Temos vindo a ser confrontados, envolvidos por uma gigantesca crise global, sem precedentes, que nos coloca múltiplas interrogações: - Crise económica?! Moral?! Financeira?! De confiança?! Ou antes uma crise alicerçada na ausência de um sólido fundo ético na economia global?!
O que quer que seja ou tenha sido, a realidade concreta vem-se manifestando em graves dificuldades agora experimentadas por milhões de pessoas em todo o mundo…
Dificuldades que reclamam respostas autenticamente humanas para solucionar problemas morais, o que determina que a ética tem de continuar a investigar o que é o homem, o que é a sociedade, o que é a justiça. E não pode fazê-lo sem se referir a essas realidades que toda a gente conhece: a consciência e a lei moral. Estudar ética é, por isso, contribuir para a primeira, e primordial formação humana: a formação da consciência.
Formação da consciência que é obrigação do cristão e do não cristão…
O principal dever ético – conhecer a lei moral e cumpri-la –, é algo que aparece perante qualquer ser humano pelo facto de o ser.
De facto, a ética foi cultivada por pensadores de todos os tempos – e os mais antigos remontam, pelo menos, a dez ou doze séculos antes de Cristo – conscientes de que, sem moral, não pode haver dignidade humana.
Reconhecemos que os problemas morais da existência humana se têm multiplicado nos últimos tempos, devido às circunstâncias históricas do tipo de produção económica, de cultura, de produção científica, investigação. Problemas diante dos quais são possíveis duas respostas. A primeira é simplesmente conjuntural, episódica, superficial. Trata-se de se opor, caso a caso, ao que se considera mal, mas sem ter um quadro de referência, um esquema ou hierarquia de valores. A segunda tenta chegar ao âmago, mediante o estudo das autênticas dimensões da ética, isto é, mediante a atenção ao que é o homem, ao que deve ser e deve fazer…
A Ética, ao contrário de outras ciências, pretende e consegue estabelecer quais são os modos de comportamento autenticamente humanos.
Mantém uma relação muito estreita com a política. E como a política é assunto de todos – é a gestão do bem comum –, a todos nos interessa saber quais são os principais temas éticos que aparecem neste campo. A ética trata de factos, mas de factos relacionados com uma norma ou lei, que diz o que se deve fazer e o que se deve evitar. O âmbito desta ciência teórica e prática, é a sociedade.
Isto mesmo já foi dito por Aristóteles naquela célebre frase que define o homem como um “animal político”, quer dizer “social por natureza”.
Assim, a participação dos homens / mulheres na vida política constitui um imperativo moral, uma vez que sem essa participação, não será possível a existência de uma sociedade que torne possível a vida verdadeiramente humana. De modo particular, os cristãos não podem abdicar de participar na vida política, que compreende a promoção e defesa de bens como a ordem pública e a paz, a liberdade e a igualdade, o respeito pela vida humana, a justiça e a solidariedade.
Em Portugal, esta exigência de participação torna-se cada vez mais urgente…
O Papa João Paulo II dizia por ocasião do 25.º aniversário do seu pontificado: “Os cristãos não podem fugir à política; antes a devem compreender e assumir como uma das dimensões da sua existência terrena. A política, em si, não é, nem deixa de ser má; só o é, quando aqueles que a fazem, a fazem mal ou para o mal – e, exactamente, para que isso não aconteça (ou para que aconteça menos) é que os cristãos devem participar na política”.
Ética e Globalização: Depois de todos os progressos e retrocessos dos últimos anos, sabemos que um sexto da população mundial vive em países muito pobres e grande parte no limiar da pobreza! O que fazer? E como fazer?!
A promoção do bem comum, apoiado no respeito da dignidade da pessoa humana e reconhecido como o principal objetivo dos sistemas de produção e comércio, das instituições políticas e bem-estar social, é um dos princípios indispensáveis que visa uma configuração ética integral para a vida económica.
Trata-se, como bem afirma o Papa Emérito, Bento XVI, de uma exigência simultaneamente, da caridade e da verdade.
São, por conseguinte, os valores presentes nas civilizações os verdadeiros responsáveis pelo destino do futuro mundial nas próximas décadas e séculos. Se a justiça e a solidariedade prevalecerem sobre a riqueza e o poder, ainda há esperança para o nosso futuro comum.
Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário
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