Num café da manhã de trabalho entre diplomatas e jornalistas destaca-se o papel da Santa Sé e problemas concretos na abertura de Cuba ao
mundo
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(De Izq A Derecha) El Periodista Val, El Embajador Ayala Y El Profesor Argentieri (Foto ZENIT) |
A restauração das relações entre Cuba e os Estados Unidos, o papel da
China na região, e as mudanças na agenda internacional são as questões
que foram tratadas nesta sexta-feira em um café da manhã de trabalho em
Roma, no hotel NH Giustiniani, entre os embaixadores e jornalistas,
organizado pelo observatório Mediatrends América.
O professor da John Cabot, Federigo Argentieri, que definiu-se quase
“como um filho da guerra fria”, abordou a importância do aspecto
geracional entre Havana e Washington e considerou que o papel da Igreja
Católica tem sido muito importante, como destacaram todos os meios,
“porque tinha todos os dados do problema e podia falar de forma adequada
com uma e outra parte”. Considerou, entretanto, que na abertura, “o
caminho foi aberto pelo papa Wojtyla”.
O novo elemento, destacou, é que Obama respeita Cuba e sem ser
obsequioso trata-a como um país, com a sua dignidade, história, política
e tradições. “Apesar de ainda ser uma ditadura, não das piores, dá para
pensar nos anos 80”, disse.
O professor, que ensina história e política internacional na
Universidade Americana em Roma, destacou que a visita de Obama não
encontrou oposições, nem sequer a do candidato republicado Donald Trump,
que apesar de ter uma tendência pelas polémicas, considerou melhor não
entrar no tema.
O jornalista espanhol Eusebio Val, correspondente em Roma do jornal
La Vanguardia, ao tomar a palavra definiu a viagem de Obama, como “o
fato mais importante dos últimos tempos na América Latina”, com “a
coincidência de um Papa argentino que faz de mediador”.
O correspondente da media catalã destacou, além do mais, que a
abertura da Havana para Washington levanta uma preocupação em seu país,
no sentido de “que a Espanha perca pela segunda vez Cuba”, como
aconteceu com a independência em 1889, pois fez um esforço de
investimento muito grande e existe a clara possibilidade de um
desembarque económico dos EUA.
O correspondente espanhol, que na década de 90 trabalhava na
Alemanha, fez um paralelo, não exacto mas importante, entre a
reunificação alemã e a Cuba actual: de um lado um país com um regime
totalitário e do outro uma comunidade cubana no exílio que cresceu em
uma sociedade aberta, capitalista.
Eusebio Val disse que, após a queda do Muro de Berlim, houve uma
queda da economia da Europa Oriental e um desembarque de empresa da
Alemanha Ocidental, causando no Leste a sensação de piora, porque o
oeste ‘invadia’ com as suas empresas.
“Vejo sérias dificuldades, políticas, económicas e psicológicas, para
que uma população que viveu por muitos anos com um sistema determinado
possa mudar. Mas também esperança de que a coisa possa correr bem”,
disse.
Comentou também que quando estava como correspondente nos Estados
Unidos, falando sobre a vida dos imigrantes escutou que se dizia: “Aqui
se vive mal, mas se sofre bem”, embora percam rapidamente o idioma e a
cultura herdada. Acrescentou que não existe um lobby latino-americano,
mas sim cubano.
Sobre os hispânicos nos Estados Unidos alguém observou o paradoxo de
que, quando são ilegais são democratas e quando conseguem o green card
(autorização de residência) tornam-se republicanos e sobre a capacidade
do multiculturalismo dos EUA que é surpreendente.
Verificou-se também que, actualmente, os cubanos nos Estados Unidos,
que chegaram depois dos anos 90, são mais numerosos do que os da
primeira emigração, e têm um contacto mais fluído com os seus parentes em
Cuba e até começaram a investir.
O jornalista da Vanguardia, que acompanhou o Papa na sua viagem a
Cuba, depois de elogiar aspectos já conhecidos, considerou que faltou
uma menção aos dissidentes. Acrescentou que com justo motivo o Santo
Padre faz uma crítica feroz ao sistema económico dominante, ao sistema
financeiro, mas que falta animar as classes médias, para que se firme e
criem negócios, “porque isso é fundamental para criar uma democracia que
funcione sem ficar à mercê dos populismos”, disse. Concluiu destacando
que a Secretaria de Estado teve também um papel muito positivo na
abertura de Cuba.
Por sua parte, o embaixador do Chile, Fernando Ayala, destacou que
estão acontecendo coisas impensáveis há 30 anos. Como que a República
Popular Chinesa está incomodando os Estados Unidos; ver os Rolling
Stones na Havana; que a direcção dada pelos presidentes Lula, Chávez e
Kirchner estejam entrando em uma fase de mudança, ou o preço do petróleo
que despencou.
Destacou que na América Latina existe um positivo processo de
integração de instâncias, e um desejo de maior intercâmbio regional, de
mercadoria e pessoas. “Tenho muita confiança – concluiu – no que está
acontecendo na América Latina, o que é indispensável são os direitos
humanos, aprofundar a democracia e a liberdade”.
in
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