Um pequeno grande livro, um
romance em que o autor aborda quase tudo sobre a vida e a morte, num reduzido
número de páginas.
A cadência duma
vida normal de trabalho, de família e de sucesso, fazem do herói desta obra um
homem vulgar, banal, satisfeito, feliz e serenamente instalado, sem necessidade
de se interrogar sobre o sentido da sua existência.
A
rotina e a alienação, a banalidade dos afectos e a obcessão pelo trabalho, por
um futuro económica e social mais rico, risonho e despreocupado preenchem a
totalidade dos dias e das noites. O desejo de ter era a sua constante, sem
jamais se preocupar com algo menos material, ou seja, com o sentido da sua
existência ou com a realidade da finitude da sua vida.
Porém,
um mal-estar físico, presságio de doença, começa-o a abalar psicológica e
espiritualmente, vê-se confrontado com algumas limitações, seguidas por
reacções muito pouco compreensivas e generosas por parte dos seus. O mal-estar,
torna-se dor, a solidão é a sua companheira e os seus afastam-se sem dó nem
piedade.
A
desumanidade instala-se em seu redor, e cada vez mais perto da morte, resta-lhe
a solidão, que é a sua dor maior. Muito perto do temido “minuto final”, quase
moribundo e sofrendo atrozmente, no corpo e na alma, encontra alívio no seu
jovem criado Guarassim que o assiste,
conforta, faz companhia, lhe dá palavras de alento e lhe dedica um afecto
desinteressado. Ele é o único que nada lhe esconde, não lhe mente e nada pede
em troca.
Também
o jovem filho se abeira do leito da morte de seu pai, e estas presenças são
suficientes para que a paz e a serenidade invadam o espirito do moribundo, que
com alguma ironia pergunta, se afinal a morte era simplesmente o que lhe estava
a acontecer. E serenamente esticou-se e morreu, aquele que não obstante a dor,
a revolta e inconformismo ou o medo da morte, vivia com medo de morrer e não
pedia para lhe encurtarem os dias finais.
Maria Susana Mexia |
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