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domingo, 3 de abril de 2016

Cuba e Estados Unidos: desafios e esperanças

Num café da manhã de trabalho entre diplomatas e jornalistas destaca-se o papel da Santa Sé e problemas concretos na abertura de Cuba ao mundo


(De Izq A Derecha) El Periodista Val, El Embajador Ayala Y El Profesor Argentieri (Foto ZENIT)
A restauração das relações entre Cuba e os Estados Unidos, o papel da China na região, e as mudanças na agenda internacional são as questões que foram tratadas nesta sexta-feira em um café da manhã de trabalho em Roma, no hotel NH Giustiniani, entre os embaixadores e jornalistas, organizado pelo observatório Mediatrends América.

O professor da John Cabot, Federigo Argentieri, que definiu-se quase “como um filho da guerra fria”, abordou a importância do aspecto geracional entre Havana e Washington e considerou que o papel da Igreja Católica tem sido muito importante, como destacaram todos os meios, “porque tinha todos os dados do problema e podia falar de forma adequada com uma e outra parte”. Considerou, entretanto, que na abertura, “o caminho foi aberto pelo papa Wojtyla”.

O novo elemento, destacou, é que Obama respeita Cuba e sem ser obsequioso trata-a como um país, com a sua dignidade, história, política e tradições. “Apesar de ainda ser uma ditadura, não das piores, dá para pensar nos anos 80”, disse.

O professor, que ensina história e política internacional na Universidade Americana em Roma, destacou que a visita de Obama não encontrou oposições, nem sequer a do candidato republicado Donald Trump, que apesar de ter uma tendência pelas polémicas, considerou melhor não entrar no tema.

O jornalista espanhol Eusebio Val, correspondente em Roma do jornal La Vanguardia, ao tomar a palavra definiu a viagem de Obama, como “o fato mais importante dos últimos tempos na América Latina”, com “a coincidência de um Papa argentino que faz de mediador”.

O correspondente da media catalã destacou, além do mais, que a abertura da Havana para Washington levanta uma preocupação em seu país, no sentido de “que a Espanha perca pela segunda vez Cuba”, como aconteceu com a independência em 1889, pois fez um esforço de investimento muito grande e existe a clara possibilidade de um desembarque económico dos EUA.

O correspondente espanhol, que na década de 90 trabalhava na Alemanha, fez um paralelo,  não exacto mas importante, entre a reunificação alemã e a Cuba actual: de um lado um país com um regime totalitário e do outro uma comunidade cubana no exílio que cresceu em uma sociedade aberta, capitalista.
Eusebio Val disse que, após a queda do Muro de Berlim, houve uma queda da economia da Europa Oriental e um desembarque de empresa da Alemanha Ocidental, causando no Leste a sensação de piora, porque o oeste ‘invadia’ com as suas empresas.

“Vejo sérias dificuldades, políticas, económicas e psicológicas, para que uma população que viveu por muitos anos com um sistema determinado possa mudar. Mas também esperança de que a coisa possa correr bem”, disse.

Comentou também que quando estava como correspondente nos Estados Unidos, falando sobre a vida dos imigrantes escutou que se dizia: “Aqui se vive mal, mas se sofre bem”, embora percam rapidamente o idioma e a cultura herdada. Acrescentou que não existe um lobby latino-americano, mas sim cubano.

Sobre os hispânicos nos Estados Unidos alguém observou o paradoxo de que, quando são ilegais são democratas e quando conseguem o green card (autorização de residência) tornam-se republicanos e sobre a capacidade do multiculturalismo dos EUA que é surpreendente.

Verificou-se também que, actualmente, os cubanos nos Estados Unidos, que chegaram depois dos anos 90, são mais numerosos do que os da primeira emigração, e têm um contacto mais fluído com os seus parentes em Cuba e até começaram a investir.

O jornalista da Vanguardia, que acompanhou o Papa na sua viagem a Cuba, depois de elogiar aspectos já conhecidos, considerou que faltou uma menção aos dissidentes. Acrescentou que com justo motivo o Santo Padre faz uma crítica feroz ao sistema económico dominante, ao sistema financeiro, mas que falta animar as classes médias, para que se firme e criem negócios, “porque isso é fundamental para criar uma democracia que funcione sem ficar à mercê dos populismos”, disse. Concluiu destacando que a Secretaria de Estado teve também um papel muito positivo na abertura de Cuba.

Por sua parte, o embaixador do Chile, Fernando Ayala, destacou que estão acontecendo coisas impensáveis há 30 anos. Como que a República Popular Chinesa está incomodando os Estados Unidos; ver os Rolling Stones na Havana; que a direcção dada pelos presidentes Lula, Chávez e Kirchner estejam entrando em uma fase de mudança, ou o preço do petróleo que despencou.

Destacou que na América Latina existe um positivo processo de integração de instâncias, e um desejo de maior intercâmbio regional, de mercadoria e pessoas. “Tenho muita confiança – concluiu – no que está acontecendo na América Latina, o que é indispensável são os direitos humanos, aprofundar a democracia e a liberdade”.


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