O Santuário de Nossa Senhora da Luz data de 1463, altura em que foi descoberta a Imagem de Nossa Senhora da Luz, na fonte da Luz, por Pero Martins, no dia 8 de Setembro (dia da festa da Natividade da Virgem Maria) desse ano. A lenda refere que em sonhos lhe aparecera Nossa Senhora, quando se encontrava preso, aureolada por uma luz intensa. Terá aparecido durante cerca de 30 dias, e ter-lhe-á dito que seria libertado das suas algemas, que fizesse sobre a Fonte do Machado uma Ermida sob a invocação de Nossa Senhora da Luz, onde o Seu nome seria glorificado e feitas muitas maravilhas e milagres por Sua intercessão a pedido das pessoas devotas. Referiu ainda que no mesmo local encontraria muita luz e claridade bem como uma imagem Sua. Pero Martins foi liberto e cumpriu a sua promessa. Na Ermida que viria a construir, ofereceria as algemas a Nossa Senhora. Na parede existiu um fresco onde se lia: “Reconfortado por uma aparição da Virgem, de Africa Pedro regressa à Pátria livre das algemas”. Sabe-se ainda que pela calada da noite se dirigiu, acompanhado pela mulher e um primo, à Fonte do Machado, onde encontraram, depois de remover um monte de pedras e o mato, sobre uma laje de mármore, a imagem de Nossa Senhora. Que emoção, que alegria indescritível! Todos os carnidenses se mobilizaram para a construção da Ermida. O próprio Pero Martins venderia alguma “fazenda” que possuía no Algarve por parte de sua mulher. Sabe-se que em 1464, já seria inaugurada e abençoada a Ermida de Nossa Senhora da Luz, pelo bispo de Lisboa, contando com a presença do Rei D. Afonso V, a Corte e muita população. Foi nesta data instituída a Irmandade da Senhora da Luz, que se incumbiria da conservação da Ermida contando com a presença do rei D. Afonso V, do Bispo de Lisboa e das mais ilustres casas de Portugal. Na carta enviada pelo Rei D. João III datada de 17 de Novembro de 1543 ao seu embaixador em Roma, refere: ”A Ermida de Nossa Senhora é de muito grandíssima romagem, assim da gente de Lisboa e seu termo, como de todo o Reino, e de estrangeiros que à dita cidade vêm por suas mercadorias e tratos e têm à dita casa de Nossa Senhora muito grande devoção e por muitos dias do ano correm à casa de Nossa Senhora grande número de gente, e continuamente, todos os dias, vem a ela gente de diversos lugares e partes”. (Corpo Diplomático Português, vol. V. Lisboa, 1874, p.242).
A bela e culta Infanta D. Maria, filha do Rei D. Manuel I, muito devota da Nossa Senhora da Luz, terá colocado Carnide a fazer definitivamente parte da história do país. Pela sua mão branda protetora e carinhosa seria a fundadora da Igreja da Luz, mandando construir uma magnífica igreja em honra e para culto de Nossa Senhora. Foi incumbido o arquiteto Jerónimo de Leão de fazer “a traça desse santuário, que a Infanta recomendou “que fosse das melhores cousas da Europa”, lançando a Infanta a primeira pedra, no dia de Santo António, 13 de Junho de 1575. Começaram as obras pela capela-mor. A Infanta andava entusiasmadíssima ao ver crescer as paredes. No entanto, viria a falecer em 10 de Outubro de 1577 e a Igreja ficaria apenas concluída em 1596. No dia 9 de Setembro foi sobremaneira imponente a procissão da trasladação da sagrada imagem de Nossa Senhora do antigo para o novo e rico trono. Esteve presente o governador do Reino, o Arquiduque Alberto. Presidiu às celebrações o Bispo resignatário de S. Tomé, D. Frei Martinho de Ulhoa, antigo prior do Mosteiro da Luz, que fazia nesse ano 100 anos de idade. A imagem da Senhora apresentava-se belíssima no seu vestido de tela branca e com a coroa de ouro, que a Infanta D. Maria lhe havia oferecido. Foi impressionante a afluência da população. “As estradas de Sintra, de Lisboa, do Lumiar, bem como todas as azinhagas que dessem acesso ao santuário da Luz pareciam autênticos formigueiros de gente”. Chegada a imagem da Senhora da Luz ao seu novo santuário foi o bispo D. Frei Martinho que retirou a imagem do andor colocando-a no trono encomendado propositadamente ao arquiteto Jerónimo de Ruão. A Infanta D. Maria seria perpetuada no quadro existente na capela no lado esquerdo, de arco em cruz deste santuário, de autor desconhecido, denominado “retábulo de S. Bento dando a Regra aos monges”. A Infanta de aspeto juvenil, ocupa o primeiro plano à direita. Passados 17 anos após o seu falecimento, a Infanta D. Maria, iria finalmente repousar ao centro da capela-mor de Nossa Senhora da Luz, em simples mausoléu, sem qualquer inscrição, de acordo com a sua expressa vontade. No entanto está gravada uma lápide alusiva na parede do lado esquerdo do arco-cruzeiro. Por outro lado, pensa-se que possivelmente quando o seu túmulo passou a ser considerado monumento nacional, ou por altura do restauro ou ainda quando se instalou a sede da paróquia, o seu testamento foi contrariado, com uma nova pedra tumular.
Infelizmente o terramoto que assolou a cidade de Lisboa em 1755, destruiria parte deste grandioso Santuário da Luz, mais precisamente a sua nave central, a qual não seria reconstruída. O corpo da Igreja situava-se no local, onde hoje se situa o seu adro. Contudo, devemos dar graças a Deus por ter mantido a parte principal, ou seja, a Capela-mor. O frontispício que hoje possui datado de 1870, nada tem a ver com o inicial, não deixando perceber a grandiosidade do interior. No entanto, na fachada lateral do lado esquerdo, existe um arco em cantaria que emoldura a bica da fonte ladeado por duas cruzes embebidas na parede. O brasão, coroado, em relevo saliente é o da Infanta D. Maria. Ladeando o brasão, vêem-se duas placas de mármore rosa com legendas alusivas à história do templo. Sobre o brasão está um nicho com a imagem em mármore de Nossa Senhora da Luz. De referir ainda, que da capela primitiva nada restou. Mas em remodelações posteriores da Ermida da Luz, preservaram-se vestígios manuelinos do arco, que emoldura a fonte de mergulho e os azulejos hispano-árabes da escadaria que lhe permite o seu acesso. Constituem testemunhos arqueológicos notáveis, encravados no corpo da Igreja-sul, a nível inferior ao atual pavimento e cujo acesso é feito através do exterior. O que mais nos chama a atenção ao entrar, é todo o conjunto do retábulo e do altar-mor, considerado monumento nacional no dia 16 de Junho de 1910, constituindo uma joia preciosíssima da Igreja. São oito os quadros do pintor Francisco Venegas que o compõem, com representações da vida da Virgem Maria. Esta grandiosa obra é sem dúvida uma das mais importantes manifestações de talha do fim do século XVI.
A procissão das velas tem lugar no dia 7 setembro em que sai a Imagem de Nossa Senhora da Luz. A procissão de Nossa Senhora da Luz, acontece no último domingo de setembro. Congratulei-me por ter feito a romaria a este magnífico Santuário de Nossa Senhora da Luz de Carnide. Se Deus quiser, em Setembro, participarei nas procissões. Agradeço toda a informação que me foi facultada pelo Santuário, que permitiu a elaboração deste resumido artigo. Por fim, menciono a oração constante na pagela de Nossa Senhora da Luz de Carnide: “Nossa Senhora da Luz, vós que fizestes descer tantas graças de Deus sobre a pobre humanidade, sede sempre a estrela que brilha nas trevas da nossa vida. Mãe admirável, volvei para nós o vosso olhar bondoso e atendei-nos em todas as nossas necessidades. Nossa Senhora da Luz, nós temos confiança em Vós. Dai a paz ao mundo, protegei as nossas famílias, amparai-nos em horas de aflição, robustecei a nossa fé e alcançai-nos a perseverança final. Avé Maria”.
Maria Helena Paes |
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