O purpurado alemão recua das declarações de algumas semanas atrás e afirma a “profunda continuidade” entre Bento XVI e Francisco
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Walter Kasper - Wikimedia Commons |
A uma semana da publicação da exortação pós-sinodal Amoris laetitia, o
cardeal Walter Kasper, presidente emérito do Pontifício Conselho para a
Promoção da Unidade dos Cristãos, participou em Roma do Congresso
Apostólico Europeu sobre a Misericórdia, realizado na Basílica de Santo
André della Valle. Kasper comentou que ainda não conhece o conteúdo da
exortação apostólica.
“Eu não li, não conheço nenhuma linha, mas tenho a confiança de que o
papa vai encontrar as palavras certas para promover a paz no debate e,
especialmente, para confortar as famílias e explicar qual é o conceito
cristão, católico, de família, e dar forças para se viver o mistério do
amor na família”.
Kasper voltou depois à controversa questão da Eucaristia para
divorciados em segunda união, tema a respeito do qual houve discussões
acaloradas há dois anos devido à sua postura considerada “aberta”. “Cada
um de nós precisa da misericórdia, ainda mais essas pessoas cujo
caminho é muito difícil”, disse o cardeal, sublinhando que “a doutrina
não muda, mas a disciplina pode ser mudada”. As pessoas em situações
matrimoniais irregulares, considera ele, poderiam ser admitidas em
papéis ministeriais leigos (padrinhos, leitores etc).
Quanto à exortação apostólica, o ex-presidente de dicastério prevê
que o texto do papa seguirá “a linha do Sínodo”, recordando que o
documento final foi votado “com maioria de dois terços”. A linha do
papa, reiterou o cardeal, é a misericórdia: “não é o dedo apontado, mas a
mão estendida para ajudar as pessoas em dificuldade”.
As declarações de hoje do cardeal Kasper parecem uma parcial volta
atrás em comparação com o que ele disse em 17 de Março: “O documento
marcará o início da maior revolução na Igreja em 1500 anos”.
Também na manhã de hoje, Kasper declarou que entre Bento XVI e
Francisco existe uma “profunda continuidade” e não “oposição, como
alguns dizem”. Ratzinger, acrescenta o cardeal, “deixou uma grande
herança, uma profunda herança na Igreja, porque ele é um extraordinário
papa teólogo, como mostram suas homilias e catequeses”.
O presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da
Unidade dos Cristãos também apontou que a misericórdia não equivale a
mero “bonismo”. A misericórdia não pode ser apenas “uma linguagem do
coração” ou uma “compaixão emocional passiva”. Ela é, acima de tudo, “um
combate activo contra o mal”.
“O problema fundamental da pastoral”, concluiu Kasper, é “o modo de
falar de Deus numa situação secularizada, na qual Deus se tornou
estrangeiro, na qual muitos corações não parecem mais conter a busca e o
desejo de Deus”.
in
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