sábado, 31 de março de 2018
Ilustração: Bernadette Lopez (Berna), reproduzida daqui
Os cristãos vivem neste Sábado Santo o dia do grande silêncio. Referem-se aqui quatro textos sobre o sentido destes dias de Páscoa.
No seu blogue, Domingos Faria escrevia sobre Um modelo da Eucaristia filosoficamente inteligível:
O que estou a defender é o seguinte: a presença de Cristo na Eucaristia, nos elementos do pão e do vinho, é um facto institucional que se obtém em virtude da sua instituição na última ceia pela declaração (...) do próprio Cristo. E isso é um evento novo que não ocorria antes dessa declaração. Ou seja, só passou a haver presença de Cristo na Eucaristia nos elementos do pão e do vinho depois dessa convenção institucional. (...)
Com esta argumentação, se for plausível, temos um modelo filosoficamente inteligível da Eucaristia e evitamos compromissos com teorias metafísicas muito controversas. O objectivo é ter um modelo filosófica e religiosamente adequado, bem como ontologicamente minimalista. Mas será isto plausível?
Sexta, no DN, sob o título Sexta-Feira Santa, Anselmo Borges reflectia acerca do sentido da Páscoa de Jesus:
Há uma dívida incomensurável para com as vítimas inocentes, aqueles e aquelas que não viveram, multidões de homens, mulheres, crianças, talvez a maioria, cuja existência foi esmagada pelo opróbrio, a miséria, a ignomínia, o esquecimento mortal. Elas clamam por justiça. Mas quem fará justiça? A Escola Crítica de Frankfurt foi decisivamente marcada por esta pergunta. Por isso, M. Horkheimer ansiava pelo "totalmente Outro"; W. Benjamin declarou que não é possível pensar a história sem teologia; Jürgen Habermas, neste contexto, escreveu, citando J. Glebe-Möller: "Se desejarmos manter a solidariedade com todos os outros, incluindo os mortos, temos de reclamar uma realidade que esteja para lá do aqui e do agora e que possa vincular-nos também para lá da nossa morte com aqueles que, apesar da sua inocência, foram destruídos antes de nós. E a esta realidade a tradição cristã chama Deus." Aquele que tudo pode recriar, a partir do nada, para a Vida.
No jornal Voz da Verdade, Vítor Gonçalves escreve sobre Ver e acreditar, tomando o Domingo da Ressurreição:
Vemos a generosidade dos que amam e servem com alegria,
e acreditamos que o Ressuscitado nos recorda como o Pai não desiste de ninguém.
Vemos a maravilha de inventores e criadores de beleza,
e acreditamos que o Ressuscitado leva o fogo do Espírito onde ainda é noite e faz frio.
Vemos os lentos passos para a justiça e para a paz,
e acreditamos que o Ressuscitado multiplica o nosso dom total.
Também no mesmo jornal, Alexandre Palma escreve sobre a Novidade da Páscoa:
A Páscoa oferece-se, precisamente, como novidade. Assim a apresenta o próprio Ressuscitado: «Eis que faço novas todas as coisas» (Ap 21, 5)! Sendo passagem, ela é-o para uma «nova Jerusalém», para «odres novos», para uma «nova Aliança», para uma «nova humanidade», para uma «vida nova». Ela é profecia plena de uma novidade possível, porque simultaneamente seu anúncio e realidade. E é-o, ainda, na forma como o novo não é nela uma revolução, mas recriação. Nela se consolida, sim, essa confiança de que algo novo é desejável, de que algo de bom é possível. Mas também que tal se alcança pela transformação do que existe e não pela sua destruição ou, sequer, pela sua substituição. A vida nova do Ressuscitado é a transformação em Deus de toda a sua história precedente. Não é a sua anulação, mas a sua definitiva renovação.
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