“Já fui em Março e esta é uma boa oportunidade de os estudantes serem ouvidos”, diz ao 7MARGENS Violeta Guerreiro, jovem de 13 anos, que esta sexta-feira participa na manifestação da greve pelo clima que, um pouco por todo o mundo, levará milhões de jovens à rua para pedir medidas mais enérgicas na luta contra a emergência climática.
Em Portugal, há iniciativas previstas em 50 cidades e vilas, diz Matilde Alvim, 17 anos, estudante da área de Humanidades em Palmela, que integra o grupo que nos últimos dias tem estado a preparar a manifestação que, entre as 10h30 e as 14h, levará os jovens do Marquês de Pombal ao Largo de São Bento, frente ao Parlamento (continuando depois até final do dia, com várias outras actividades no mesmo local).
“A manifestação é um momento, com as crianças a faltar à escola”, diz Violeta, aluna do 7º ano no Conservatório. “Muitas pessoas não têm noção do que se está a passar com o ambiente, o aquecimento global e a poluição”, acrescenta. “As nossas vidas vão todas mudar em breve por causa deste problema e agora talvez já haja pessoas a perceber melhor o perigo”, acrescenta.
Violeta foi uma das pessoas que, estando já atenta ao que se passa, ficou mais sensibilizada também pelo gesto de Greta Thunberg, a jovem sueca de 16 anos que começou a faltar às aulas às sextas-feiras a pedir políticas mais enérgicas contra as alterações climáticas. “Sei que ela tem faltado às aulas todas as sextas-feiras e isso teve um grande impacto. Vários amigos começaram a juntar-se a ela e ficou famoso esse gesto que levou ainda mais gente a apoiá-la”, explica.
A jovem de Lisboa viu, depois, discursos de Greta “a explicar que o mundo está em perigo”, bem como fotos. Tudo isso a levou a mobilizar outros colegas e amigos – da sua turma de 15 alunos, sete estarão na manifestação de hoje em Lisboa. “Eu e uma amiga minha convencemos outros colegas a juntarem-se a nós e temos falado muito do assunto, não só com amigos, mas também com professores, devido a este movimento.”
Dar protagonismo aos jovens
“A iniciativa é dos estudantes e dos jovens, mas quanto mais solidários formos com eles, melhor, sem lhes tirar o protagonismo”, diz Francisco Ferreira, em declarações ao 7MARGENS, explicando o apoio da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável à iniciativa desta sexta-feira. Além da Zero, mais de 40 outras organizações também se declararam apoiantes da greve estudantil.
Matilde Alvim também se entusiasmou com o testemunho de Greta, mesmo se este era um assunto que já a interessava. “Nós só estamos a lutar por aquilo em que acreditamos, porque consideramos que é grave o que se passa. Todos os anos as emissões de gases aumentam, agravam-se os vários factores e, em termos de números, nada melhora”, diz, acerca das suas razões para se ter tornado uma militante da causa climática.
A manifestação continuará, depois das 14h, com várias actividades: uma assembleia para decidir próximas iniciativas, algumas acções da campanha Linha Vermelha, que através do tricô pretende chamar a atenção para a crise climática, e uma vigília final, que decorrerá até as pessoas dispersarem.
Estamos perante uma situação de efectiva “emergência”, acrescenta Francisco Ferreira. “Não somos só nós que o dizemos, também o secretário-geral das Nações Unidas tem dado voz a essa emergência, porque as acções dos políticos estão muito aquém do que é necessário e a mobilização dos cidadãos é crucial nesta altura em todas as frentes.”
“Não podemos ficar sentados a ver a crise a piorar”
No comunicado com que assinala o apoio à iniciativa estudantil, a Zero diz: “À medida que os impactos das alterações climáticas aceleram em todo omundo, não podemos ficar sentados a observar a crise a piorar. Pelo contrário, é fundamental levantarmo-nos e lutar pelo nosso futuro, exigindo uma ação urgente. Graças às ações persistentes e inspiradoras dos jovens ativistas climáticos, as manifestações climáticas tornaram-se o novo normal. Os jovens estão a trazer a sua frustração e esperança para as ruas e estão a desafiar os políticos para a sua falta de ação. Os protestos ganham imensa visibilidade e espalham-se por todo o mundo na maior mobilização climática de todos os tempos.”
Deste movimento, Francisco Ferreira espera que haja resultados e não apenas um comprometimento incoerente que não seja sério”. E dá um exemplo: “Não podemos querer reduzir emissões através de um conjunto de medidas e ver depois o transporte aéreo a crescer de forma avassaladora em toda a Europa, sem qualquer controlo”. O turismo é importante, diz, mas a política “ou é séria ou não terá as consequências positivas e necessárias que se pretende”.
O papel dos cidadãos, sendo importante, “não é suficiente”. É crucial “fazer campanhas”, acrescenta, exemplificando com o plástico, em que as medidas tomadas levaram as pessoas “a reagir de forma mais consciente e rápida”. O que significa “que as pessoas precisam de ter orientações políticas claras – nomeadamente do ponto de vista fiscal”.
Horas antes, o próprio testemunhara outro exemplo, numa visita a uma unidade em que se faz reciclagem de pilhas: “Porque há-de ser necessário ter todo o processo de reciclagem, quando poderíamos usar pilhas recarregáveis? Arranjamos sempre subterfúgios para adoptar soluções boas, quando podíamos ir para as soluções óptimas”. E conclui: “Não estamos em tempo de reticências, cada dia que passa já é um bocadinho mais tarde, são mais dias que vamos precisar de recuperar.”
“O acordar da sociedade”
Marcial Felgueiras,responsável da Cruzinha, centro de interpretação e investigação da associação A Rocha, no Algarve, também se declara solidário com a iniciativa estudantil. Organização ambientalista de inspiração cristã nascida em Portugal, A Rocha tem projectos na área do desenvolvimento sustentável, reflorestação, pesquisa científica, conservação e biodiversidade, educação ambiental, formação cristã ambiental e acção climática.
“Apoiamos a iniciativa, não tanto por causa da greve, mas porque ela traduz o acordar da sociedade. E está a começar por aqueles que não são ainda decisores, mas que são a geração que irá sofrer pela falta de coragem dos actuais governantes”, justifica. “É uma iniciativa corajosa, audaz, de louvar, e um sinal de esperança de uma juventude que parecia alheada e começa a acordar para a realidade.”
Sobre o papel dos cristãos, Marcial Felgueiras dá alguns exemplos: “Muitas vezes temos projectos globais e megalómanos sobre o que podemos fazer, mas lembro-me sempre das palavras de Jesus, sobre quem é o meu próximo. A resposta que ele dá é precisamente sobre aquilo que nos é próximo, por exemplo nas compras diárias: será que precisamos de todo o plástico que trazemos? Ou o que fazemos com gastos de água de torneiras, gastos de electricidade, carregadores que deixamos ligados, equipamentos que não desligamos…”
Essas são pequenas acções, acrescenta, “que não nos custam nada e até nos trarão benefícios: quanto menos energia consumirmos, mais dizemos à rede eléctrica que não é necessário produzir tanta e ficaremos cada vez mais autossuficientes com energia de fontes renováveis, o que se torna bom para nós, para o país e para o planeta”.
Referindo também a importância da alteração de políticas, o dirigente de A Rocha resume, sobre a responsabilidade individual: “Uma pequena acção multiplicada por milhões será benéfica; somos responsáveis pelas nossas decisões. E os cristãos, enquanto tal, podem fazer a diferença, com conhecimento, informação, sendo responsáveis por aquilo que podemos mudar. Há muito que já podemos fazer, sem precisar que os decisores nos venham dizer.”
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