Neste quarto artigo sobre os mistérios do nosso corpo,
a resposta é: “Crescei e multiplicai-vos,
enchei e dominai a terra.” Gén. 1, 28.
Chama-nos logo a atenção o facto de Deus, ao criar o
Homem, lhe ter dado três ordens subordinadas a uma primeira ordem. São elas:
1ª) Crescei
2ª) Multiplicai-vos,
3ª) Enchei a terra,
4ª) Dominai a
terra.
Antes de mais, é necessário crescer, isto é,
desenvolver-se física, intelectual e espiritualmente. É, decididamente, um
objectivo pessoal, para cada pessoa, mas não individual. O Homem não consegue crescer sozinho, é um ser que necessita
dos outros para se superar, para crescer. Deus criou-o assim desde o princípio,
por isso o fez Homem e Mulher. É desta companhia, de cada homem com a sua
mulher, que podem crescer em número; e é desta multidão de pessoas, cada uma
com capacidades próprias e únicas, que o Homem vai conseguir multiplicar-se,
encher e dominar a terra.
Parece-nos urgente lembrar aos homens do séc. XXI que
o nosso corpo está feito para manifestar a nossa adoração e serviço a Deus.
Alguém disse que “o corpo é o templo do
prazer”, mas estava enganado. Álcool, comida em excesso, sexo, drogas,
luxo... não lhe deram prazer. Não conseguiu esperar pela morte e suicidou-se. “Não há sistema mais seguro para não ser
felizes do que preocupar-se apenas com a sua própria felicidade. Pelo
contrário, o caminho para se ser feliz de verdade é preocupar-se com a
felicidade dos outros.” (Monsenhor Fernando Ocáriz, Tertúlia no
polidesportivo da Universidade de Navarra, 20 de Janeiro de 2018).
Assim, é compreensível que Jesus estivesse presente
numas bodas em Caná e que fizesse aí o seu primeiro milagre. Como não há de
Deus estar presente, sempre presente, na união de um homem com uma
mulher se foi Ele quem “criou” essa união? Deus está presente na união de cada
casal de modo discreto, sim, mas mais eficaz e poderoso do que o desse homem e
dessa mulher. Está presente desde o princípio, mediante o seu ato criador, e
continua a estar presente no momento em que cada nova vida é concebida. A
“novidade” de que outra pessoa vem a caminho só é conhecida por seus pais algum
tempo depois de ter sido gerada, mas Deus já tem um projeto para ela desde toda
a eternidade e só Ele sabe de que cor serão os seus olhos, que personalidade
terá, se será homem ou mulher... E é Deus quem dá a alma a cada corpo.
Os contos costumam terminar com a frase “casaram e
viveram felizes para sempre”. Claro que, humanamente falando, a frase fica
curta, pois o matrimónio é uma aventura cheia de muitos momentos felizes, mas
também de riscos imprevisíveis, cansaços e sofrimentos, mas é absolutamente
verdadeira se aí entendermos, no “para
sempre”, a vida depois da morte. Se recordarmos que o Homem é formado de
corpo e espírito, como vimos no primeiro artigo deste tema, e que o corpo está
feito para sofrer, obedecendo às exigências da sua consciência formada para o
bem, é fácil acreditar que essa realidade vai estar presente em todas as
circunstâncias da sua vida terrena. Também na união conjugal. Quando um jovem
começa a pensar em formar família, deve começar por formar-se a si
próprio, a saber exigir-se, a ser sóbrio, trabalhador, disciplinado, casto
(guardar-se para o cônjuge mesmo antes de o conhecer) e, sobretudo, disposto a
pensar mais na felicidade dos outros (cônjuge, filhos, pais, netos,
sobrinhos... patrões, empregados, colegas de trabalho...) que na própria
felicidade. Aqui está o segredo da “felicidade
para sempre”, ver Deus nos outros, naqueles que nos são mais próximos e
devem ser alimentados, educados, formados, protegidos... à custa de muitos
sacrifícios, sim, mas de muito amor. A união conjugal é o sinal da união de
Cristo com a sua Igreja. Assim como Cristo dá a sua vida pela Igreja, o povo de
Deus, o Homem e a Mulher devem dar a sua vida um pelo outro, passar a sua vida um
com o outro, ajudando-se mutuamente a crescer, a serem melhores, e a ajudarem
os outros a crescer.
Os casais que assim pensam e vivem são os que estão
mais capazes de entender que haja outra forma, mais sublime ainda, de dar a vida.
Refiro-me aos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos que renunciam ao
matrimónio, “se fazem eunucos pelo reino
dos céus” e geram e formam filhos espirituais.
Isabel Vasco Costa
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