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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Bispos católicos contra medidas de Trump sobre imigração, clima e pena de morte

"Profundamente preocupantes"

 | 23/01/2025


Os bispos católicos dos EUA manifestaram-se esta quarta-feira, 22 de janeiro, de forma muito clara, contra as ordens executivas já assinadas por Donald Trump relativamente à imigração, pena de morte e meio ambiente, alertando que estas “terão consequências negativas, muitas das quais prejudicarão os mais vulneráveis entre nós”.

Através de um comunicado publicado no sítio da conferência episcopal – assinado pelo seu presidente, Timothy Broglio – os bispos referem-se às ordens executivas que incluem duras restrições à imigração, uma diretiva a favor da pena de morte, e a retirada do Acordo de Paris, como “profundamente preocupantes”.

“É nossa esperança que a liderança do nosso país reconsidere essas ações que desconsideram não apenas a dignidade humana de alguns, mas de todos nós”, pode ler-se na declaração.

Salvaguardando que nem a Igreja Católica nem a conferência episcopal estão alinhadas com “nenhum partido político”, os bispos sublinham que os ensinamentos da Igreja “permanecem inalterados”, independentemente da liderança política do país. “A nossa oração é de esperança que, como uma Nação abençoada com muitos dons, as nossas ações demonstrem um cuidado genuíno pelas nossas irmãs e irmãos mais vulneráveis, incluindo os não nascidos, os pobres, os idosos e enfermos, e os migrantes e refugiados”, conclui o texto, adiantando que “informações adicionais referentes a ordens executivas específicas” serão publicadas pela conferência episcopal no seu site.


Um segundo comunicado: “abandone estas políticas”


Bispo Mark Seitz na apresentacao da carta pastoral sobre migracao, julho 2017, Foto Joe Najera Photography

O bispo Mark Seitz, presidente do Comité de Migração da conferência episcopal, fez questão de se manifestar em nome próprio sobre as medidas de Trump. Foto © Joe Najera Photography

No próprio dia, era publicado um outro comunicado, desta vez assinado pelo bispo Mark Seitz (presidente do Comité de Migração da conferência episcopal), onde este afirma especificamente que “a Igreja Católica está comprometida em defender a santidade de cada vida humana e a dignidade dada por Deus a cada pessoa, independentemente da nacionalidade ou status de imigração”.

“O ensinamento da Igreja reconhece o direito e a responsabilidade de um país de promover a ordem pública, a segurança e a proteção por meio de fronteiras bem regulamentadas e limites justos à imigração”, admite o bispo Mark Seitz. “No entanto, como pastores, não podemos tolerar a injustiça e enfatizamos que o interesse nacional não justifica políticas com consequências contrárias à lei moral. O uso de generalizações abrangentes para denegrir qualquer grupo, como descrever todos os imigrantes indocumentados como ‘criminosos’ ou ‘invasores’, para privá-los da proteção sob a lei, é uma afronta a Deus, que criou cada um de nós à sua própria imagem”, acrescenta.

Para o responsável pelo Comité de Migração da conferência episcopal, não restam dúvidas: “várias das ordens executivas assinadas pelo presidente Trump esta semana têm a intenção específica de eviscerar as proteções humanitárias consagradas na lei federal e minar o devido processo, sujeitando famílias e crianças vulneráveis ​​a grave perigo”. E considera “especialmente preocupante” a “implantação ilimitada de ativos militares para dar suporte à aplicação da lei de imigração civil ao longo da fronteira EUA-México”.

Na perspetiva do bispo de El Paso, “impedir qualquer acesso a asilo e outras proteções só colocará em risco aqueles que são mais vulneráveis ​​e merecedores de alívio, ao mesmo tempo em que capacita gangues e outros predadores a explorá-los. Da mesma forma, interromper indefinidamente o reassentamento de refugiados é imerecido, pois já está provado ser um dos caminhos legais mais seguros para os Estados Unidos”.

Mark Seitz assinala ainda que “a interpretação proposta da Décima Quarta Emenda para limitar a cidadania por direito de nascença estabelece um precedente perigoso, contradizendo a interpretação de longa data da Suprema Corte”.

A declaração termina com um apelo incisivo a Trump: “abandone estas políticas de imposição exclusiva e adote soluções justas e misericordiosas”.

Igreja do México reforça acolhimento


Albergue improvisado na paróquia de Santa Cruz y Nuestra Señora de la Soledad, cidade do México. Foto arquidiocese do México

Albergue improvisado na paróquia de Santa Cruz y Nuestra Señora de la Soledad, cidade do México. Foto © Arquidiocese do México

Paralelamente, a conferência episcopal do México publicava um plano com a localização de todos os pontos de informação, assessoria legal e distribuição de alimentos aos quais os migrantes e deportados poderão recorrer em caso de necessidade no seu país.

No mapa, é possível identificar cerca de 40 pontos de apoio, dos quais nove se encontram junto à fronteira com os EUA.

Numa declaração publicada nas suas redes sociais, os bispos católicos do México lamenta que “no meio de um duro inverno”, muitos migrantes estejam a viver “momentos de angústia, dor, medo e incerteza” perante as medidas anunciadas por Donald Trump.

“Continuaremos a esforçar-nos para que nas nossas casas, albergues e centros de acolhimento encontrem teto e alimento; apoio na atenção *a sua saúde física,emocional e espiritual; ajuda para contactar as suas famílias e obter a documentação de que necessite, assessoria e acompanhamento legal para os trêmites que requeiram realizar”.

Os bispos do México fazem ainda um apelo a toda a sociedade para que se una a este esforço.

(Foto de destaque: Bispo Timothy Broglio, presidente da conferência episcopal dos EUA. © CNS photo/Lola Gomez)



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