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domingo, 11 de agosto de 2019

Os jovens e a abstenção

O símbolo do euro iluminado, junto da sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt: “É preciso perder tempo a explicar e a ensinar e também é preciso que os jovens procurem informar-se.” Foto © António Marujo
68,6%: foi esse o valor da abstenção a nível nacional para as eleições europeias de 2019. Pela Europa, em média, os valores são mais baixos e conheceram uma digna diminuição em relação às eleições de 2014. No entanto, é inequívoco que a Europa e Portugal têm uma tarefa grande pela frente. Mais grave se torna o cenário olhando para a abstenção jovem em Portugal. De resto, várias instituições, com base nos vergonhosos números de 2014, lançaram campanhas de apelo ao voto, sobretudo, jovem. Criaram-se trends, postsnas redes sociais, fizeram-se vídeos. Simples, com apenas uma frase, longos e complexos, pedagógicos e organizados. No entanto, e saudando imenso os esforços que foram feitos e ainda não conhecendo os números com precisão, não me parece que tenha havido uma mudança extraordinária e estrutural.
A geração mais qualificada de sempre; aquela que tem mais facilidade em aceder à informação (também à desinformação, diga-se); a geração que usufrui do programa Erasmus, que viaja vezes sem conta sem usar um passaporte, que estudou em escolas altamente equipadas com financiamento europeu, que vai ser realmente afetada por um futuro que ainda parece incerto, é essa mesma geração que fica em casa na hora de votar.
Procurei perceber junto dos meus amigos o porquê deste fenómeno. Fui ouvindo comentários de vária ordem: desde o “são todos iguais” até “sabes, política não é bem a minha cena”. Em ambos os casos, não tenho dúvidas de que são comentários que apenas tentam colocar o peso da responsabilidade na política que, supostamente, não cativa o suficiente. Havia 17 programas políticos a ir a votos nestas eleições: socialistas, comunistas, verdes, liberais, conservadores, europeístas, eurocéticos, crentes numa Europa de Nações, crentes numa Europa mais integrada, etc., etc. Não acredito que nenhum conseguisse ser minimamente “a cena” de cada um. Na verdade, esta posição tenta esconder uma responsabilização, que não se quer assumir, de que não se procurou informação ou que não se tem consciência exata de como a decisão política tem impacto nas suas vidas.
Talvez a roupinha lavada e a comida na mesa ou a paz europeia como dado garantido, ainda que inseguro, faça com que os jovens não se apercebam dos incentivos que têm para olhar para a política. Porque eles existem, de facto, falta percebê-los. Se se tem conseguido construir uma juventude, por exemplo, ambientalmente consciente no geral, porque não temos conseguido com o mesmo sucesso construir uma consciência política semelhante? Quando falo de consciência política não é necessariamente pertencer a um partido ou, sequer, ter uma ideologia definida. É saber lidar e participar no processo político, mesmo que apenas enquanto cidadãos.
As várias instituições (a nível europeu e nacional) têm de começar a procurar ensinar cidadania e processos de participação e envolvência política. Da mesma forma como na escola se apela a criar e realizar atividades ligadas ao ambiente, nas quais se faz uma consciencialização para a problemática desde cedo em aula que, de resto, tem sido bem-sucedida. Saber como funciona um Parlamento, quais são os vários órgãos fundamentais do país e da UE, como é que eles afetam as nossas vidas, etc., também é essencial.
É preciso perdermos tempo a explicar e a ensinar, várias vezes, ao longo do tempo em que a criança/jovem vai desenvolvendo a sua personalidade e noção do Mundo. Com paciência. Para que, chegados à hora de votar, não pareça tarde de mais. Mas é também preciso que, tendo a informação à distância de um clique, os jovens procurem informar-se. Ou pelo menos que entendam que podem e devem fazê-lo. Ao trabalho.

João Catarino Campos é estudante de Economia no ISEG – Lisbon School of Economics and Management. joaopccampos24@gmail.com

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