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terça-feira, 20 de março de 2018

A Ciência e os Seus Inimigos

Aparentemente pode parecer exagero ou bizarro, mas um facto é que a Ciência, com todo o seu empenho, trabalho e esforço para acrescentar mais conhecimento ao saber que já se possui, vai originando no seu percurso manifestações que lhe são adversas, senão mesmo, contrárias, nocivas e demolidoras.

“Vivemos num tempo indiscutivelmente marcado pela ciência: praticamente toda a nossa vida depende do conhecimento científico, através da tecnologia que dele bebe. Hoje é possível fazer um telefonema com imagem para qualquer sítio do planeta. Servimo‑nos de fontes de energia renováveis como o vento e o sol. Usamos materiais com propriedades extraordinárias feitos à medida de necessidades específicas. Tomamos antibióticos que curam rotineiramente infecções que ao longo da história foram fatais. Por causa das vacinas que as previnem, há doenças de que já nem nos lembramos. Sujeitamo‑nos, se necessário, a complexos transplantes de órgãos que nos podem salvar a vida. Foram anos e anos de desenvolvimento da ciência e da tecnologia que permitiram as nossas actuais condições de vida. E, previsivelmente, será a continuação desse esforço que nos permitirá uma vida ainda mais longa e melhor.

No entanto, e paradoxalmente, vivemos num mundo onde a ciência tem cada vez mais inimigos, alguns deles em degraus altos da escada do poder”.

Mas que inimigos serão esses que põem em perigo o saber e o trabalho do cientista e, quiçá, o nosso próprio espaço democrático do qual somos tão ciosos? 

Em A Ciência e os Seus Inimigos, de Carlos Fiolhais e David Marçal, da colecção Ciência Aberta da editora Gradiva em 2017, são inumerados alguns destes grandes obstáculos ao progresso científico, a saber: os ditadores, os ignorantes, os fundamentalistas, os vendilhões, os exploradores do medo, os obscurantistas e os cientistas tresmalhados.

Com um estilo que lhes é muito peculiar, os autores não deixam de nos suscitar a reflexão para o emergir de sérias contradições que se têm expandido de forma irracional, alertando-nos para as pseudociências, crendices e superstições que pululam à nossa volta, de forma insidiosa e sedutora, sob uma carapaça científica. 

Acto de coragem abordar tais temas com tanta frontalidade, num tempo de pós verdade, onde impera o relativismo e a falsidade.

Ser cientista também é revelar a verdade, independentemente do desconforto que poderá provocar aos "inimigos da ciência".

Aflorando as relações entre ciência e religião deixam-nos bem clara uma mensagem de interajuda e cooperação, não obstante os seus métodos diferentes, mas sempre em consonância com a procura da verdade e o bem da humanidade.

Sob o manto popperiano aliada ao bom senso, amor ao saber e coragem de partilhar certezas, anseios e perplexidades, este livro é um excelente meio de aprender, de compreender e de apreender algumas realidades que se interpõem nas nossas vidas sem nos deixarem perceber como poderão ser nocivas e clivantes na nossa realidade. 

“A ciência tem-nos permitido viver cada vez mais e melhor. Mas enfrenta hoje sérios adversários, que põem em causa a nossa segurança e o nosso bem-estar. Impõe-se por isso a defesa da ciência, que é também a defesa da democracia. A ciência precisa da liberdade de pensamento que é marca das democracias. Mas as democracias também precisam da razão da ciência para assegurar prosperidade e bem-estar. A defesa da ciência é também a defesa da sociedade livre e aberta”.

Maria Susana Mexia







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