornar com êxito os tamanhos obstáculos que se agigantam no exercício da sua actividade profissional e do nobre cumprimento do seu dever, chegam ao fim de mais um ano exaustos, tal foi a guerrilha com várias frentes que tiveram de suportar: os horários e tarefas suplementares altamente alienantes – quando o melhor do seu tempo deveria reverter para a preparação das aulas; as matérias a ensinar, quando na sua maioria os alunos não querem aprender; as normas a implementar, para que exista o indispensável ambiente de ensino/aprendizagem - quando na sua maioria em cada turma mais de metade dos alunos não sabem sequer estar numa sala de aula; nos contactos com os encarregados de educação – quando muitos destes estão ainda mais ausentes da dita educação do que a sua irrequieta prole; etc, etc.
Cenário nada tranquilizador ou mesmo deveras assustador para quem sabe que a força e o bem dum país assentam nesta base e os pilares dum futuro melhor terão de ser construídos com pais “ à séria”, que sabem educar e praticam a modalidade, no dia-a-dia e noite-a-noite, sem vacilar nem desistir, mas confiantes de que é a sua função, obrigação e também tem de ser a sua paixão e missão.
Passo a transcrever algumas passagens do dito artigo que li e me suscitou este texto: «Agora chegam recados dos pais dizendo como devo dar as aulas”, situações como estas têm o seu início nos anos 90; “Por essa altura, os pais começaram a meter-se onde não eram chamados”; “Os pais estão a tornar os filhos muito dependentes e inseguros, numa turma de 28 crianças, há, na melhor das hipóteses, cinco que têm uma disciplina e uma educação adequadas; “Há crianças que escutam pela primeira vez um ‘não’ quando chegam à escola; em casa, jamais lhes disseram tal palavra”; “Dantes, a norma era escutar o professor. Agora, é escutar o filho”. Numa palavra “Os pais converteram-se em sindicalistas dos seus próprios filhos”. Os pais passaram a ser os aliados dos filhos contra os professores. “É um vento anti-institucional que atravessa o nosso tempo”. Quando o filho se torna o rei da família e tudo se deve submeter às suas exigências, regista-se uma “metamorfose antropológica”, que faz com que já não seja o filho a ter de prestar contas à realidade, mas a ser a realidade que tem de se submeter aos caprichos do filho».
Na verdade estamos face a um tema-problema, senão a uma disfunção relacional, que se tem transformado num furacão, mas leitor amigo não tenha medo, o artigo que eu li foi num diário espanhol e refere-se, simplesmente, ao que se passa naquele país vizinho. Alguma semelhança com a nossa ficção é pura realidade…
Manuel Maria de Vasconcelos
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