Movida pela fé por esta Virgem belíssima cuja imagem data do século XVII, tendo sido encomendada pelo Príncipe de Cândia “a um primoroso escultor” (Frei Agostinho de Santa Maria, fiz-me ao caminho no dia 26 de Maio de 2017, pelas 21h30, até à Igreja Paroquial da Porta do Céu. Ao chegar, deparei-me com uma inscrição sobre a porta que referia: “Este templo é de Maria e chama-se Porta do Céu. Esta casa tal como foi anteriormente construída pelo Príncipe de Cândia, foi derrubada pelo terramoto… Dominus Deus, Deus meus”. Uma e outra vez somos confrontados com uma realidade que nos ultrapassa. Como gostaria de ter conhecido a Igreja original. Mas a vida é mesmo assim, ou seja, devemos dar graças a Deus por apesar da igreja ter sofrido tantas vicissitudes ao longo da sua vida secular, ainda se encontra a cumprir a nobre missão para a qual foi edificada. Na realidade, torna-se mais fácil destruir do que construir mantendo viva a sua história. Bem, mas não venho hoje contar novamente a sua história, mas sim participar na procissão, que se realiza desde o ano 2004. Chegou o momento de honrar e prestar as devidas honras à Nossa Senhora da Porta do Céu, ou seja, à nossa Mãe do Céu.
Quando entrei na Igreja, deparei-me com um andor todo decorado com flores brancas. Que lindo se apresentava! Nossa Senhora, parecia feliz, enquanto anfitriã, à espera dos paroquianos que viessem render-lhe uma homenagem, mas também, para agradecer e pedir a sua intercessão, para as suas intenções e necessidades. Os seus olhos brilhavam, o Menino ao colo, parecia recordar-nos que, apesar de pequenino, tão humilde, era filho de Deus. E Maria tinha em suas mãos uma chave de prata, ou seja, a chave da Porta do Céu. Nos tempos idos, a chave circulava entre as casas dos doentes da zona, sendo em particular depositada nas mãos dos moribundos, para que Nossa Senhora lhes abrisse a Porta do Céu. Trata-se de uma invocação não usual como padroeira de uma igreja, embora já utilizada desde os primeiros cristãos. Recordei a oração do século IV, que consta na sua pagela: “À vossa proteção nos acolhemos Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas nas necessidades, mas livrai-nos de todos os perigos Virgem gloriosa e bendita. Nossa Senhora da Porta do Céu, rogai por nós”.
O sacerdote, entretanto, deu início à Procissão. Um grupo de escuteiros, alguns muito jovens, deram o seu valioso contributo e testemunho, sendo os primeiros a sair, precedendo o andor de Nossa Senhora. Acenderam-se as velas. Que emoção, o andor da Nossa Senhora da Porta do Céu, iria percorrer durante mais de uma hora as ruas do bairro das Telheiras, acompanhada pelos seus paroquianos. Tão simples, contudo tão profundo o alcance desta procissão. Recordei uma frase do Santo Padre na sua recente deslocação a Fátima. “Queridos peregrinos, temos Mãe. Agarrados a ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus pois,… aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo… Como uma âncora, fundemos a nossa esperança nessa humanidade colocada nos Céus à direita do Pai. Seja esta esperança a alavanca da vida de todos nós! Uma esperança que nos sustente até ao último suspiro”.
A imagem de Nossa Senhora da Porta do Céu continuava a percorrer as ruas de Telheiras ao som de cânticos, orações, recitação do Terço, de meditações, muito iluminada pela luz das velas dos participantes. Por fim voltaria à sua Igreja para que Nossa Senhora entrasse em primeiro lugar para nos receber. Entretanto foi rezada a Ladainha a Nossa Senhora. E mais uma vez, Maria com o seu filho tão afável recebeu-nos em Sua casa, feliz pela iniciativa, pela participação, e certamente com as orações de todos os fiéis, guardadas no seu Santíssimo coração; a chave da porta do céu brilhava, recordando-nos que um dia nos aguardariam no céu. É bem certo que por Maria se vai a Jesus. Os paroquianos de pé firme cantaram os últimos cânticos à Virgem. O sacerdote depois de ter feito todos os agradecimentos, convidou-os a levarem para suas casas, como recordação, uma flor do andor. Ao escrever este artigo tenho-a bem perto de mim aos pés de Nossa Senhora.
Como o Papa referiu: “Sob a proteção de Maria, sejamos no mundo, sentinelas da madrugada… e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor”.
Maria Helena Paes |
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