Pelo menos 100 das 114 conferências episcopais católicas fizeram já chegar a Roma as respetivas sínteses da primeira fase da consulta sinodal, “Um diálogo sem precedentes na história de Igreja” à escala planetária que deverá ter envolvido, até agora, em números redondos, 20 milhões de pessoas.
Estes dados foram divulgados esta sexta-feira no Vaticano pelo cardeal Jean-Claude Hollerich, que é relator-geral do Sínodo dos Bispos, além de presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Europa, numa conferência de imprensa acompanhada pelo 7Margens, que se destinou a fazer um ponto de situação da realização do Sínodo sobre a Sinodalidade e apresentar a segunda etapa do processo – de âmbito continental.
O encontro com os jornalistas foi presencial e por videoconferência e contou com a participação dos três membros do secretariado-geral do Sínodo, que é presidido pelo cardeal Mario Grech.
“Há um ano, recordou este purpurado, o Sínodo era uma folha em branco. Neste tempo decorrido, fez-se uma auscultação inédita no interior da Igreja Católica e fora dela e houve espaço para o discernimento dos pastores. O caminho feito mostrou uma igreja viva e uma comunidade que celebra a alegria do Evangelho”, disse. “Mas não temos a ilusão de que o princípio da consulta se tenha aplicado com o mesmo vigor em todas as dioceses”- acrescentou o cardeal, numa alusão evidente a bispos e padres que se mantiveram reticentes neste processo.
O cardeal Hollerich falou, a seguir, do “impressionante entusiasmo” que sentiu na multiplicidade de grupos sinodais que se constituíram nos contextos mais diversos. Agradeceu a todos os que participaram, sublinhando também o papel dos institutos religiosos, de movimentos e associações e até de vários dos dicastérios da Cúria. “Yes, the Church is in Synod” [Sim, a Igreja está em Sínodo], exclamou, referindo as centenas de milhares de encontros sinodais e as 110 mil respostas resultantes desses grupos, mas sublinhando a riqueza desses contributos.
“As nossas paróquias não poderão ser as mesmas depois de terem passado por esta experiência”, acrescentou o cardeal que é também arcebispo do Luxemburgo.
Ambos os vice-presidentes do secretariado-geral, o bispo Luis Marin e a religiosa xaveriana Nathalie Becquart, exprimiram uma avaliação global amplamente positiva, que fizeram quer a partir dos muitos contactos, presenças e ações no terreno, quer através da leitura das sínteses que foram chegando.
Luis Marin mostrou-se convicto de que a Igreja está já “num processo irreversível, com diferentes velocidades, cheio de nuances e esclarecimentos necessários, mas sem retorno”.
Nathalie Becquart, por sua vez, acrescentou ter sentido “um grande desejo de prosseguir” o processo sinodal e enalteceu as auscultações que apostaram em nas questões das mulheres, em ambientes problemáticos como os estabelecimentos prisionais, bem como iniciativas sinodais de envolvimento das crianças. Destacou ainda o quanto a sensibilizou a participação nesta fase de do Sínodo de países que se encontram em situações muito difíceis, exemplificando com os casos da Nicarágua, Ucrânia, Haiti, Líbano, República Centro-Africana, entre outros. Terminou com a frase de um jovem que se lamentava e, ao mesmo tempo, congratulava de ter sido a primeira vez que foi solicitado a pronunciar-se sobre a Igreja.
Segue-se, agora, a fase continental que já vai poder ter por base um instrumento de trabalho (instrumentum laboris) que é a síntese geral que um grupo de trabalho está a iniciar, a partir das sínteses nacionais e de muitas outras que chegaram (e ainda irão chegar – os Estados Unidos da América, por exemplo, só enviarão a sua na próxima semana) ao secretariado geral.
Ao nível de cada continente, os bispos são convidados a dinamizar assembleias com lideranças continentais, procurando sublinhar, a partir das sínteses nacionais e do Instrumentum Laboris, as preocupações e sonhos comuns, as particularidades e os pontos que, enquanto realidade específica, gostariam de levar ao Sínodo dos bispos, em outubro de 2023.
O cardeal Grech foi bastante enfático ao sublinhar perante os jornalistas que há toda a vantagem em fazer voltar às igrejas locais tanto a síntese nacional como a síntese continental que vier a ser produzida. Isto para enriquecer a “circularidade” que deve existir entre a “profecia” e o “discernimento”, observou. Até para colmatar eventuais lacunas que os sucessivos processos de filtragem possam ter deixado em aberto, como também frisou.
No período de perguntas e respostas, um momento significativo aconteceu quando um jornalista confrontou o cardeal Hollerich com declarações que prestou em várias entrevistas, nos últimos meses, em que defendeu posições em matérias fraturantes, que poderiam colidir com a doutrina da Igreja. O cardeal relator geral do Sínodo dos Bispos aproveitou para esclarecer que entende que o que tem defendido não toca na doutrina; que, no exercício das suas funções sinodais, não tem “uma agenda própria”; e que terá, enquanto relator, uma atitude de abertura e de escuta.
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