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terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Nós e a Lei de Deus

Palavra e Pão 85……………………………….………………………..VI Domingo do Tempo Comum


1 – Querer é poder! Esta expressão, tantas vezes repetida pelos que triunfam na vida, é, na realidade, desmentida pela grande maioria das pessoas que na juventude sonharam transformar o mundo, mas que, chegando aos quarenta anos, se veem integradas nesta sociedade, assim como é, e acabam por justificar o que antes criticavam. Querer é poder? Na carta aos Romanos (7,18) podemos ler esta afirmação de S. Paulo: querer o bem, está ao meu alcance, mas praticá-lo, não. É importante querer fazer o bem, é necessário querer praticar os mandamentos da Lei, mas isso não basta, pois, só por nós, como S. Paulo afirma, não temos capacidade para os praticar.
Reparemos agora nestas palavras do livro de Ben-Sirá que escutaremos na Eucaristia do próximo domingo: Se quiseres, podes guardar os mandamentos (Eclo. 15,16). Se as interpretamos ao pé da letra, sem mais, contrastam com o que diz S. Paulo e com a nossa experiência concreta. Afinal, posso ou não praticar o bem, posso ou não guardar os mandamentos?
2 - Isso depende, basicamente, da maneira como ouvimos a Palavra de Deus. Se a recebes num coração apertado como algo que te é imposto, como um peso que não desejas suportar mas que aceitas obrigado pela necessidade ou pelo medo, compreende-se que a abandones, logo que te seja possível.  De facto, cumprir a Lei resume-se a amar, e amar é dar a vida, é morrer para que o outro viva. E morrer para mim mesmo, digamo-lo sem rodeios, assusta-nos, mete-nos medo.
Nós cristãos, vemos a Lei como Boa Notícia, como Evangelho, como estrada aberta no meio da selva que, limitando-nos embora, nos leva ao nosso destino. Se a recebes como promessa e como dom do Senhor e expressão do Seu amor por ti, certamente correrás pelo caminho dos Seus mandamentos, porque Ele deu largas ao teu coração (cf. Sl 119, 32). Mas se entendes a vida cristã como um perfecionismo e não como caminho de conversão, e se as repetidas quedas no pecado te convencem de que não podes, pelas tuas forças, cumprir plenamente a Lei de Deus, esse convencimento poderá levar-te à indiferença, à hipocrisia e ao desespero ou, então, a acreditar seriamente em Jesus Cristo. A fé n’Ele mergulha-te, batiza-te na Sua Morte e Ressurreição para te dar o Seu Espírito Santo e fazer assim que as Suas obras aconteçam na tua vida, tal como Ele nos prometeu: em verdade, em verdade vos digo, quem crê em Mim fará também as obras que Eu faço, e fará obras ainda maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai (Jo 14, 12).
3 - Que vos parece, irmãos? Poderá alguém colher maçãs de uma macieira pequenina recém plantada? É preciso tempo. Deixai-a crescer! Poderá uma criança de doze anos descarregar uma camioneta carregada com sacos de cimento? Contando apenas com as suas forças, é claro que não. Mas se essa criança dispõe de um monta-cargas e sabe lidar com ele, certamente poderá descarregar a camioneta. Com a força do Espírito Santo, podemos cumprir os Mandamentos da Lei de Deus, mas quem vive fechado em si mesmo, sem o Espírito Santo, não pode cumprir a Lei. Quem poderá, de facto, amar a Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma e com todas as suas forças? Um único, o Filho de Deus feito Homem, Jesus Cristo, amou assim o Pai. Fazendo-nos participantes da Sua mesma Vida de Filho Único, Jesus Cristo oferece-nos a graça de participarmos da Sua vitória sobre a morte e assim, unidos a Ele, podemos amar a Deus e ao próximo, como Ele nos mandou. Esta Sabedoria divina, desconhecida pelos grandes do mundo, é clara para nós cristãos, e não por sermos ou nos julgarmos mais inteligentes que os outros, mas por nos ter sido misericordiosamente revelada pelo Senhor, como S. Paulo nos diz na 2ª. leitura da Missa do próximo domingo.
4 – Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, diz-nos o Senhor no Evangelho; não vim revogar, mas completar (Mt 5, 17-37). Várias vezes acusado de não cumprir a Lei, Jesus, de facto, deu-lhe pleno cumprimento morrendo na Cruz em obediência amorosa ao Pai e por amor de nós. No Sermão da Montanha, Cristo apresenta-Se como autor e Senhor da Lei, e dá-nos alguns exemplos de como Ele a interpreta, exemplos enquadrados pela expressão: Ouvistes que foi dito aos antigos… Eu, porém, digo-vos… Em relação ao quinto mandamento, não matarás, Jesus acrescenta: Todo aquele que se irar contra seu irmão será submetido a julgamento. Em relação ao sexto, não cometerás adultério, Jesus afirma que todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela no seu coração. Em relação ao oitavo mandamento, não faltarás ao que tiveres jurado, o Senhor manda que não juremos em caso algum. Como vemos, Jesus leva-nos a  ver e a reconhecer o pecado não apenas pelos seus frutos, mas pelas suas raízes que estão em nós, já antes de fisicamente o praticarmos.  
Perante estas palavras do Senhor, quem não se reconhecerá como assassino, adúltero e mentiroso? O humilde reconhecimento das doenças profundas da nossa alma deve levar-nos a confiar em Cristo, o único Salvador. Acreditar n’Ele lava-nos do pecado e concede-nos a Sua graça. Ele é o único que, verdadeiramente, ilumina os nossos corações, nos liberta do pecado e nos conduz, na comunhão da Igreja, à Vida Eterna.

+ J. Marcos



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