Milhões de cristãos de batismo e de desejo alimentam-se do encontro coração-a-coração com Jesus e da escuta da sua Palavra, como o Pai pediu no Monte Tabor: “Este é o meu Filho muito amado, escutai-O”. E o papa Francisco lembra o Salmo 119: «Espero na tua Palavra». «É um grito de esperança: o homem, no momento da angústia, da tribulação, do não-sentido, clama a Deus e põe nele toda a sua esperança». E Deus revela-se e ama a todos.
Permitam que diga duas palavras do encontro de S. João de Deus com Jesus em Granada, na festa de S. Sebastião. Um encontro de duas pessoas, preparado por João de Ávila, entre João de Deus e Jesus. Para João foi uma surpresa. Após o sermão de 20 de janeiro de 1538, João corre pelas ruas a gritar por misericórdia: “Senhor, misericórdia!”. Um ego a tornar-se indigente. Dá livros e roupa; e pede o que sente precisar, perdão; penitencia-se como pecador e pede a pena do castigo. Só pode ser louco, pensam os alheios ao seu encontro de renascido. Não entendendo, alguns rapazes divertem-se com ele. Os compadecidos levam-no ao pregador que já vivia a experiência do encontro pessoal com Cristo e entendia que João vivia a louca sabedoria por Cristo, como Saulo após o encontro à porta de Damasco. Alguns compadecidos convenceram-se que João precisava era dos cuidados do Hospital e não da hospitalidade misericordiosa de Cristo.
Se era pecador-doente a cura estava nas chicotadas, a horas certas. Tudo isto é histórico. E João, (qual loucura?), sabe que é pecador e queixa-se não dos maus-tratos que recebe, mas dos feitos aos companheiros, “meus irmãos”. João de Ávila sabe do que ele precisa e manda-lhe um padre amigo para lhe assegurar a misericórdia de Deus. João encontra paz e Cristo que o ama, e cuida dos companheiros e reza: “Senhor, que eu possa ter um hospital em que assista estes doentes, meus irmãos, como eles precisam” (F. Castro, 1985, cap. VII).
Deus era muito bom hospitaleiro para ele, pecador. Porque não ser ele bom hospitaleiro com os outros? Passadas semanas, pediu alta e saiu com atestado de “cura”. Após muita oração a Nossa Senhora em Guadalupe e na catedral de Granada, João descobre como irmãos os miseráveis a morrer nas ruas. Vejam. Vivia em Granada há tempos e não os via, porque ainda não tinha vivido o toque do encontro da luz de Cristo. Como só agora os vê? Porque o Senhor é bom para com ele, aquece-o com o seu perdão e amor, já vê os seus irmãos com o coração. Acolhido pelo Pai misericordioso, fica curado por Jesus Cristo, é um ferido curado que cura; recebe o dom de hospitalidade divina e agradece-a a acolher os desesperançados da rua; recebeu a revelação de que os pobres, doentes, miseráveis e pecadores a quem ama, perdoa e faz o bem, são seus irmãos.
Vive um triângulo de hospitalidade: Jesus que deu vida por ele, ele a agradecer como hospitaleiro; e todos, a quem pede: “fazei o bem a vós mesmos”, oferecei bens e serviço aos mais frágeis. Que maravilhoso encontro feito triângulo de recebe-e-dá hospitalidade, chamada Ordem e Família de S. João de Deus que “muda a vida das pessoas que começam a ser cristãs” (Bento XVI). (Cf. As Cartas do Santo (1544-1550); os Docs. do Pleyto, 1572; Vida do Santo por Francisco de Castro, 1585; Gomez-Moreno, San Juan de Dios. Primícias históricas suyas, Dispuestas y comentadas, Madrid, 1950).
Sem comentários:
Enviar um comentário