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terça-feira, 27 de março de 2018

Músicas que falam com Deus (42): As Sete Últimas Palavras e outras músicas para uma Semana Maior


segunda-feira, 26 de março de 2018


As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz, de
Joseph Haydn, é a obra que o Quarteto Lacerda e o actor Luís Miguel Cintra, como recitante, executarão nestaquarta-feira, 28 de Março, às 19h, no Convento dos Cardaes, em Lisboa. A obra de Haydn foi composta para as celebrações de Sexta-Feira Santa na Igreja de Santa Cueva, na cidade de Cádis (sul de Espanha), em 1787.

Na apresentação do programa, pode ler-se: “Quer na sua versão sinfónica quer
na sua versão para quarteto de cordas a obra surpreende pela extrema delicadeza com que vai acompanhando, nos diferentes andamentos, as palavras de Cristo referidas na Bíblia. Nesta interpretação, o Quarteto Lacerda faz anteceder a cada um dos andamentos, uma voz de narrador que profere as citações do texto dos diferentes evangelistas e reintegram a obra no seu contexto religioso e revelam em Haydn uma surpreendente clareza teológica. O concerto quase adquire o carácter de uma celebração.”

Para recriar esse carácter celebrativo (*), a obra será executada por Alexander Stewart (primeiro violino), Regina Aires (segundo violino), Paul Wakabayashi (viola) e 
Luís André Ferreira (violoncelo), além da recitação de Luís Miguel Cintra, noConvento dos CardaesConstruído entre os séculos XVII e XVIII, o convento 
é um complexo notável da arquitectura e decoração barroca e, como diz a apresentação do programa, “resistiu ao terramoto, à extinção das Ordens Religiosas em 1833 e, posteriormente, à expulsão pela República”. Hoje, é a casa onde habitam 38 pessoas deficientes e uma comunidade religiosa de cinco irmãs dominicanas. “A Igreja é um repositório das artes decorativas do período barroco português, notável pela talha, pela pintura, pelos mármores embutidos e por uma considerável colecção de azulejos holandeses assinados.”

Mas nem só desta obra de Haydn se faz a arte desta Semana Santa. A Paixão Segundo São Mateus, de Bach, pode ser vista e ouvida também em Lisboa (Fundação Gulbenkian), entre hoje e quarta-feira; o III Festival de Música Religiosa, de Guimarães, encerra dia 31 (sábado), com o Requiem, de João Domingos Bontempo; obras de Bach e Händel serão tocadas no dia 28, na Casa da Música, no Porto; e Quinta-Feira Santa, dia 29, o CCB acolhe a Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, que executam o Stabat Mater, de Rossini.

Mais informações sobre estes programas podem ser lidas aqui (com a ressalva de que duas das sugestões ali referidas já decorreram no último fim-de-semana).

Foi também com a ideia da recriação que Jordi Savall e o seu Le Concert des Nations gravaram Septem Verba Christi in Cruce, de Joseph Haydn, na mesma igreja para a qual ela foi composta. Desse trabalho resultou um DVD, publicado em 2009, com comentários do escritor José Saramago e do filósofo e teólogo Raimon Panikkar. Essa gravação é histórica, como escreve Richard Edwards no livro que acompanha o disco: pela primeira vez, uma interpretação da versão original da obra para orquestra foi filmada no mesmo lugar onde ocorreu a estreia d’As Sete Últimas Palavras, em Cádis. Mais ainda, a realização tentou recriar o ambiente que terá existido na primeira execução. A gravação acrescenta também, ao texto musical de Haydn, as reflexões de Pannikar e Saramago (é interessante ver o Nobel expressar aqui as suas dúvidas sobre Deus – quando coloca Jesus a perguntar, por exemplo, “Quem sou eu?”). O DVD inclui ainda imagens da Semana Santa andaluza, intercaladas com momentos da gravação. SeAs Sete Últimas Palavras já é uma das obras mais intensas sobre a Paixão de Jesus, esta edição é verdadeiramente um tesouro. A introdução e os sete andamentos da peça, na execução de Le Concert des Nations dirigido por Savall, podem ser escutados aqui em versão de concerto (que não dispensa a audição do DVD).

Ilustração: Crucificação, de José de Ribera (1591-1652), imagem utilizada na capa do DVD de Jordi Savall, reproduzida daqui; o texto sobre o DVD é adaptado do artigo publicado na revista Além-Mar, de Dezembro de 2009




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