O ditado
pretende justificar cortes de relações, vinganças e, em tempos passados, os
duelos com suas consequências. Onde está a bondade ou a nobreza de gente que
assim se comporta?
Neste mês de
Julho, peçamos ajuda à jovem princesa Isabel de Aragão que, tendo sido dada em
casamento ao futuro rei de Portugal, D. Dinis, chegou à corte portuguesa com
apenas doze anos. Sensata, caridosa e fiel, Santa Isabel tornou-se uma esposa,
mãe e rainha exemplar. Como esposa, acompanhou e amou sempre o seu marido,
apesar das suas infidelidades matrimoniais. Como mãe, o seu amor maternal
abrangeu os seus filhos e os de D. Dinis, protegendo-os e educando-os na corte.
No entanto, a sua presença nem sempre foi agradável ao rei que chegou a
afastá-la da corte. A sua fé cristã, caridade e coerência de vida, suscitaram a
admiração e gratidão do povo que reconhecia nela muitas e grandes qualidades de
governo e apaziguamento do seu lar e do país.
De facto, o
perdão é um comportamento eficaz para alcançar a paz. São necessários dois
adversários para se chegar à guerra, e a rainha sabia ser paciente, discreta e
corajosa. Quando as guerras estavam iminentes no país[1],
interveio perante o marido e o filho de ambos, D. Afonso. Depois, entre os meios-irmãos,
o infante D. Afonso, e o seu homónimo filho bastardo de D. Dinis. Já viúva,
doente e a viver em Estremoz, deslocou-se até ao campo de Alvalade, onde surgiu
montada numa mula branca entre os dois exércitos dispostos para combate: um
comandado por seu filho, o rei D. Afonso IV, e o outro conduzido por seu genro,
rei de Castela, casado com sua filha Constança. Assim conseguiu, mais uma vez, evitar
a guerra.
Apesar dos
sofrimentos causados por marido, filhos e incompreensões, a rainha não se
deixava abater pelo ressentimento, antes conseguia solucionar os problemas
familiares, sociais e do reino. A sua fé animava-a a agir confiando em Deus. E
vencia: a paz chegava sempre.
Alguém dizia
com graça que o casamento tem todos os ingredientes para correr mal: é a união
de pessoas que pouco se conhecem e vêm de famílias, educações e, por vezes, de
países diferentes; união de duas personalidades distintas... Mas, se corre bem,
o matrimónio torna-se uma bênção para várias famílias, para a sociedade e para
o mundo.
Santa Isabel
era filha de muito boa gente[2],
e mostrou-nos como o ditado estava errado. A santidade é difícil de alcançar,
mas é acessível a todos, incluindo os casados. O casamento é o meio mais normal
e comum de santificação. Os pais que são fiéis e responsáveis para com a sua
família, satisfazem todos os requisitos para chegar à santidade: generosidade
ao acolherem os filhos que Deus lhes deu; trabalhos permanentes, desde o
exercício da profissão para que não falte o indispensável à criação, educação e
formação dos filhos; serviços de todo o tipo desde o cuidado da casa, atenção à
segurança e supervisão das obrigações dos filhos, atenção aos pais na doença e
velhice como manifestação de gratidão pela vida, educação e exemplo recebidos;
sentido de responsabilidade como cidadão, pagando os impostos devidos ao Estado;
contribuição para as despesas de bem comum, como são as de condomínio;
pontualidade no pagamento de ordenados, etc.
Os
professores, educadores e formadores contribuem para a riqueza e
desenvolvimento da sociedade em geral, mas os pais ainda acrescentam novas
vidas ao mundo por inúmeras gerações. Oferecem um filão de riquezas materiais,
também, mas sobretudo uma fonte de riqueza laboral, intelectual e humana.
Muitos filhos de famílias unidas recebem vocações específicas, vivendo o
celibato apostólico, como sacerdotes, religiosos ou leigos. E fecundas são
também as famílias que, embora sem filhos de sangue, geram filhos espirituais
durante séculos, pelo seu exemplo e escritos.
Isabel
Vasco Costa
[1]
O infante D. Afonso
invejava o seu meio-irmão, também chamado Afonso, opondo-se, por isso, com
armas a D. Dinis. Já sendo rei, D. Afonso IV, enfrentou-se com o mesmo D.
Afonso, expulsando-o de Portugal. Mais tarde, voltou à guerra, desta vez contra
o seu cunhado, marido de sua irmã, D. Constança, rainha de Castela.
[2]
Santa Isabel era sobrinha
neta de Santa Isabel da Hungria e parente de S. Luís, rei de França.
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