Sim, tenho noção
de que esta palavra não está de moda... a não ser para os outros: “Tens de responsabilizar-te pelo teu trabalho
e chegar a horas...”; “Tens de responsabilizar-te pela tua vida e estudar”;
etc. No entanto, durante uma agradável conversa, constatei que esta virtude gerou
santos. Apercebi-me de que é a virtude das pessoas apaixonadas, a virtude do
amor, e confesso que passei a preferir esta expressão, responsabilidade, à palavra amor que é muitas vezes usada no
sentido instintivo, sensual e até ... de espectáculo, como são as manifestações
amorosas em público que chegam a imitar comportamentos animalescos, cada vez
mais afastados das atitudes protectoras e discretas próprias dos homens para com
as suas amadas e a sociedade em geral[1].
Vamos pois em defesa da responsabilidade.
Saulo era um jovem cheio de energia e
com enorme sentido de responsabilidade.
Pretendia defender a verdadeira fé, aquela que aprendera no lar paterno e na
sinagoga. Para isso, teve o cuidado de o fazer legalmente, munindo-se dos
documentos necessários para poder prender e levar para Jerusalém os habitantes
de Damasco que professavam uma crença “herética”, o cristianismo. Estava
enganado no que dizia respeito ao cristianismo, mas Deus reconheceu a rectidão
de intenção das suas ações – o amor a Deus sobre todas as coisas – manifestada
numa ação violenta, sim, mas plena de sentido de responsabilidade, virtude esta presente na vida dos santos, como a
deste jovem que veio a ser S. Paulo.
Também S. Francisco se responsabilizou
por algo que não tinha percebido bem: reconstruir a Igreja, com maiúscula. Para
ele, tão pobre e ainda inexperiente, a reconstrução da igreja de S. Damião,
então em ruínas, já era obra de grande envergadura, uma responsabilidade que
abraçou como vinda do céu. Foi nesse sentido de responsabilidade que Deus reconheceu nele o homem capaz de fundar a
ordem mendicante dos franciscanos que “reconstruiu” a sua Igreja.
Arrisco-me a afirmar que S. Tomás Moro
foi mártir devido ao seu sentido responsabilidade.
Esta virtude inclui “senso”, discernimento, capacidade de julgar... a ponto de
aceitar que se pode não ter razão, enganar-se, porque o único que nunca se
engana é Deus. Esta certeza leva a uma enorme tranquilidade de espírito. É
difícil compreender, no séc. XXI, que o jovem Tomás, chegado à idade de casar,
tenha tomado a atitude responsável de contrair matrimónio, não com a jovem para
a qual se sentia inclinado, mas com a sua irmã mais velha, como era costume na época.
Ao ficar viúvo, Moro chegou a casar-se com esta cunhada, mas a sua vontade
aceitou novas responsabilidades: o bem do seu rei, Henrique VIII, e do seu
povo, o britânico. A sua cabeça levou-o a perceber onde estava a razão que leva
à verdadeira e eterna felicidade – não na vontade do rei, sim na vontade
divina. Foi esta razão, este sentido de responsabilidade, que levou o rei a
ordenar que fosse decapitado.
Neste dia em que escrevo, não posso
esquecer a responsabilidade
(insólita, mas necessária) de Stº António, manifestada num conhecido episódio
da sua vida. Refiro-me ao momento em que Frei António[2]
se apercebeu de que o povo estava ausente da igreja. Desgostoso por constatar
tal desinteresse em ouvir a palavra de Deus, e para que se não perdesse a doutrina,
preparou um sermão dirigido aos peixes. Esta necessidade de pregar, este
sentido da responsabilidade que Deus infundiu no seu frade com um certo toque
de bom humor, foi premiado com uma enorme assistência de peixes que o foram
ouvir, mantendo as cabeças fora de água e recebendo este alento novo que os
homens tinham repudiado.
Junho, tempo de amores? Tempo de responsabilidades.
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