Entre 3 e 6 de novembro
O Papa Francisco chega esta quinta-feira, dia 3, ao pequeno arquipélago do Bahrein, no Golfo Pérsico, a fim de participar no “Fórum para o Diálogo: Oriente e Ocidente para a Coexistência Humana”, a convite do rei daquele país muçulmano e da pequena comunidade católica local.
A visita, que se prolonga até domingo, dia 6, coincide com a realização, naquele território, do encontro do Conselho Muçulmano de Anciãos, uma organização representativa dos líderes religiosos muçulmanos comprometidos com o diálogo e o respeito pelas religiões. Coincide igualmente com um encontro ecuménico que junta numerosos representantes de diferentes países.
O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, vê esta viagem papal no mesmo espírito da que levou Francisco a Abu Dhabi, em 2019, e que se traduziu na assinatura do documento “A fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivência comum”, em conjunto com o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, e que o levou já a Marrocos, ao Iraque, aos Emiratos Árabes Unidos, ao Egito, ao Azerbaijão e, no início de outubro último, ao Cazaquistão.
Essa linha de continuidade, frisa o cardeal Parolin em entrevista ao Vatican News, “é simplesmente para dizer que entre Deus e o ódio, entre religião e violência, existe uma incompatibilidade absoluta, existe uma impossibilidade de qualquer contato e de qualquer conciliação, porque quem aceita o ódio e a violência distorce a própria natureza da religião”.
Numa entrevista ao mesmo site, Paul Hinder, Administrador Apostólico do Bahrein, reconhece que Francisco está a aproveitar a relação especial que tem com Ahmad Al-Tayyeb para continuar o diálogo com o mundo muçulmano. “Obviamente, ele não vai querer limitar-se a uma parte do mundo muçulmano e provavelmente também terá a oportunidade de aprofundar as relações, não apenas com os sunitas, mas também com os xiitas ou com outras tendências”, diz. O que para ele é claro é que o Papa pretende “melhorar as relações entre as religiões e encontrar uma base para a ação comum sobre as grandes questões da humanidade, que são a paz, a justiça, o clima e muitas outras coisas, incluindo, é claro, os direitos humanos”.
Esperança de que o Papa aborde os direitos humanos
A sistemática violação dos direitos humanos constitui um ponto crítico no Bahrein e de vários lados chegaram apelos para que o Papa não esqueça este assunto durante a visita. Parolin aborda este tema com diplomacia, observando que estes valores se encontram consagrados na Constituição do país e que, “como sempre”, Francisco “faz-se intérprete das profundas expectativas de tantas pessoas que não veem respeitados os seus direitos fundamentais”.
O Administrador Apostólico vai um pouco mais longe: “Penso que o Papa, com discrição, também falará sobre esta situação. Ele está ciente disso. É claro que coisas como esta provavelmente não terão a publicidade que algumas pessoas esperam. Mas do que conheço do Papa, ele não vai ficar calado e talvez não fale em público sobre tais assuntos que tanto têm indisposto os inimigos do atual Papa, ficou em evidência a afirmação de que o nome de Deus em caso algum pode ser usado para justificar a violência e a guerra. E este ponto, juntamente com o convite ao diálogo e à convivência em sociedades cada vez mais multiétnicas, multiculturais e multirreligiosas, tornam relevante mais esta deslocação do Papa, de acordo com o cardeal Parolin.
A comunidade católica no Bahrein
Neste pequeno Reino que se estende ao longo de um arquipélado de cerca de três dezenas de ilhas a umas dezenas de quilómetros da costa leste da Arábia Saudita, a esmagadora maioria da população é muçulmana. Os cristãos representam 10 por cento dos crentes e os católicos andam entre 80 e 100 mil pessoas. Grande parte dos seguidores de religiões que não a maioritária são diplomatas, empresários e trabalhadores permanentes ou temporários vindos de outros países e continentes.
Segundo o administrador apostólico, os católicos são oriundos especialmente da África, América, Índia, Filipinas e outros países, especialmente países vizinhos como o Líbano, a Jordânia e o Iraque. Por isso há comunidades de rito latino, siro-malabar, siro-malankar, maronita, sírio, etc., o que, no dizer do hierarca, “dá um aspeto particular à Igreja local”.
Apesar de o islão ser a religião oficial e de estar em vigor a sharia (lei islâmica), as comunidades religiosas gozam de liberdade. Ao contrário de outros países muçulmanos, há vários lugares de culto das diferentes confissões no país. A Igreja Católica tem duas paróquias, administra uma escola e, além do culto, dedica-se a obras sociais.
O programa de Francisco inclui, além de uma oração ecuménica e de encontros com o Conselho de Anciãos Muçulmanos e com o imã Al-Tayeb, a missa no Estádio Nacional de Bahrein e o encontro com os jovens na Escola do Sagrado Coração.
Além da capital, Manama, Francisco viajará até à cidade de Avali, onde, há cerca de um ano, foi consagrada a Catedral de Nossa Senhora da Arábia, que tem a particularidade de ter nos alicerces uma pedra da Porta Santa da Basílica de São Pedro, que foi doada pelo próprio Papa Francisco.
Marcas dos portugueses no reino
O Bahrein é uma monarquia constitucional que se tornou independente do Reino Unido em 1971. Com uma área de 780 quilómetros quadrados, tem uma população de perto de 1,5 milhões de pessoas. Hoje, o poder económico do reino vem sobretudo da exploração do petróleo, descoberto em 1932.
A título de informação e curiosidade, o Bahrein possui, perto da capital, um monumento com influência portuguesa e que está hoje classificado com património da humanidade: o forte de Barém (aportuguesamento de Bahrein).
Já existia como forte desde muito antes. As armadas portuguesas cedo se aperceberam do valor estratégico e económico da ilha principal do sultanato e conquistaram-na em 1521, tendo sido expulsos cerca de 80 anos depois. Durante esse tempo reconstruiram o forte, sob a orientação de um arquiteto de Óbidos que deixou a sua marca em vários outros empreendimentos de Portugal e Brasil.
A ilha, famosa pelas suas pérolas, ficou registada por Camões, no canto X de Os Lusíadas, como “(…) a ilha Barém, que o fundo ornado / Tem das suas perlas ricas, e imitantes / À cor da Aurora”.
Uma descrição sucinta do Bahrein pode ser consultada no site e-Cultura, do Centro Nacional de Cultura.
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